O presidente executivo da Galp admite que a empresa está a ganhar dinheiro no contexto dos preços caros dos combustíveis, mas assinala também que a grande flutuação de preços “não é bem vinda”. Andy Brown sublinha que para a estratégia da Galp, que está a realizar fortes investimentos para mudar o portefólio de atividades, a “estabilidade é muito mais importante” porque permite prever o retorno da aplicação desses recursos.

Num encontro com jornalistas sobre o impacto da crise energética nos mercados, na empresa e nos consumidores, Andy Brown diz que a Galp está a ganhar dinheiro, sobretudo enquanto produtor (e vendedor) de petróleo e do gás, operações que não acontecem em Portugal. Na refinação as margens também são positivas, mas esta foi uma atividade que durante a pandemia perdeu muito dinheiro durante dois anos.

“Hoje estamos a fazer bom dinheiro no upstream e a refinação tem margens razoavelmente boas. Mas quando investimos mil milhões de euro por ano para mudar o nosso portefóleo a estabilidade é muito mais valiosa para nós. Não quero dizer que não ganhamos dinheiro neste ambiente em particular, mas quer dizer que o nosso negócio é impactado por isso e depende de como nos posicionamos no mercado. Podemos estar do lado errado do tabuleiro e isso não é bom para nós”.

E deu como exemplo, o trading (compra e venda de produtos) no ano passado de gás natural, que obrigou a empresa a ir comprar gás caro ao mercado para abastecer os clientes que tinham contratado o fornecimento a preços mais baixos. “Não é sempre bom ter os preços altos”.

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Questionado sobre a possibilidade de uma taxa sobre os lucros ditos extraordinários das empresas do setor por causa dos preços altos, o presidente executivo da Galp lembrou que os lucros devem ser taxados onde as empresas ganham o dinheiro. A maior parte do dinheiro que a Galp faz não é em Portugal, numa referência à atividade da produção. E já “somos muito taxados nos países onde estamos”.

Na refinação e distribuição que está em Portugal, a Galp faz pouco dinheiro e já é taxada, portanto se avançar um imposto “não é algo de que Portugal possa beneficiar muito”, defendeu, remetendo ainda para as declarações mais recentes do ministro da Economia, Costa Silva, que praticamente afastou esse cenário depois de revelar que o Governo estava a avaliá-lo.

“Nesta altura não estamos a considerar de todo” imposto sobre lucros extraordinários, revela Costa Silva

Produtores estão a ganhar. Refinadores e distribuidores não. A Galp é as três coisas

Quando questionado sobre quem está a ganhar dinheiro com o aumento do preços, Andy Brown apontou na direção de quem produz. “Os produtores é que estão a ganhar, não são os distribuidores nem os refinadores”. A Galp é as três coisas.

A refinaria de Sines vai ser afetada e até poder ser obrigada a reduzir a produção, apesar das boas margens, por causa da decisão de suspender as importações de VGO (gasóleo de vácuo) vindas da Rússia.  A Galp conseguiu substituir os abastecimentos durante abril, mas maio ainda não está assegurado. O gestor garante que a situação não irá por em causa o abastecimento ao mercado nacional de diesel, mas pode reduzir a capacidade de exportações de Sines. A redução da produção em 10% a 20% não terá efeitos no emprego, adiantou.

No que toca às margens do negócio, assinalou que o Estado ainda é quem tira maior receita (fiscal) por cada litro de combustível vendido, cerca de um euro. O gestor também alertou para o risco de a regulação das margens do negócio de venda de combustíveis prejudicar os consumidores, lembrando que este cálculo é “muito complexo”.

A Galp vende combustíveis em vários locais. Nas autoestradas é mais caro por causa dos custos das áreas de serviço e no interior, às vezes, as margens são mais altas porque as vendas são reduzidas, mas não vamos deixar de abastecer. Além de que a regulação das margens é “completamente contrária ao mercado europeu” e cria distorções. “Pode não ser o mais positivo para os consumidores”, avisa.