O pai, Oleh, era o diretor técnico de um torneio de ténis para juniores em Kiev, a Antey Cup. A mãe, Talina Beiko, foi jogadora profissional apesar de nunca ter passado do 391.º lugar do ranking WTA e de ter somado apenas dois triunfos no circuito ITF. Mas não ficava por aqui: o tio, Taras, também foi jogador de ténis; a irmã, Mariya, jogou em duas universidades norte-americanas; e ainda tem os primos Vadym e Myroslav Slavov, que são jogadores de futebol, e Oksana Slavova, ginasta. De forma quase inevitável, Marta Kostyuk teria de ser desportista. De uma maneira muito provável, teria uma paixão especial pelo ténis. Assim nasceu a jogadora de 20 anos que assumiu especial destaque no fim de semana por motivos onde a primeira vitória no circuito WTA acabou por ser quase um assunto secundário perante o que se passou após o triunfo.

Ucraniana Marta Kostyuk conquista em Austin primeiro torneio da carreira

Depois de ter começado a carreira no Clube de Ténis de Antey tendo a mãe como treinadora e o tio a dar uma ajuda, a jogadora ucraniana teve entre o final de 2015 e o início de 2017 uma rampa de lançamento para uma carreira que todos adivinhavam ser promissora, ganhando a Orange Bowl na Flórida para o escação de 14 ou menos anos e também o Open da Austrália de juniores. Pouco depois, também nesse ano de 2017, Marta Kostyuk tornou-se a ucraniana mais nova de sempre a ganhar um torneio profissional, neste caso o torneio ITF de Dunakeszi (Hungria), chegando à vice-liderança do ranking mundial de juniores.

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No entanto, e na passagem para as principais provas, nem tudo foram facilidades para a jogadora que venceu mais dois torneios ITF, chegou até a uma quarta ronda de Roland Garros em 2021, ganhou o primeiro WTA em Limoges mas em pares com a georgiana Oksana Kalashnikova e atingiu uma inédita presença nas meias do Open da Austrália em pares este ano. Os meses passavam, faltava a primeira vitória em singulares num torneio WTA depois de quatro derrotas em meias-finais. À quinta, em Austin (EUA), foi mesmo de vez. E logo numa final contra uma adversária que não queria que jogasse: a russa Varvara Gracheva.

Numa final que colocava em confronto duas jogadoras que nunca tinham chegado a uma decisão no WTA em singulares, Marta Kostyuk, 52.ª da hierarquia mundial e jogadora com melhor ranking sem finais até este fim de semana, bateu Gracheva (88.ª) por 6-3 e 7-5 e teve um gesto no final que correu mundo, ao recusar-se cumprimentar a adversária por ser russa apesar de se terem cruzado por mais do que uma vez depois do jogo. De acrescentar que a ucraniana tem sido uma das jogadoras mais críticas em relação aos jogadores russos no circuito de ténis, atirando de forma direta até às mensagens que foram passando desde o início da guerra.

“Nunca me senti tão unida ao meus país e ao povo ucraniano mas no circuito estou muito desiludida porque nenhum tenista russo veio ter comigo. Nenhum deles me disse que lamenta o que o seu país está a fazer ao meu, não ouvi quaisquer pedidos de desculpa, não ouvi ninguém dizer que não apoia o que está a acontecer. Toda a gente sabe o que está a acontecer. Magoa-me sempre que chego a um court e vejo todos os tenistas russos, porque a única preocupação que têm é não conseguir fazer transferências bancárias. Mensagens de no war? Não gosto. Não tens de estar envolvido em política para saber o que está a acontecer, quem invadiu quem e quem está a bombardear quem. É muito simples e é uma situação em que não podes ser neutro. Para mim, no war pode significar muitas coisas”, apontou a ucraniana há um ano.

“Estar nesta posição que estou agora e ganhar este título é algo extremamente especial. Quero dedicar este título à Ucrânia e a todas as pessoas que estão a lutar e a morrer nesta altura. É obviamente um momento muito especial”, destacou agora Marta Kostyuk, que subiu a um inédito 40.º lugar do ranking.