Num debate repleto de interrupções constantes, André Ventura e Paulo Raimundo usaram o passado como arma de arremesso um contra ao outro e foram do 25 de Abril aos tempos da troika, passando pelo apoio do PCP ao Governo do PS. De um lado o “orgulho” da não-aprovação das propostas do Chega, do outro o apontar de dedo a quem aprovou o governos socialistas.

Logo no arranque do frente a frente, Paulo Raimundo fez questão de referir que o PCP não acompanha iniciativas do Chega, quando questionado se concordava com a proposta para que se criminalize o enriquecimento ilícito, e atirou-se às privatizações, que culpa de serem as culpadas pela “subjugação” do poder político ao poder económico.

André Ventura quis puxar o debate para outro lado, questionou o secretário-geral do PCP sobre no programa eleitoral “aparentemente PCP [defender] a saída da União Europeia e do euro”, dizendo que “muda completamente” o cenário de discussão. Sem grande saída, nem ali nem adiante quando voltou a tentar a mesma jogada, o presidente do Chega debruçou-se sobre o tema da corrupção para sublinhar que a “principal prioridade” do partido é ” conseguir reduzir de 10 a 15% ao ano o valor que estamos a perder para a corrupção” — e que servirá, segundo diz, para implementar as medidas.

Trocam argumentos parte a parte — Ventura diz que os comunistas “inventam” argumentos sobre a corrupção e que têm “cegueira ideológica“, Raimundo garante que o PCP “não contribui para alimenta” —, mas o debate mais aceso surge quando o líder comunista faz uma colagem do presidente do Chega aos tempos da troika. “Pode-se prometer tudo agora, mas o objetivo central é chegar a esse tempo [de 2011] e é por essa razão que o Chega está obcecado em dar a mão ao PSD para interromper o projeto que foi interrompido em 2015”, atira Paulo Raimundo, que tinha à frente um Ventura indignado.

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Eu era deputado do PSD? Era governante?”, questionada, pedindo seriedade. Mas voltou ao tema logo que possível para dizer que a comparação seria como dizer que Paulo Raimundo é responsável pelo PREC, “pelas nacionalizações, pelas expropriações, pelos assassinatos” — o que, por sua vez, gera indignação no adversário.

E em clima quente e de acusações, André Ventura cavalgou a onda para colar Paulo Raimundo ao Governo de António Costa, dizendo que aprovou cinco Orçamentos do Estado e que agora se comportam como se não tivessem responsabilidade: “Paulo Raimundo e o PCP comportam-se como o irmão que tem um irmão problemático e está sempre a dizer que é problemático, mas no fim do dia amparam-lhe os golpes.”

Paulo Raimundo haveria de tentar fazer o mesmo e de demonstrar que deu “jeito” ao Chega “a chantagem do PS para termos tido eleições antecipadas em 2022”. Por outro lado, o líder comunista ainda quis esclarecer que o PCP pagou 490 mil euros de imposto em 2022 — ainda desafiou Ventura a trazer números para a discussão, mas o líder do Chega justificou não andar com um “manual de contabilidade” —, tudo para travar a “mentira” que o Chega espalha sobre os comunistas não pagarem impostos.

Sobre a imigração, em que Ventura reiterou a necessidade de criar “barreiras” justificando que até os países “mais desenvolvidos” da Europa “controlam a imigração”, o líder do Chega disse ainda que “não tem nada contra imigrantes”, mas resumiu com uma frase que já quase lhe serve de slogan: “Um dia não temos um país, temos uma bandalheira a céu aberto.” Paulo Raimundo defendeu que o maior problema está nos jovens que saem do país e saíram durante a troika e sublinhou que os que “vêm bater à porta” também estão à “procura de uma vida melhor”.

O diálogo mais revelador

Paulo Raimundo: Durante os tempos sombrios da troika, do corte das pensões, do corte dos salários, do corte subsídio de Natal, do maior aumento de impostos de que há memória, André Ventura estava a aplaudir aquelas opções.

André Ventura: Eu era deputado do PSD? Era governante? Sejam um pouco sérios. 

Paulo Raimundo: Pode-se prometer tudo agora, mas o objetivo central é chegar a esse tempo [de 2011] e é por essa razão que o Chega está obcecado em dar a mão ao PSD para interromper o projeto que foi interrompido em 2015.

André Ventura: Era o mesmo que eu dizer que o Paulo Raimundo, quando foi o PREC, estava no PCP e, portanto, é responsável por isso, pelas nacionalizações, pelas expropriações, pelos assassinatos. Ou não conhece a história de Portugal? Quando houve o 25 de Abril e o PREC vocês mataram pessoas, expropriaram, acha que é bonito entrar neste diálogo?

Paulo Raimundo: Tenha tento nas afirmações que está a fazer. 

André Ventura: Não me diz para ter tento, tenho a certeza do que estou a dizer.