Dezenas de pais protestaram na terça-feira em frente a várias escolas de Nova Iorque contra a transformação de espaços escolares em áreas de acolhimento de migrantes, situação que os faz “temer pela segurança” dos filhos, disseram à Lusa.

Junto às instalações de uma escola pública em Williamsburg, um bairro de Brooklyn, vários pais exigiram explicações por parte da direção da instituição de ensino – a quem acusam de ignorar as preocupações das famílias -, mas também do autarca de Nova Iorque, Eric Adams, responsável por decretar uma medida de emergência que determinou a abertura de ginásios escolares para receber migrantes.

“A direção da escola mandou-nos uma carta na noite de domingo a informar que o ginásio desta escola ia ser transformado num asilo para migrantes. Eu não tenho nenhum problema com a imigração, mas sim com a segurança da minha filha. Não sabemos quem irá entrar no recinto escolar, não sabemos quem fará a segurança, se haverá polícias, não sabemos de nada. Ninguém nos dá respostas”, disse à Lusa um membro da associação de pais da escola PS17, em Williamsburg.

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“Como mãe, optei por não falar com a minha filha sobre esta questão, mas ela entende que ficou sem ginásio para praticar atividade física na escola. Acima de tudo queremos a segurança das nossas crianças”, acrescentou.

Os pais prometeram continuar os protestos pelos próximos dias e planeiam paralisar a escola na sexta-feira. Alguns encarregados de educação asseguraram mesmo que irão tirar os filhos da escola até que a situação seja resolvida.

“Não temos nada contra os migrantes, há espaço para todos. Queremos apenas a segurança dos nossos filhos e saber o que irá acontecer a partir de agora. Vou tirar a minha filha desta escola até ter respostas. Ninguém nos diz nada”, afirmou à Lusa Yolanda, mãe de uma adolescente de 14 anos.

Ao redor da escola foram afixados cartazes com mensagens como “Não queremos asilo nas dependências da escola” e “Mantenham as nossas crianças seguras”.

Além disso, várias crianças erguiam cartazes onde se podia ler: “A razão de estarmos a protestar é porque queremos o nosso ginásio de volta e não nos sentimos seguros”; “Os nossos pais não se deviam ter de preocupar sobre a nossa segurança na escola”; “O presidente da câmara não quer saber da nossa segurança, então temos de fazer alguma coisa”.

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Esta medida temporária de emergência foi decretada para dar resposta à onda de migrantes que tem chegado a Nova Iorque – mais de 65 mil desde agosto passado -, provenientes da fronteira sul do país.

De acordo com Eric Adams, mais de 4.200 migrantes chegaram à cidade apenas na semana passada, quando foi decretado o fim do título 42, norma que permitiu, sob pretexto da pandemia, a expulsão de 2,8 milhões de migrantes nas fronteiras dos Estados Unidos, onde culminam alguns dos principais fluxos migratórios globais.

A autarquia destaca que a chegada de milhares de requerentes de asilo nos últimos meses, muitos deles venezuelanos, criou uma “crise humanitária sem precedentes” que exige “medidas extraordinárias para responder às necessidades imediatas” dessas pessoas, num momento em que a cidade tem ainda de apoiar a sua população de rua.

Contudo, o uso de escolas e ginásios escolares é contestado não apenas por pais de alunos, mas também por sindicatos de professores, que acusam Eric Adams de proteger os migrantes em detrimento das crianças.

Entre as principais críticas está o facto de a autarquia não ter comunicado todos os detalhes das medidas às pessoas diretamente afectadas pela norma, nem negociado a aplicação da mesma com as direções das escolas.

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A abertura de edifícios escolares é a mais recente medida relacionada com a onda de migrantes, depois de a cidade ter aberto 140 abrigos de emergência, muitos deles em hotéis – o último no outrora luxuoso Hotel Roosevelt, no centro de Manhattan.

Os hotéis são reservados para famílias com crianças, enquanto os jovens ou adultos sem filhos são encaminhados para outros albergues.

A chegada de migrantes com filhos também está a exercer grande pressão sobre o sistema escolar de Nova Iorque, que teve que abrir vagas adicionais em escolas públicas e até criar novas turmas para crianças de língua espanhola, representadas em grande número.

Nova Iorque é a única cidade dos Estados Unidos que, por lei, é obrigada a fornecer um teto para quem necessita, e é o argumento que alguns líderes republicanos – como os governadores do Texas, Greg Abbot, ou de Flórida, Ron DeSantis – estão a usar para promover a transferência de imigrantes para essa região.