O Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) considera que é necessário analisar o excesso de mortalidade que se está a registar em Portugal na faixa etária entre os 45 e os 64 anos. “Há uma série de circunstâncias que podemos e devemos analisar para perceber quem, quando, como e se se poderia ter feito algo para minimizar as situações”, sublinha Gustavo Tato Borges em declarações ao Observador.

A Direção-Geral da Saúde já garantiu que está a analisar as mortes em grupos etários mais jovens que, refere o médico, podem estar relacionados com a Gripe A, particularmente com o subtipo H1N1 que está em circulação. “Pode originar casos de doença grave com maior facilidade em populações mais jovens. Por isso, esta faixa etária pode estar a sofrer do facto de não ser alvo da campanha de vacinação sazonal para a gripe e, por isso, não estar tão protegida para a mesma”, assinala.

Tato Borges acrescenta que não se pode descartar fatores como as temperaturas baixas que se têm registado, bem como as dificuldades vividas no Serviço Nacional de Saúde. “Há outros fatores que também é difícil de ponderar, desde logo as dificuldades no SNS até à passagem de ano, que podem ter condicionado também algum excesso de mortalidade, bem como outros fatores que não estamos neste momento a conseguir identificar, seja uma maior sinistralidade rodoviária ou acidentes de trabalho ou qualquer coisa desta natureza que, para já, não esteja a ser percetível de forma evidente”, refere.

“Só com a análise da mortalidade de uma forma pormenorizada, que a DGS vai fazer, poderemos ter uma noção mais concreta de onde esteve a maior parte do risco e se estas situações eram inevitáveis ou evitáveis e o que podemos fazer para evitá-las no futuro”, acrescenta.

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Esta quinta-feira, a diretora-geral da saúde admitiu que Portugal vai manter “um excesso de mortalidade” esta semana devido às temperaturas baixas e a um grande número de infeções respiratórias em doentes acima dos 45 anos. “É previsível que esta semana ainda não tenhamos a descida de que estamos à espera e iremos manter um excesso de mortalidade nos 65 [anos e] mais e também nos 45-64 anos”, disse Rita Sá Machado em entrevista ao programa “Hora da Verdade” do jornal Público e Rádio Renascença.

A diretora-geral da saúde disse ainda que é importante olhar para estes dados no atual contexto das infeções respiratórias víricas em Portugal e de grande atividade epidémica. “Ainda temos um grande número de infeções respiratórias víricas e, por isso, ainda estamos numa altura que nos traz preocupação do ponto de vista de saúde”, indicou.

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Alargamento da vacinação é uma “medida interessante”

Para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, o alargamento da vacinação a camadas mais jovens é uma “medida interessante”. “Nunca conseguimos ter a certeza completa de qual é a estirpe que vai circular na nossa época gripal, pelo que não podemos assumir ou definir que a partir deste ano todas as pessoas com 45 ou mais anos deveriam ser vacinadas. No entanto, consideramos que o alargamento do grupo etário a vacinar a idades inferiores é uma medida interessante a nível da proteção da população”, refere.

Esta sexta-feira, o ministro da Saúde anunciou que a vacinação gratuita contra a gripe e também Covid-19 vai ser alargada às pessoas com mais de 50 anos de idade. “Daqui a algumas horas as pessoas com mais de 50 anos também se vão poder vacinar”, afirmou Manuel Pizarro, na inauguração da Unidade de Saúde do Beato, em Lisboa, referindo que a decisão tem a ver com a disponibilidade de vacinas.

Uma fonte oficial do Ministério da Saúde esclareceu entretanto ao Observador que foi ponderado começar logo nos 45 anos, mas que acabou por ser tomada uma decisão diferente — sem prejuízo de, mais adiante, poder alargar-se o programa até aos 45 anos, se for necessário.

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