A organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e 30 peritos das Nações Unidas acusaram esta quinta-feira, em iniciativas separadas, os paramilitares sudaneses de violação e violência sexual contra as mulheres.

O Sudão mergulhou no caos em 15 de abril, quando meses de tensões latentes entre os militares e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) desembocaram em combates intensos e violentos.

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A Human Rights Watch (HRW), sediada em Nova Iorque, afirmou que as RSF tinham aparentemente como alvo mulheres e raparigas da região ocidental de Darfur de etnia não árabe, bem como ativistas que registaram violações dos direitos humanos durante o conflito.

A ONG afirmou ter documentado 78 vítimas de violação entre 24 de abril e 26 de junho.

Peritos da ONU alertaram em junho para o facto de os combates no Darfur terem assumido uma dimensão étnica, com a RSF e as milícias aliadas a visarem as comunidades africanas.

O Darfur foi palco de uma guerra genocida no início da década de 2000, quando as milícias árabes apoiadas pelo Estado, conhecidas como Janjaweed, foram acusadas de assassínios generalizados, violações e outras atrocidades.

As Janjaweed evoluíram mais tarde para as RSF.

Várias vítimas, que tinham fugido do Darfur para o vizinho Chade, disseram à HRW que foram alvo de ataques por serem da comunidade africana Massalit ou por serem ativistas que faziam reportagens sobre o conflito.

Pelo menos uma vítima disse que ficou grávida depois de ter sido violada por um combatente paramilitar.

Também esta quinta-feira, um grupo de 30 peritos independentes das Nações Unidas manifestou-se alarmado com os relatos “de uso generalizado de violação e outras formas de violência sexual” por parte dos paramilitares.

As mulheres e raparigas sudanesas nos centros urbanos, bem como em Darfur, têm sido particularmente vulneráveis à violência“, afirmaram numa breve declaração.

Os peritos apelaram às RSF para que “demonstrem o seu empenhamento no cumprimento das obrigações humanitárias e de direitos humanos”.

As RSF ainda não reagiram às acusações.

O procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, disse na semana passada ao Conselho de Segurança da ONU que estavam a investigar alegados novos crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Darfur.

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Estima-se que pelo menos 4.000 pessoas tenham sido mortas no conflito, segundo o gabinete dos direitos humanos da ONU.

Ativistas e médicos no terreno afirmam que o número de mortos é provavelmente muito superior.