A equipa da ILoveTheWorld estava a gravar um documentário e um anúncio para uma multinacional de bebidas gasosas quando repararam que o vulcão tinha acordado. “Temos de estar lá, custe o que custar”, disseram, uns aos outros.

Apanharam aviões, conduziram a alta velocidade, planificaram como podiam pelo Whatsapp, e, numa questão de horas, estavam em Tenerife. Depois, quando já se encontravam nas Canárias, contrataram um helicóptero com o seu próprio dinheiro, para chegar a La Palma, conta o El Mundo.

“A primeira coisa que fizemos foi sentir. Não somos fotógrafos de guerra. Nós retratamos a beleza. Por isso, quando estávamos no ar, a vermos como se iam perdendo casas, apenas conseguíamos fazer click”, comentaram os fotógrafos e videógrafos das Canárias.

A equipa da ILoveTheWorld está habituada a fotografar os três elementos. As suas imagens debaixo de água, em tecnologia 360º, fazem parte de alguns dos mais importantes catálogos e são utilizadas em aplicações de realidade virtual, onde podemos simular estar debaixo da água do Mar Cortés (Golfo da Califórnia), ou do Mar Vermelho.

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Um dos membros da equipa venceu um prémio da World Press Photo, com uma fotografia de uma tartaruga presa numa rede de plástico. Em terra, os seus créditos estão, também, comprovados, como mostram as suas fotografias no Carnaval de Tenerife. Pelo ar, a equipa domina a utilização de drones e helicópteros, como se vê bem pela fotografia que tiraram à “casa milagre” ou “casa esperança” que sobreviveu incialmente à lava, mas que depois acabou por ser também engolida pelo manto negro.

A “Casa Esperança” de La Palma não resistiu e foi engolida pela lava

“Ao tentarmos captar o preto e vermelho da lava, encontrámos a casinha. Foi como uma luz, por saber que havia vida, apesar de tudo… Saímos de lá arrasados, mas essa imagem deu-nos vida, daí chamar-lhe Esperanza”. No dia seguinte, depois de publicarem a fotografia nas redes sociais, receberam vários telefonemas, contam ao El Mundo. Um vencedor de um Prémio Pulitzer ligou-lhes, para dar os parabéns pela fotografia, e tentar comprá-la para a sua agência. “Não podemos vender a fotografia. Sentimo-nos mal a vender uma desgraça”. Ofereceram-na.

Foi assim, então, que a imagem mais divulgada do desastre em La Palma foi distribuída, de forma a que chegasse a todo o mundo, para que se percebesse o que aconteceu na ilha espanhola. “Quanto mais partilhas, melhor. E, se ganharmos algum prémio com esta imagem ou com outra qualquer, iremos doar qualquer prémio monetário à população da ilha. As pessoas de La Palma precisam”. Já gastaram dez mil euros para dar a conhecer ao mundo o que se passa em La Palma, e, pelos vistos, não vão parar por aqui. Têm publicado o resultado do seu trabalho na página oficial do grupo no Facebook e granjeado a simpatia dos habitantes de La Palma.

Alejandro Gil-Roldan, Alfonso Escalero, Francis Pérez, Fran Salazar e Marcos Latorre são os membros da ILoveTheWorld. Alfonso é o CEO, e o autor da foto da “casa milagre”. Fran está encarregue dos drones aéreos, enquanto Marcos é o responsável técnico, que permite que seja possível captar todas estas “maravilhas”. Francis Pérez é o membro do grupo cujas fotos conseguiram um maior reconhecimento: em julho, o Museu de História Natural de Londres dedicou uma semana à sua obra, com imagens que iam desde a Micronésia, até ao Círculo Polar Ártico. Alejandro é o diretor audiovisual, ele que edita e organiza o material que a equipa recolhe e que pode chegar às centenas de terabytes. Cada fotografia das erupções, sem compressão, pode chegar aos 500 megabytes de tamanho.

Enquanto olhavam para o efeito devastador da erupção do Cumbre Vieja, os membros da equipa das Canárias pensaram o mesmo: “A ilha bonita está a sangrar”. Assistiram ao sofrimento da população local, que repetia várias vezes a mesma frase — “A minha casa, a minha casa!” — e não resistiram à comoção geral dos habitantes, alguns dos quais conhecem bem:

Saímos emocionados, chegámos a fotografar o inferno.”

Quando Alfonso Escalero  soube que a “Casa Esperança” acabara por ceder à força destrutiva da lava não desanimou. Decidiu, com a sua equipa, procurar outro sinal que não os faça “perder a esperança nestes dias difíceis”. Alías, no Facebook, o grupo prometeu que não partiria do local, que lutaria com as suas imagens, estivesse onde estivesse.