Pouco eleitorado há a disputar num debate entre a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes e o dirigente do Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves, mas nem por isso o tom foi meigo. Num debate muito ideológico sobre a banca, as Parcerias Público-Privadas na saúde e o combate à corrupção, o momento mais alto foi mesmo quando os dois concordaram num ponto: na crítica a António Costa, que hoje acusou três sociais-democratas de liderarem uma campanha internacional contra Portugal. Mayan achou “inaceitável” e “indigno”, mas foi Ana Gomes quem foi mais longe comparando o primeiro-ministro a Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro.

“É o tipo de argumentos que Viktor Orbán usa para atacar quem o critica e o nosso primeiro-ministro é muito melhor do que isso. Por isso custou-me ver esse tipo de resposta a críticas”, disse Ana Gomes, sublinhando que o Governo devia ter reconhecido que errou no caso do procurador europeu e que o comité de seleção internacional é que devia ter escolhido o nome para o cargo. Uma crítica feroz atenuada com a ressalva de que “Costa é melhor do que aquilo que fez hoje”, mas que não foi inocente.

É certo que Ana Gomes não tem o apoio formal de Costa e do partido a que pertence nestas eleições, mas não é por isso que não se “assume como socialista” e que não “defende os valores socialistas”. Foi, de resto, à volta disso que girou todo o debate, com Tiago Mayan Gonçalves a terminar com uma pergunta à adversária sobre se não considera que o projeto político do PS para o país fracassou. Não só não fracassou como são as “perversões neo-liberais” e as políticas de “empobrecimento e de baixos salários” que estão a destruir a economia, defendeu Ana Gomes.

Ao “papão” do neo-liberalismo, Mayan respondia com neo-socialismo. “O neo-liberalismo não sei o que é, mas sei o que é o neo-socialismo, é pôr o Estado ao serviço de um aparelho partidário para servir os Césares, os primos e as cúpulas da JS”, atirava, acusando Ana Gomes de viver numa “realidade alternativa”.

Com visível vontade de atacar a adversária, Tiago Mayan Gonçalves ainda tiraria da manga a cartada ‘José Sócrates’, acusando Ana Gomes de ter “andado de braço dado” com o ex-primeiro-ministro, sem nunca terem “soado campainhas de alarme”. Ana Gomes até admitiu que na altura “não sabia da missa a metade”, mas aproveitou o momento para vincar que ao combate à corrupção é uma bandeira sua e que não se limita a falar do assunto, mas sim a colaborar com a justiça (“sem me sobrepor à justiça”) entregando denúncias fundamentadas sobre vários dossiês.

No final, e depois de ter defendido que era contra a “canibalização” dos privados ao SNS, Ana Gomes questionou Mayan Gonçalves sobre uma crítica que tinha feito, em entrevista ao Observador, à ministra da Saúde, acusando-a de ser responsável indireta pelas mortes Covid e não-Covid. “É insultuoso”, disse. Mas o candidato apoiado pelo Iniciativa Liberal não se ficou e insistiu na ideia da responsabilidade política: “A culpa das mortes não-Covid não pode morrer solteira”.

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