Mohammed, o intérprete do exército dos Estados Unidos (EUA), que ajudou a salvar a vida de Joe Biden quando este seguia a bordo de um helicóptero que foi forçado a pousar em terreno afegão durante uma tempestade de neve, em 2008, foi “deixado para trás” — fazendo parte dos milhares de civis que ainda não conseguiram ser retirados do Afeganistão.

Numa entrevista ao Wall Street Journal, Mohammed, que não quis revelar o seu nome completo por questões de segurança, apelou ao presidente norte-americano: “Olá, Sr. Presidente. Salve-me a mim e à minha família. Não se esqueça de nós aqui.”

Mohammed, a sua mulher e os seus quatro filhos estão neste momento escondidos dos talibãs, uma vez que foram identificados como opositores do seu regime, porque o afegão trabalhou para o exército dos EUA. Estão, assim, entre os incontáveis ​​aliados afegãos que ficaram para trás quando os norte-americanos encerraram a sua atividade militar de 20 anos no Afeganistão, na segunda-feira.

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Em 2008, Mohammed, então com 36 anos, trabalhava como intérprete e ajudou Joe Biden, na altura senador, quando dois helicópteros Black Hawk do exército dos EUA pousaram de emergência num vale no Afeganistão durante uma tempestade de neve. A bordo estavam também os senadores John Kerry e Chuck Hagel.

Enquanto membro de uma equipa de segurança privada da antiga empresa Blackwater e do exército dos EUA, Mohamed recebeu um pedido urgente de ajuda. O atual presidente norte-americano estava em perigo e não conseguia abandonar o vale por ser uma zona de difícil acesso e devido à tempestade de neve que se abatia. Passou horas nas montanhas até conseguir resgatá-lo, relatou Brian Genthe, que na altura servia como sargento na Guarda Nacional do Arizon.

Shawn O’Brien, um veterano de combate do exército que trabalhou com Mohammed em 2008 no Afeganistão, fez também um apelo direto a Biden, em entrevista ao  mesmo jornal: “Se só pode ajudar um afegão, escolha-o. Ele merece.”

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Relembrando a campanha presidencial de 2008, em que Biden concorria à vice-presidência, foram várias as vezes que mencionou este incidente de helicóptero, servindo-se da ocasião para sublinhar a relevância destas viagens para combater o grupo Al Qaeda.

“Se queremos saber onde mora a Al Qaeda, se queremos saber onde [Osama] Bin Laden está, temos que voltar ao Afeganistão”, disse em outubro, durante a campanha, poucos meses após o resgate, que ocorreu em fevereiro. “Voltemos para a área onde meu helicóptero foi forçado a descer, no meio daquelas montanhas. Eu posso dizer onde eles estão”, prometia.

Contudo, as promessas parecem ter ficado apenas para aquela ocasião, uma vez que a Casa Branca foi contactada pelo Wall Street Journal e recusou-se oficialmente a comentar. “O governo não pode discutir casos individuais por motivos de confidencialidade”, justificou.

Mohammed, que agora relembra a busca de 30 horas em temperaturas muito baixas e terrenos perigosos para resgatar Joe Biden, em 2008, revela: “Não posso sair de casa. Estou muito assustado. Por favor, não me deixe para trás.”