Uma menina negra de 10 anos foi detida por fazer um desenho de um aluno que costumava intimidá-la, numa escola em Waipahu, no Havai. Quem chamou a polícia foi o pai do rapaz, que não reagiu bem ao ver a respetiva ilustração. A situação ocorreu em janeiro do ano passado, mas só foi tornada pública esta segunda-feira quando a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, acrónimo de American Civil Liberties Union) do Havai tomou posição.

“Isto é totalmente errado. E não há nada que o tolere ou justifique”: são estas as palavras de reprovação de Wookie Kim, diretor jurídico da associação ao Hawai News Now. A ACLU enviou uma carta ao Departamento de Polícia de Honolulu, ao Departamento de Educação do Estado e ao gabinete do procurador-geral do Estado, pedindo-lhes que adotem novas políticas, eliminem todos os registos de prisão e paguem 500 mil dólares (cerca de 430 mil euros) de indemnização à família.

A associação requer ainda a proibição de funcionários da escola chamarem a polícia, a menos que exista “uma ameaça de dano significativo”, e que seja consultado um conselheiro escolar antes de o fazer.

Já o advogado da família, Mateo Caballero, salientou: “Não queremos que isto seja sobre o desenho”, relembrando que a menina foi detida, sendo que “não levou nenhuma arma para a escola, não fez ameaças explícitas a ninguém”. O Hawaii News Now avançou que quis ver o desenho, mas o pedido foi negado. Detalhes sobre o que a ilustração representava também não foram divulgados. Segundo o relato da ACLU, a aluna disse à mãe,  dias depois de ser detida, que ela tinha feito o desenho mas que outras crianças tinham estado envolvidas a colori-lo e a escrever nele.

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Quando a polícia chegou, a menina, identificada apenas como “NB” e que tem TDAH (transtorno de défice de atenção com hiperatividade), foi “algemada com força excessiva e levada para a esquadra”, relatou a ACLU.

Outra razão de crítica à atuação das autoridades é o facto de a mãe de NB, Tamara Taylor, ter sido chamada à escola, mas sem permissão para ver a filha. Informaram-na que a menina foi “algemada à frente dos colegas, colocada numa viatura e levada embora”. Sabe-se que depois NB foi entregue à mãe na esquadra de Pearl City.

Fui destituída dos meus direitos como mãe e a minha filha foi destituída do seu direito à proteção e representação como menor. Não havia uma compreensão da diversidade, da cultura afro-americana e da história do envolvimento da polícia com a juventude afro-americana. A minha filha e eu estamos traumatizadas com o sucedido e estou desanimada por saber que este dia viverá com a minha filha para sempre”.

O Departamento de Polícia de Honolulu disse à CNN na terça-feira que estava “a rever a carta e vai trabalhar com o Conselho da Corporação [entidade existente em alguns municípios dos EUA que analisa ações civis contra a cidade] para tratar destas alegações”.

Um estudo de 2017 conduzido pelo Centro de Leis de Georgetown sobre Pobreza e Desigualdade descobriu que meninas negras até aos 5 anos de idade são vistas como necessitando de menos proteção e cuidados do que meninas brancas. A ACLU e o advogado da família descrevem as ações dos funcionários da escola e da polícia como “extremas e desproporcionais”. Acreditam que ambas foram discriminadas por causa da cor da pele.