Quase dois meses depois do massacre de Uvalde, foi divulgado pela primeira vez o vídeo captado pelas câmaras de segurança da escola Robb Elementary School a 24 de maio, quando Salvador Ramos matou 19 crianças e duas professoras. As imagens foram captadas a partir do corredor da escola e mostram a inação das forças policiais enquanto o atirador, de 18 anos, disparava dentro de uma sala de aula.

Vítimas do atirador de Uvalde estavam todas na mesma sala. Polícias partiram janelas para retirar alunos

O vídeo foi obtido e divulgado por dois meios de comunicação norte-americanos locais, o Austin American-Statesman e a KVUE-TV, que editaram o conteúdo por respeito às vítimas.

“Não vão ver ninguém a ser baleado, não vão ouvir os gritos das vítimas naquele dia, não vão ver nada do sangue, da violência que ocorreu naquela manhã”, disse um dos apresentadores da rede local KVUE de Austin, citado pelo El País.

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Eram 11h33 quando Salvador Ramos entrou na escola, com a AR-15 na mão. Percorreu o corredor tranquilamente enquanto ajeitava o cabelo, seguindo em direção às salas 111 e 112. Tinha avançado vários metros e parava em frente a uma delas quando, por trás, um aluno se aproxima da esquina do corredor a tempo de o ver abrir fogo.

O rapaz fugiu ao ouvir o som dos tiros, que se prolongaram durante dois minutos e meio. Segundo as autoridades, nesse período Salvador terá disparado pelo menos 100 balas nessa e nas salas adjacentes, repletas de alunos, a maioria do quarto ano.

As mensagens no Facebook, o acidente de carro e o desfecho cruel: o cronograma do massacre em escola do Texas

Passaram cerca de três minutos até que os primeiros agentes da polícia entraram pela escola a dentro. Três, com coletes à prova de bala e de armas na mão, seguiram rapidamente pelo corredor onde minutos antes Salvador Ramos tinha passado. No fundo, perto da câmara de vigilância, começavam a juntar-se mais agentes. Aguardavam e trocavam sinais entre si, e um deles chega a retirar o telemóvel do bolso para ver algo enquanto espera. O som de disparos regressa em força e faz recuar os polícias para o fundo do corredor, perto da câmara de vigilância, onde se juntam aos restantes.

O vídeo, de 77 minutos, e as imagens de uma bodycam de um agente – a que a American-Statesman teve acesso – mostram dezenas de polícias de agências locais, estatais e federais a juntarem-se no corredor. Fortemente armados, com coletes à prova de bala, capacetes e alguns com escudo de proteção, percorrem o corredor, para trás e para a frente, para trás e para a frente.

Apontam as armas, falam entre si, fazem chamadas telefónicas e estudam as plantas do edifício. Mas, os minutos vão passando e, cerca de meia hora depois, continua a não haver nenhuma tentativa para entrar na sala de aula. Aguardam e pode até ver-se um agente a aproveitar para desinfetar as mãos com álcool gel.

Somente uma hora e 14 minutos depois de chegarem ao local é que os agentes entraram finalmente na sala e abateram o atirador.

Todos os mortos e feridos estavam no mesmo lugar, uma vez que o atirador se barricou numa única sala. Durante o ataque, os polícias que estavam no local partiram várias janelas da escola para retirar alunos e funcionários.

O vídeo vem esclarecer várias dúvidas sobre o que se passou realmente durante o tiroteio. Os primeiros dias após o massacre ficaram marcados por vários relatos das autoridades de Uvalde sobre a resposta ao ataque. Inicialmente o departamento de polícia disse que o atirador entrou na escola por uma porta que teria sido deixada aberta por uma professora, no entanto foi divulgado que a porta tinha sido fechada, apesar de não ter ficado trancada.

A resposta dos agentes tem sido muito criticada e o próprio diretor do departamento de segurança pública do Texas classificou a resposta da polícia como um “falhanço abjeto”. Segundo Steve McCraw, o número de agentes destacados era suficiente para que o atacante tivesse sido detido três minutos depois de ter entrado no edifício.

“Falhanço abjeto”. Autoridades podiam ter detido atirador do massacre em escola no Texas em três minutos

McCraw admitiu que os policiais deviam ter confrontado o atirador assim que chegaram, carregando poder de fogo suficiente para invadir a sala de aula e parar o tiroteio.