Entre sorteio da Liga dos Campeões, sorteio da Liga Europa e sorteio da Liga Conferência, a manhã desta segunda-feira foi bastante agitada e ditou alguns dos principais confrontos pós-Mundial no futebol europeu. Pelo meio, aparecia uma aparente bomba sem qualquer tipo de aviso: o Fenway Sports Group, o grupo norte-americano que é dono do Liverpool desde 2010, tinha decidido colocar o clube inglês à venda. 

A notícia foi avançada pelo The Athletic, que acrescentava que o FSG já teve oportunidades de vender o Liverpool no passado mas recusou as propostas, decidindo agora abrir a porta a abordagens — tendo já preparado uma apresentação para todos os interessados e comunicado com o Goldman Sachs e a Morgan Stanley para que ambos estejam envolvidos na mediação de um eventual negócio.

Os rumores, os comentários e as reações não demoraram, com a expectável antecipação de mais uma aquisição de um dos principais clubes europeus por parte de um conglomerado ligado ao Médio Oriente a ser a possibilidade mais veiculada. Para estrangular as especulações e dar algumas respostas — ainda que vagas –, o FSG optou por emitir um comunicado oficial onde confirmou a disponibilidade para ouvir propostas mas pareceu afastar a ideia de querer, efetiva e ativamente, vender o Liverpool.

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“Têm existido, recentemente, várias mudanças de liderança e rumores sobre mudanças de liderança em clubes ingleses. Inevitavelmente, somos questionados regularmente sobre o facto de sermos donos do Liverpool. De forma frequente, o FSG recebe expressões de interesse de terceiras partes que querem entrar na estrutura acionista do Liverpool. O FSG já disse anteriormente que, sob as condições e os termos certos, iria considerar novos acionistas se essa decisão estiver nos melhores interesses do Liverpool enquanto clube. O FSG permanece totalmente comprometido com o sucesso do Liverpool, tanto dentro como fora de campo”, pode ler-se na nota do grupo norte-americano.

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O FSG, que também é dono dos Boston Red Sox, da Major League Baseball, e dos Pittsburgh Penguins, da National Hockey League, adquiriu o Liverpool em 2010 aos também norte-americanos George N. Gillett Jr. e Tom Hicks e tem liderado o clube ao longo de um dos mais períodos mais bem sucedidos da história recente. Nos últimos 12 anos, fase à qual não é alheia a contratação de Jürgen Klopp em 2015, os reds conquistaram a Liga dos Campeões, a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga e ainda voltaram a ganhar a Premier League, algo que não acontecia há 30 anos.

Tendo como base esse sucesso desportivo e acrescentando a aparente tranquilidade institucional, a verdade é que o FSG beneficia de um apoio e de uma aceitação por parte da massa adepta e associativa do Liverpool que não é comum na Premier League. A contestação aos milionários grupos ou famílias que controlam alguns clubes ingleses — os Glazer no Manchester United, os Kroenke no Arsenal, o Sheikh Mansour no Manchester City ou o fundo de investimento da Arábia Saudita no Newcastle — nunca se estendeu aos reds e a liderança norte-americana escapou até à derrocada da Superliga Europeia.

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Por tudo isso, pelas tais conquistas dentro e fora de campo, torna-se quase incompreensível a decisão do FSG. Se é certo que o grupo norte-americano não está a dizer ativamente que pretende vender o Liverpool, a verdade é que também não está a dizer que não o quer fazer. A porta aberta a potenciais novos investidores, a potenciais novos acionistas e até a potenciais novos países levanta um clima de incerteza que não se vivia em Anfield há mais de uma década.

Por um lado, esta pode ser uma simples jogada empresarial e negocial: o FSG pode acreditar que já atingiu os objetivos desportivos e financeiros com o Liverpool e que esta é a altura certa para seguir em frente, até porque provavelmente conseguirá encaixar um valor superior aos 300 milhões de libras que desembolsou em 2010. Por outro lado, o grupo norte-americano pode estar a defender-se antecipadamente de uma contestação expectável e esperada face à campanha pobre que a equipa está a realizar na Premier League e a uma política de investimentos no último mercado de transferências que não agradou a toda a gente.