Uma equipa chegava com 21 pontos em oito jogos, outra com dez pontos em sete partidas. Tendo em conta que em causa estavam Arsenal e Liverpool, alguém não estivesse a acompanhar a atual Premier League não teria dúvidas em distribuir classificações por clubes. Alguns exemplos práticos: nos últimos oito jogos, os reds tinham ganho cinco e empatado três; nos últimos 19 encontros, os gunners só tinham ganho um e perderam dez; nas últimas sete épocas, desde que chegou Jürgen Klopp, o conjunto de Anfield sagrou-se campeão nacional e europeu, ao passo que a equipa de Londres falhou em algumas épocas o acesso à Liga dos Campeões. No entanto, esta temporada tudo mudou. E mais poderia ainda mudar.

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Não sendo uma partida decisiva (longe disso), o Arsenal poderia em caso de vitória ficar com mais 14 pontos do que o Liverpool com apenas nove jornadas cumpridas, prolongando a série com oito vitórias e uma derrota em Old Trafford com 20 golos marcados e apenas nove sofridos. Cenário diametralmente oposto enfrentava a formação de Klopp, com duas vitórias em sete jornadas, uma crise de resultados sem precedentes com o germânico no comando e essa tentativa de quebrar mais uma série de dois jogos sem qualquer triunfo com que chegava ao Emirates. Perder era mais do que perder, ganhar era mais do que ganhar – sendo que o Manchester City esperava para perceber se ficava isolado na frente da prova.

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Também por aqui se percebia a importância de mais um clássico do futebol inglês. Também por aqui se entendia a necessidade de uma entrada forte no encontro. Também por aqui se viu o momento que os conjuntos atravessavam, numa espiral de sentidos distintos que demorou 57 segundos a aparecer.

O jogo começou praticamente com o golo do Arsenal, numa transição com tanto de bem feita pela equipa da casa como de consentida pelo Liverpool: Saka conduziu pela direita, Ödegaard colocou bem nas costas de Alexander-Arnold e Gabriel Martinelli bateu o compatriota Alisson ainda no primeiro minuto de jogo. Os visitados tomavam conta do jogo, geriam a vantagem e continuavam à procura das saídas rápidas para causarem mossa no adversário. No entanto, falharam num aspeto: deixaram de ser fiel ao habitual jogo de posse, permitiram que os reds fossem ganhando confiança e já não conseguiram depois travar esse crescimento que iria chegar ainda antes do intervalo ao empate, algo corrigido a tempo nos descontos.

Darwin, numa jogada que começou em Thiago, deixou uma primeira ameaça à baliza do Arsenal antes da primeira oportunidade flagrante que surgiu de um corte defeituoso de Saliba depois de um cruzamento do antigo avançado do Benfica na direita (30′). O golo do empate não iria demorar muito mais, com Arnold a procurar a profundidade, a defesa do Arsenal a não conseguir tirar a bola do último terço, Luis Díaz a ganhar na frente descaído sobre a direita e Darwin a encostar depois na pequena área para o empate (34′). O Liverpool equilibrara os pratos da balança com a vantagem anímica do golo marcado que dava outra esperança ao conjunto de Klopp mas Díaz acabou por sair lesionado ainda antes do descanso. O pior para os visitantes estava ainda para vir e de novo com muitas culpas próprias: Martinelli trabalhou bem na esquerda numa transição, cruzou ao segundo poste e Saka encostou sozinho para o 2-1 (45+5′).

O segundo tempo começou como a primeira parte, havendo apenas a diferença da falta de eficácia nas aproximações do Arsenal à baliza de Alisson. Ainda assim, ficava a ideia de que o 3-1 poderia ser uma mera questão de tempo. Mero engano. E foi Firmino a fazer o empate pouco depois, assistido por Diogo Jota numa diagonal nas costas da defesa contrária para o remate cruzado (52′). Voltava a ficar de novo tudo em aberto num jogo grande de loucos já sem Alexander-Arnold (entrou Joe Gomez por lesão do lateral) e um golo poderia fazer toda a diferença, sendo que uma fase de maior sufoco do Arsenal na área contrária acabou com uma grande penalidade de Thiago sobre Gabriel Jesus que Saka não desperdiçou (76′). Quase 20 anos depois, há cada vez mais camisolas com o patrocínio da JVC no Emirates. Aí, em 2003/04, os gunners conseguiram aquela que foi a sua última Premier League. E a esperança voltou de vez.