O primeiro-ministro garante que não vai interferir nas eleições internas do Partido Socialista, num cenário em que saia derrotado das legislativas. “Assistirei, não interferirei”, afirmou.

Em entrevista à Antena 1, António Costa disse, no entanto, que se vai manter ativo na vida política mesmo fora do cargo que agora ocupa: “Com certeza. Faz parte da cidadania a intervenção política. De uma forma ou outra continuarei a fazê-lo, mas não da mesma forma.”

Sobre um cenário de vitória sem maioria absoluta, o primeiro-ministro voltou a ser vago: “Seja qual for o resultado saberei construir as soluções, de acordo com os resultados eleitorais”. Além de possíveis alianças, não quis também “especular sobre composições de governo”.

Pressionado sobre o assunto, António Costa disse ainda que “só em ditadura é que quem governa decide as eleições”, sublinhado que não pode avançar com uma “decisão fechada”.

Esta foi uma entrevista em que o secretário-geral do PS apontou baterias ao PSD, sublinhando que entre as propostas os dois partidos há uma “clivagem muito vincada”. E deu três exemplos que considerou centrais: salários, Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pensões.

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“O PSD tem uma proposta que assenta na ideia que temos de ter baixos salários. Temos de ter a ambição de que a economia sirva as pessoas”, disse António Costa.

Sobre o SNS, sublinhou que “a ideia de que a classe média vai passar a pagar o SNS com taxas moderadoras é uma rutura, precisamos é de fortalecer as classes médias”. “Para nós o reforço do SNS é uma linha vermelha inultrapassável”, frisou.

Em matéria de pensões, “a posição do PSD não tem nenhum compromisso” sobre a sua evolução. “Nós temos um compromisso muito claro: repor as pensões mais baixas. Pensões até 1.097 euros já teriam tido este mês o reforço extraordinário se tivesse havido orçamento”, criticou.

Rui Rio esteve na mira durante quase toda a entrevista, com o primeiro-ministro a acusar novamente o líder do PSD de querer “enfraquecer a Polícia Judiciária e a autonomia do Ministério Público”, “dois instrumentos do Estado de Direito” essenciais para combater a corrupção.

“Uma das grandes reformas de Rui Rio para a justiça é o poder político passar a controlar o Ministério Público. Isso é da maior gravidade”, criticou. António Costa referia-se à “recomposição dos conselhos superiores [do Ministério Público e da Magistratura] (…) de forma a garantir que a maioria dos seus membros seja composta por não-magistrados”, proposta no programa eleitoral do PSD.

Nesta entrevista à Antena 1, o primeiro-ministro afirmou ainda ter “toda a abertura” para que a Assembleia da República recupere os debates quinzenais com o governo. “A Assembleia da República nunca teve interferência do governo e não é agora que interferirei”, disse.

Os debates quinzenais terminaram em 2020, ao fim de dez anos, tendo sido substituídos por um novo modelo de debates de política geral e setorial.

Houve ainda tempo para uma breve referência ao conflito na Ucrânia, numa altura em que se receia uma iminente invasão russa. O primeiro-ministro disse-se satisfeito com o facto de o conflito entre a Ucrânia e a Rússia ter estado ausente da campanha eleitoral. “Tem sido sinal de maturidade termos sabido manter esse tema fora da campanha eleitoral”, afirmou.

António Costa garante que esta é uma matéria “sobre a qual o governo tem participado ativamente no seio da NATO e da União Europeia”, mas sublinhou que “é um tema que não está e não deve estar nesta campanha”.