O presidente executivo da REN não dá opinião sobre uma eventual necessidade de retomar a produção nas centrais a carvão, no atual contexto de guerra e de grande incerteza e de preços descontrolados nos mercados energéticos. Mas Rodrigo Costa reconhece que a guerra que eclodiu na Ucrânia não estava nos cenários feitos sobre a evolução do setor elétrico e sobre a sua capacidade para resistir a situações de stress.

Portugal já tinha desligado as centrais a carvão (em 2021) quando a guerra apareceu, assinalou o gestor, remetendo sempre para o Governo a avaliação do que deve ser feito, porque “não devemos ter a veleidade de dar opiniões sobre um tema muito sério”. Rodrigo Costa também assumiu “que temos de estar preparados para qualquer cenário”.

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Para o presidente da REN, o “desenho da nossa infraestrutura está feita para acomodar grandes surpresas” e a “nossa resposta tem sido boa”. Os decisores políticos, acrescentou, “estão a fazer as análises como devem fazer” e a gestora da rede elétrica e de gás é ouvida nesses fóruns. Rodrigo Costa não confirma que a empresa está a participar na avaliação sobre a reativação das centrais a carvão — num cenário de disrupção no fornecimento de gás russo à Europa.

“Estamos a viver uma situação extraordinária” e até de “grande perigo”, mas “temos compreensão por quem tem de tomar decisões que promovam planos alternativos em casos de emergência”. Os decisores têm de ser ágeis a tomar decisões, mas “estão a fazer as suas análises como devem” e analisar cenários alternativos para o caso de uma emergência. Mas cabe ao Governo tomar decisões.

O presidente da REN diz ainda que as redes de abastecimento de eletricidade são “sistemas muito delicados que têm as suas fragilidades”, mas destaca a interligação com Espanha que tem sido “muito importante para nós” e é importante acelerar os investimentos na rede.

Se interligação falhar, “isso não significa” um apagão em Portugal

Apesar de a eletricidade vinda de Espanha estar agora a abastecer mais de 20% do consumo nacional, quando em 2021 o seu contributo foi da ordem dos 10%, o administrador da REN, João Conceição, desdramatiza o efeito que uma eventual restrição nesta interligação teria na segurança do abastecimento. João Conceição justifica o aumento das compras ao lado de lá com razões de mercado, ou seja, porque é mais barato.

“Não estamos numa situação em que se houver um problema na interligação temos automaticamente um apagão. Não estamos aí. Temos capacidade nacional que podemos usar mais”.

Reconhecendo que a seca tem sido uma restrição forte à produção hidroelétrica — há seis barragens que têm a geração condicionada, mas as bacias a recuperar com a chuva recente — o gestor diz que o sistema tem compensado com mais produção a gás natural (cujo custo está sob uma enorme pressão por causa da guerra na Ucrânia). E com as importações a partir de Espanha que “estão a um nível bastante alto”.

João Conceição avisou ainda que não “é assim tão simples mudar o regime de preços” usado na formação das cotações da eletricidade no mercado grossista, como propôs o Governo português. “Não basta carregar num botão”. É preciso recorrer a leilões de capacidade. Os preços marginais, realça, são bons em períodos de preços baixos. Já os preços estáveis (de contrato ou leilão) são mesmo estáveis (e no passado recente chegaram a ser chamados de rendas excessivas). “É muito complexo”, reconheceu.

O gestor considerou positiva a mudança de posição francesa que desbloqueou a intenção ibérica de fazer uma interconexão de gás entre as duas geografias, mas moderou expetativas sobre o papel que Portugal e Espanha podem vir a ter na diversificação das fontes de gás à Europa central. Itália anunciou a construção de terminais de gás natural liquefeito (GNL) flutuantes, mais baratos e rápidos de construir do que os terminais existentes na Península Ibérica, e a Alemanha está a ponderar fazer o mesmo. O mercado de GNL vai aumentar o seu peso, mas também pode existir nova disponibilidade de abastecimento que hoje está a fornecer a China, isto se a China se virar para o gás russo.