Uma variante detetada originalmente no Uganda foi, agora, encontrada na região de Andaluzia (Espanha), segundo o Ministério da Saúde e da Família da região. A variante, no entanto, já estará em circulação em Espanha desde meados de fevereiro.

A variante A.23.1 tinha sido registada no Uganda e, em casos “muitos isolados”, no Reino Unido, noticiou o jornal espanhol ABCdesevilla. A variante precisa ainda de ser mais estudada, mas as indicações no momento é que seja mais facilmente transmissível entre pessoas, tal como as variantes mais preocupantes que surgiram nos últimos meses.

Na Andaluzia, a variante mais comum neste momento é a britânica (B.1.1.7), que chega aos 90% em Granada, por exemplo, embora se registem também casos da variante sul-africana (B.1.351). Em Espanha. também existem registos da variante de Manaus (P.1).

A variante do Uganda domina a capital

A variante do Uganda foi descrita por cientistas ugandeses, em fevereiro, numa pré-publicação no site medRxiv. Apesar de apresentar semelhanças com a B.1.1.7 ou B.1.351, variantes da linhagem B, a variante A.23.1 do Uganda provem da linhagem A — é quase como termos duas crianças com semelhanças físicas entre si, mas que vêm de lados diferentes da família. Entre novembro e o final de janeiro foi detetada em seis países europeus, três asiáticos, um na Oceânia e num outro país africano, escrevem os autores sem, no entanto, identificarem os países.

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O primeiro caso de infeção com SARS-CoV-2 no Uganda foi registado em março de 2020. Os voos frequentes para a Europa, Reino Unido e Dubai, fizeram com que entrassem no país muitos vírus com características genéticas diferentes, escrevem os autores. E mesmo depois de suspensos os voos, o Uganda, como ponto de passagem importante de camionistas, acabou por continuar a ver entrar vírus diferentes.

“Dada a diversidade de linhagens de vírus encontradas no país de março a outubro de 2020, foi inesperado que de finais de dezembro de 2020 a janeiro de 2021 os vírus encontrados em Kampala [capital e maior cidade do país] foi quase exclusivamente da linhagem A e apenas um B.1”, escreveu a equipa de Matthew Cotten, investigador na unidade de investigação no Uganda (MRC/UVRI & LSHTM) e na Universidade de Glasgow (Escócia).

Em Kampala, a linhagem A passou de 25% entre junho e outubro para quase 100% no final do ano. A cidade é também o epicentro da pandemia no país, com 60 a 80% dos novos casos diários, entre junho de 2020 e janeiro de 2021, a serem registados nesta região.

A linhagem agora definida como A.23 (que depois deu origem à variante A.23.1), tem três mutações nos genes que codificam a proteína spike (que faz a ligação com as células humanas) — F157L, V367F e Q613H — e dominou os surtos nas prisões de Amuru e Kitgum. A V367F terá um impacto modesto no aumento da capacidade de infeção, mas a Q613H parece ter no vírus o mesmo impacto que a variante D614G que surgiu na linhagem B.1.

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Esta mutação D614G, que tem maior capacidade de transmissão, e a variante com esta mutação tornou-se dominante na Europa (incluindo Portugal) e Estados Unidos numa fase muito precoce da pandemia. Neste momento, em Portugal, já foi ultrapassada pela variante britânica.

A variante A.23.1 tem, além das mutações referidas para a linhagem A.23, uma outra mutação (P681R), que demonstrou nos ensaios de laboratório aumentar a capacidade do vírus se ligar às células humanas, logo potenciando a infeção. A variante B.1.1.7 também tem uma mutação semelhante (P681H). A variante ugandesa tem ainda outras mutações, noutros locais da proteína, que se assemelham às já identificadas para as variantes britânica, sul-africana e brasileia (de Manaus).

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A variante A.23.1 também terá a mutação E484K, também detetada nas variantes B.1.351 e P.1, supeita de fazer com que o vírus se consiga escapar aos anticorpos neutralizantes de pessoas que já estiveram infetadas ou já foram vacinadas, reportou o Business Insider, em fevereiro. Na altura, tinha sido registado 43 casos de A.23.1 no Reino Unido.