Fim do estado de emergência? Todos querem, mas ninguém o pode garantir. A frase é de José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, e até o Presidente da República a subscreveu aos vários partidos, durante as reuniões desta tarde. O certo, para já, é que o 15.º estado de emergência tem viabilização garantida pelo PSD, CDS e PAN, mas até o CDS já vai dando sinais que o apoio pode cair.

Cecília Anacoreta Correia, que reagiu depois de reunião com Marcelo afirmou que “já estava na hora de o Governo fazer um forcing, no que são as condições, para que o desconfinamento tenha sucesso” e o país não tenha que continuar numa situação de estado de emergência.

Apesar dos indicadores apontarem no sentido da continuidade do que está planeado para desconfinar, com maior alívio das restrições já na próxima semana, há ainda dúvidas em relação aos concelhos com maior incidência e o PSD é claro: “Se não travarmos aí daqui a um mês ou dois temos de travar o país todo. Acho que era prudente não desconfinarmos os concelhos piores e os que estão à volta”.

Rui Rio defende que o desconfinamento deve ficar em suspenso nos concelhos com maior incidência, bem como naquelas que com estes fazem fronteira, para que não seja necessário, dentro de pouco tempo, voltar atrás devido ao crescimento acelerado do número de casos oriundos desses concelhos.

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Rio recordou o objetivo de até à primeira semana de junho ter todas as pessoas com mais de 60 anos vacinadas e a garantia que isso dá ao SNS de poder continuar a providenciar os cuidados necessários já que 96% dos mortos por Covid-19 até hoje em Portugal tinham mais de 60 anos. O PSD pediu ainda um reforço da testagem à população e um maior controlo nos aeroportos.

Também o CDS pediu um maior controlo fronteiriço, para conseguir “monitorizar as novas estirpres” e um reforço da testagem. Preocupações, aliás, transversais aos vários partidos. No final da reunião, o Iniciativa Liberal somava ainda à equção dos testes e controlos nas fronteiras a vacinação considerando que é “crucial manter o sentido de urgência nos planos de testagem, rastreio e sobretudo de vacinação”.

“Os dados são positivos e justificam a continuação do desconfinamento”, afirma Cotrim Figueiredo, mas alertou que é necessário dar “a urgência necessária” nomeadamente ao plano de vacinação. Cotrim Figueiredo disse ainda que irá pedir a reapreciação parlamentar do diploma relativo ao teletrabalho, acrescentando que irá reunir com outros partidos para conseguir o apoio necessário à revisão.

O líder do Iniciativa Liberal disse que Marcelo “não se comprometeu” com o facto de esta renovação do estado de emergência ser a última. A expectativa existia já desde a última renovação, com Marcelo a admitir em março que o mês de maio podia marcar também o final do estado de emergência, mas para já ainda não ficou esse compromisso.

Já o Chega considera que “voltar atrás é criar um problema muito sério à sociedade e à economia portuguesa neste momento”.  “Apesar da situação de algum risco, que era expectável, para nós é importante que o processo de desconfinamento não pare”, disse André Ventura recordando também que “há setores da economia terrivelmente afetados”.

“Há elementos que podemos acentuar neste processo: aumentar a vacinação é fundamental. O Governo tinha prometido um número que está muito aquém, temos de continuar a vacinar é preciso testar massivamente nas escolas”, apontou Ventura defendendo o reforço de “apoios a setores desgraçados com a pandemia”.

Esquerda pede fim das patentes e um país mais pro-ativo na compra de vacinas

Quer PCP, quer o Partido Ecologista “Os Verdes” têm mantido uma postura muito crítica do estado de emergência, considerando-o dispensável. A novidade é que o Bloco de Esquerda, que tem optado pela abstenção, já parece ter esgotado a complacência e Catarina Martins disse esta tarde que “um país que possa estar desconfinado não precisa de estado de emergência”.

Numa declaração muito crítica das farmacêuticas e da forma como a União Europeia geriu a compra de vacinas para os Estados-membros, o comunista Jerónimo de Sousa alertou para a hipótese de Portugal ver “o processo de vacinação em causa se se mantiver agarrado às decisões da União Europeia”.

“Além da compra da vacina a Comissão Europeia está também a suportar o pagamento do desenvolvimento da vacina, o que é um negócio extremamente vantajoso para qualquer empresa”, notou o secretário-geral do PCP apontando três caminhos para que Portugal possa superar os obstáculos: “Criar condições para desenvolvimento de vacinas em território nacional; Suspender ou cancelar patentes se essa for a forma de romper com o bloqueio imposto pelas farmacêuticas; E diversificar os fornecedores de vacinas, lembrando que há um número crescente de países na UE recorrem, não se conformando com atrasos, incluindo a Alemanha”.

O PCP quer ainda que a solução para combater a Covid-19 não sejam sucessivos confinamentos, alternando com desconfinamento e notou que os estados de emergência “apenas têm servido para impor restrições à mobilidade dos portugueses, à atividade de micro, pequenas e médias empresas e à destruição do tecido cultural e desportivo num quadro em que estão por demonstrar a eficácia das medidas que têm sido adotadas”.

O Bloco de Esquerda começou por recordar a “importância da vacinação” e da continuidade do plano de desconfinamento que, entendendo no entanto que este deverá ser acompanhado do fim do estado de emergência.“Um país que possa estar desconfinado não precisa de estado de emergência. Se puder avançar sem nenhum tipo de outras medidas não tem sentido estarmos em estado de emergência, não deve haver banalização nem ser permanente”, considerou Catarina Martins.

Já em relação à demora na vacinação, a líder bloquista diz que é um problema não só nacional, mas europeu e que nesse contexto Portugal devia estar a pressionar para que a União Europeia avance para a compra de mais vacinas que sejam validadas pela EMA.

Sobre o processo de vacinação e avanços e recuos sobre a vacina da AstraZeneca — e agora da Johnson&Johnson — Catarina Martins disse ainda que “a forma como se tem gerido a questão dos efeitos secundários é irresponsável”. “Tanto quanto sabemos até agora não existe um risco acrescido de umas vacinas em relação a outras ou entre ser vacinado ou não vacinado”, apontou.

Os Verdes, que ouviram garantias relativas à segurança das escolas, pediram esta terça-feira que os planos que existem nos estabelecimentos possam exemplo para todos os locais públicos onde todos os portugueses circulam.

“Vamos aplicar planos nos locais de trabalho, teatros, espaços públicos, todos onde temos que circular para tornar as nossas rotinas seguras”, apelou Mariana Silva. A deputada diz ainda que o país tem “todas as condições para continuar o desconfinamento”, mas considera que o plano de vacinação “está a ser feito a passo de caracol”.

O PEV apelou, uma vez mais, à compra de vacinas “noutros fornecedores” para que Portugal possa “ter os mesmos números dos maiores de 80 anos em toda a população”.