Os países mais endividados da União Europeia, onde se inclui Portugal, devem aproveitar as taxas de juro historicamente baixas para emitir dívida mas, sublinha a Schroders, usar essa dívida da “melhor forma”, isto é, promovendo o crescimento económico e tendo a preocupação de “rapidamente” reduzir o défice público. Se isso não acontecer, esses países podem ser “castigados” pelos mercados com taxas de juro mais elevadas dentro de alguns anos.

O aviso da Schroders, uma das maiores e mais influentes gestoras de ativos do mundo, surgiu esta quarta-feira durante um webinar para falar sobre os impactos económicos da pandemia no longo prazo. Azad Zangana, economista sénior da Schroders que se dedica essencialmente à Europa, salientou que o ponto mais crucial para países como Portugal é a aposta em políticas públicas e investimentos com “os melhores multiplicadores“, ou seja, aqueles que têm um impacto direto mais expressivo sobre o crescimento económico.

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São essas políticas e esses investimentos que irão permitir, lembra o economista, reduzir os níveis de défice e de dívida pública mais rapidamente. E isso é importante porque “os investidores vão ser muito rápidos a detetar situações de possível insustentabilidade na dívida”, sobretudo se houver uma desaceleração económica após esta retoma que está em curso.

Os investidores vão voltar a perguntar: ‘porque é que hei de emprestar a ti em vez de emprestar ao teu vizinho'”, que tenha indicadores de endividamento melhores. Ou seja, “os países podem ser castigados com taxas de juro mais elevadas”.

A dada altura será necessário “retirar algum do apoio de emergência” à economia e vai ser importante demonstrar que se está a controlar o défice “rapidamente, dentro do que é razoável“.

Questionado pelo Observador também sobre a relevância dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, Azad Zangana reconheceu que “o que aconteceu no último ano, a nível europeu, foi algo extraordinário” – referindo-se à emissão de dívida europeia conjunta, algo que há alguns anos poderia parecer uma hipótese fora do baralho.

As taxas de juro da dívida portuguesa afastaram-se um pouco dos mínimos mas continuam em níveis historicamente baixos. Fonte: Trading Economics | Taxa das Obrigações do Tesouro a 10 anos

“Iniciativas como essa são especialmente importantes e úteis para países que entraram nesta crise com o menor espaço de manobra orçamental”, diz Azad Zangana, acrescentando que será interessante perceber se a emissão de dívida conjunta foi um acontecimento único, sem exemplo, ou “se é o início de uma caminhada progressiva até uma união orçamental europeia“.

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A Comissão Europeia anunciou, nesta quarta-feira, uma revisão em alta das projeções de crescimento económico para a esmagadora maioria dos estados-membros (e para o bloco europeu, como um todo) em 2021, mas para Portugal as previsões são exatamente as mesmas que foram apresentadas na primavera — um crescimento de 3,9% este ano.

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