A Comissão Europeia anunciou, nesta quarta-feira, uma revisão em alta das projeções de crescimento económico para a esmagadora maioria dos estados-membros (e para o bloco europeu, como um todo) em 2021, mas para Portugal as previsões são exatamente as mesmas que foram apresentadas na primavera — um crescimento de 3,9% este ano. Além de Portugal, apenas a Finlândia passou ao lado das melhorias para este ano (a Comissão mantém para os nórdicos 2,7%). No entanto, 11 países acabam por ter revisões em baixa no próximo ano, a que Portugal escapa, mantendo os mesmos 5,1%.
Isto significa que a economia portuguesa deverá crescer abaixo da média da UE e da zona Euro este ano (4,8%) — embora, em 2022, já fique seis décimas acima do desempenho europeu (4,5%).
Este é um dos destaques do relatório de Previsões Económicas de Verão, um documento que está ainda mais otimista sobre a retoma nos estados-membros. “A economia europeia deverá recuperar mais rapidamente do que se previa anteriormente, com a atividade no primeiro trimestre a superar as expectativas e a melhoria da situação sanitária a permitir um levantamento mais rápido das restrições no segundo trimestre”, pode ler-se no comunicado da Comissão Europeia.
Para 2021, tinha sido antecipado na primavera um crescimento de 4,3% na zona euro e de 4,4% na UE, mas agora a projeção de verão melhora para 4,8% em ambos os casos. E também há boas notícias para o ano seguinte — estava previsto um crescimento de 4,4%, mas deverá ser revisto em uma décima (para 4,5%) na zona euro e na União Europeia como um todo.
Bruxelas revê em baixa crescimento português este ano, mas espera que economia dispare no próximo
Portugal “no caminho certo”, mas pandemia contém otimismo
Para Portugal, as previsões mantêm-se como foram calculadas no último mês de maio e Bruxelas está confiante: “A economia de Portugal está no caminho certo para uma recuperação sólida a partir do segundo trimestre de 2021”, refere a Comissão. O executivo europeu está a ter em conta “o relaxamento gradual das restrições à pandemia” que tem sido aplicado desde abril, com oscilações. Mas também já regista o agravamento dos principais indicadores epidemiológicos no país, com o ritmo de recuperação “abrandado pela reimposição parcial de restrições temporárias em junho, que foi desencadeada por um ressurgimento de infeções”.
Questionado sobre esta evolução da pandemia na conferência de apresentação do relatório, em Bruxelas, o comissário para os Assuntos Económicos acrescenta que, quando o documento foi escrito, além do aumento de infeções, já estavam identificadas “algumas dificuldades no setor do turismo proveniente de outros países e algumas limitações na área de Lisboa” e que, por isso, ao contrário da generalidade dos estados-membros, Portugal passa ao lado das revisões em alta. Em todo o caso, Paolo Gentiloni nota que o documento da Comissão “é diferente da previsão do Banco de Portugal, que é mais otimista”, mostrando-se confiante nas estimativas de Bruxelas, porque “tem provavelmente em conta a evolução posterior da situação”.
Mas se há um agravamento das restrições, como é que as perspetivas económicas se mantêm? “Tenho a certeza que a disponibilidade do certificado [Covid digital] vai contribuir para uma melhor evolução, sobretudo para países como Portugal, fortemente ligados ao turismo internacional”, afirma Gentiloni. No relatório, a Comissão refere ainda o maior ritmo das campanhas de vacinação na Europa.
A questão do turismo é, ainda assim, “um grande ponto de interrogação”, reconhece o comissário. “Vamos ter uma forte época turística — estou absolutamente convencido disso —, mas vai ser diferenciado”, conforme os países de acolhimento, considera o Gentiloni, que antevê mais dificuldades de recuperação para o turismo de países com forte ligação aos mercados internacionais. “Isto é verdade para algumas áreas de Itália, mas especialmente para países como Grécia ou Portugal”.
A Comissão escreve ainda, por outro lado, que “a grande exposição do país ao turismo estrangeiro” está agora “amplamente compensada” pela possibilidade de a indústria vir a beneficiar de uma procura global ainda maior.
Para o segundo trimestre, Bruxelas estima uma melhoria do PIB em 3,3%, após uma queda de 3,2% no trimestre anterior (marcado pelo confinamento que terminou no início de abril), e acredita agora num crescimento adicional no terceiro trimestre.
Turismo nacional com 600.000 postos de trabalho e 60.000 milhões de euros em risco
Revisões em alta deixam de fora Portugal e Finlândia
A Comissão nota que os níveis de incerteza e de risco na UE “são elevados, mas, no geral, continuam equilibrados”, salientando o perigo associado às novas variantes do coronavírus, que demonstram a importância de “acelerar ainda mais as campanhas de vacinação”.
Além disso, Bruxelas reconhece que as taxas de inflação podem acabar por ser mais elevadas do que o previsto, se os constrangimentos nas cadeias de fornecimento revelarem ser mais persistentes e as pressões nos preços forem passadas para o consumidor de forma mais forte”.
Pelas contas da Comissão, a Roménia (7,4%) e a Irlanda (7,2%) são os países que mais devem crescer este ano. Seguem-se depois, na casa dos 6%, Hungria (6,3%), Espanha (6,2%) e França (6%).
Por outro lado, Finlândia (2,7%), Dinamarca (3%), Países Baixos (3,3%) e Alemanha (3,6%) são os estados-membros que menos deverão crescer em 2021, havendo apenas outros três países com piores perspetivas do que Portugal — Áustria, Letónia e Lituânia, todos com aumento de 3,8%.
No total, 25 países na UE tiveram agora revisões em alta para este ano — apenas Portugal e Finlândia ficaram de fora —, com destaque para a Irlanda, em que o PIB deverá subir 7,2% (e não 4,6%), uma diferença de 2,6 pontos percentuais; a Roménia (7,4% em vez de 5,1%); e a Estónia (2,8% em vez de 4,9%).
Para 2022, no entanto, o caso muda de figura, com 11 países a verem revista em baixa a perspetiva de crescimento. Destaque para Estónia (3,8% em vez de 5%), Bulgária (4,1% em vez de 4,7%) e Espanha (6,3% em vez de 6,8%), com os maiores cortes nas previsões. Espanha deverá ser, ainda assim, o país com maior crescimento na UE em 2022, seguida de Grécia e Letónia (ambos com 6%).
Em sentido oposto, Alemanha (4,6% em vez de 4,1%) e Suécia (3,6% em vez de 3,3%) têm as maiores revisões em alta para o próximo ano.
Ao contrário do relatório da primavera, o documento desta quarta-feira é intercalar, não apresentando previsões de natureza orçamental.
Última atualização às 17h10