Já morreram, pelo menos, 6.000 pessoas na sequência das inundações “catastróficas” em diversas cidades costeiras do norte da Líbia, de acordo com acordo com os números oficiais, citados pela Aljazeera esta quarta-feira. A Cruz Vermelha adianta que pelo menos 10.000 pessoas estão desaparecidas devido à tempestade Daniel e estima que o número de mortos possa situar-se nos 20 mil, de acordo com o The Guardian. As autoridades locais e internacionais avisam que o número de vítimas pode aumentar nas próximas horas.

Por outro lado, a Agência para as Migrações das Nações Unidas dá conta nesta quarta-feira de pelo menos 30 mil deslocados na cidade de Derna, no leste da Líbia, num relatório a que a agência Lusa teve acesso.

Contactado pelo Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que “não há conhecimento” de cidadãos portugueses nas regiões afetadas pelas cheias. Fonte oficial da tutela de João Gomes Cravinho adianta também que nenhum cidadão nacional contactou a representação diplomática mais próxima, na Tunísia.

Já durante a manhã desta terça-feira, o Governo português tinha expressado “solidariedade para com a Líbia”.

O Governo também não recebeu, de forma oficial, nenhum pedido de ajuda por parte da Líbia. A operação, a ocorrer, deverá ser feita de acordo com os mecanismos da União Europeia.

Tamer Ramadan, responsável da Federação dos Organismos da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, compara, em declarações à agência de notícias Associated Press, a situação na Líbia com a destruição do sismo em Marrocos. E avisa: o número de mortos vai ascender aos milhares, durante os próximos dias.

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Entretanto, três voluntários desta organização morreram, enquanto ajudavam vítimas no terreno. A informação é confirmada na rede social X pelo diretor da Federação dos Organismos da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

A maioria das vítimas mortais concentra-se em Derna, cidade no leste da Líbia. As mortes confirmadas já passavam, na segunda-feira, as dezenas após a tempestade Daniel, que entretanto se transformou num furacão no Mediterrâneo, ter provocado cheias devastadoras que arrasaram bairros inteiros, mas o balanço das autoridades sanitárias ainda não incluía a cidade de Derna, a mais atingida e ainda sem possibilidade de acesso para equipas de socorro.

O chefe do governo paralelo do leste líbio, Osama Hammad, definiu a situação em Derna de “catastrófica” ao referir-se a “milhares de desaparecidos, bairros inteiros arrasados e levados por um mar com os seus habitantes”.

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Segundo o Centro Nacional de Meteorologia líbio, a precipitação ultrapassou os 400 mililitros por hora, um valor que não se registava há quatro décadas. Um membro do Conselho Municipal de Derna, Ahmed Amdur, pediu uma intervenção internacional “urgente” para “salvar a cidade”.

O colapso de zonas residenciais e de edifícios e infraestruturas públicas e privadas, incluindo dois diques, implicou o bloqueio dos acessos rodoviários, com Amdur a pedir um corredor marítimo para fornecer auxílio aos habitantes desta cidade costeira situada na zona leste do país.

A destruição pode ser vista em vídeos comparativos que começam a surgir nas redes sociais, com cidades completamente inundadas. E o deserto ganhou lagos enormes, de cerca de 40 km, como mostram as imagens de satélite.

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A tempestade Daniel, que já tinha sido destrutiva para Grécia, Turquia e Bulgária, ganhou intensidade e força através da água quente e evoluiu para um medicane, furacão típico do Mar Mediterrâneo, que se têm tornado cada vez mais perigosos. Um estudo citado pela CNN revela que estes ciclones tropicais do Mediterrâneo se vão tornar num problema maior graças ao aquecimento global, uma vez que o aumento da temperatura da água implica o aumento da intensidade da tempestade.

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Abdulhamid Debiba, o primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional (GUN) com sede em Tripoli (oeste) prometeu que o Estado vai indemnizar as populações atingidas pelas inundações e decretou três dias de luto nacional pelas vítimas. Em simultâneo, anunciou o envio para Derna de 50 ambulâncias e uma equipa de 75 médicos e enfermeiros, para além de diverso material destinado a reforçar os hospitais das zonas rurais.

A missão das Nações Unidas na Líbia (Unsmil) declarou em comunicado que acompanha e perto a situação de emergência e manifestou “disponibilidade para fornecer apoio aos afetados”.

Após ter atingido a Grécia e Turquia nos últimos dias, o ciclone Daniel tornou-se numa tempestade subtropical em 9 de setembro e esperava-se que enfraquecesse sobre a Líbia a partir desta segunda-feira, quando se dirigia para o vizinho Egito, segundo o centro meteorológico regional árabe.

Que países enviaram ajuda para a Líbia?

O Qatar enviou pelo menos dois aviões de ajuda humanitária para a Líbia, de acordo com a Al Jazeera, incluindo bombas de água, tendas, cobertores e equipamentos para hospitais de campanha. O minitro dos Negócios Estrangeiros da Turquia também disse que enviaria três aviões com uma equipa de resgate composta por 168 elementos, além de dois veículos e dois barcos de salvamentos.

Os Emirades Árabes Unidos enviaram dois aviões com 150 toneladas de alimentos e materiais médicos. Itália vai enviar uma equipa com bombeiros e oficiais de segurança civil. O Egito, a Jordânia, a Tunísia, os EUA e o Kuwait também se comprometeram a enviar apoio.