O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, afirmou esta sexta-feira que a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) deve aproveitar a fragilidade da junta militar para procurar a resolução do conflito com milícias civis no Myanmar.

“Podemos impedir que o conflito no Myanmar fique pior, porque os militares estão mais enfraquecidos, estão desesperados, e são capazes de aceitar mediação de uma instituição credível e imparcial das tensões e rivalidades regionais que possam complicar a resolução da situação”, afirmou esta sexta-feira, num evento no Reino Unido.

Ramos-Horta manifestou esperança que o Papa Francisco, o qual encontrou na semana passada durante uma visita ao Vaticano, “tome uma iniciativa junto com a ASEAN”.

Até agora, alguns países daquela organização têm estado divididos na forma como resolver o conflito, o que levou alguns analistas a comentar que a situação no Myanmar representa uma ameaça existencial para a ASEAN.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Líder da junta militar no poder em Myanmar recebe enviado da Associação de Nações do Sudeste Asiático

Ramos-Horta considera que esta crítica é exagerada, mas reconhece que existe um problema.

“Até agora, ao fim de três anos, não houve progresso na resolução”, lamentou o vencedor do Prémio Nobel da Paz em 1996.

O presidente de Timor-Leste falava sobre a resolução de conflitos durante uma palestra na Warwick Economics Summit, uma conferência organizada por estudantes da Universidade de Warwick sobre economia e política internacional.

O golpe militar de 1 de fevereiro de 2021 mergulhou Myanmar (antiga Birmânia) numa profunda crise política, social e económica e abriu uma espiral de violência com grupos armados étnicos.

Um plano de paz de cinco pontos acordado há três anos não passou do papel, embora a Indonésia, que detinha a presidência, tenha saudado conversações “positivas” com as principais partes do conflito em novembro.

Ainda assim, o Presidente timorense reiterou a intenção de Timor-Leste aderir à ASEAN em 2025 e de contribuir para a estabilidade na região.

Seremos um membro modesto e humilde, na medida do possível, com a nossa vasta experiência na resolução de litígios”, sublinhou, salientando a importância de organizações multilaterais para mediar conflitos.

Ramos-Horta recordou a disputa com a Austrália sobre a Plataforma Continental marítima, que foi resolvida através da ONU, culminando num acordo em 2018.

“É a prova de que, recorrendo ao direito internacional e aos mecanismos de resolução de litígios, é possível evitar injustiças”, salientou.

A 23ª. edição da Warwick Economics Summit decorre até domingo e terá entre os oradores o governador do banco de Portugal, Mário Centeno, no sábado.

O Presidente de Timor-Leste regressa no sábado a Díli, depois de uma visita ao Reino Unido que durou uma semana, numa deslocação à Europa que o levou igualmente a França e ao Vaticano.