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"Vamos limpar a direita." Ex-vice-presidente do Chega é candidato às eleições e aposta em campanha contra o partido que fundou

Saiu do Chega em rutura com Ventura, tentou uma aproximação ao PSD e acabou como cabeça de lista da coligação Alternativa 21, onde montou uma campanha de distanciamento ao partido que fundou.

Nuno Afonso, coordenador autárquico do Chega, Santarém, 10 de julho de 21021. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
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Nuno Afonso chegou a ser o braço direito de Ventura e tornou-se crítico do líder do Chega

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Nuno Afonso chegou a ser o braço direito de Ventura e tornou-se crítico do líder do Chega

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Nuno Afonso, ex-vice-presidente e fundador do Chega, é o cabeça de lista da coligação Alternativa 21 (Aliança e MPT) a Lisboa, ambiciona ser eleito deputado, e tem focado a campanha eleitoral na crítica a André Ventura e ao Chega, que acusa de “não representar os seus eleitores” e de ser um partido “catch all“. O ex-número dois de Ventura pede “coerência” e desafia o presidente do Chega para um frente a frente.

Assente no mote de que a coligação que encabeça é a “direita com quem se pode falar“, Nuno Afonso tem montado uma campanha contra o partido que ajudou a criar, desde logo através de um cartaz com a frase “Vamos limpar a direita” e onde André Ventura surge como representante da direita “bacoca” e com uma cruz vermelha por cima — uma comparação com os outdoors do Chega onde se pode ler “Portugal precisa de uma limpeza” e com cruzes nas caras de Ricardo Salgado, José Sócrates, António Costa e Fernando Medina.

Mais do que os cartazes e as parangonas, Nuno Afonso tem falado do Chega em praticamente todas as publicações que fez nas redes sociais desde que se anunciou como cabeça de lista independente pela coligação Alternativa 21. Logo no vídeo de apresentação afirmou que “não há alternativa à esquerda”, que “no PSD há muitas pessoas que não queriam esta coligação” e que no CDS há quem “não goste da coligação ou do líder do PSD”. E afasta o partido que fundou das soluções: “O partido Chega, o circo Chega da direita, é um partido que em quase cinco anos de Assembleia da República não conseguiu aprovar uma única proposta nem discutir de forma séria nenhuma das suas propostas ou das promessas que fez aos eleitores, portanto, na realidade, não representa os seus eleitores.”

Mas não se ficou por aqui. Nuno Afonso acusou André Ventura de ter mentido quando disse que em Braga 30% da população são imigrantes (um tema que foi trazido para o debate com Rui Rocha, que recordou a afirmação) e ironizou: “Bastava ter estudado um bocadinho mais e ir buscar os dados corretos em vez de mentir na televisão.” O ex-vice-presidente do partido defendia que há “um número bastante elevado, que é 10%, de alunos imigrantes nas escolas públicas de Braga”, sugerindo que o líder do Chega poderia ter usado esse argumento e que “meteu os pés pelas mãos”.

“Ao mentir e apresentar dados falsos e ao dizer que os malandros dos imigrantes vêm para Portugal de barco com o telemóvel na mão e que os brasileiros podem vir à vontade porque até falam português… esta pessoa destrói completamente a possibilidade de que alguém queira debater de forma séria este tema o possa fazer”, sublinha o candidato da Alternativa 21, que resume para dizer que “André Ventura não é patriota, nem nacionalista nem conservador, é uma mão-cheia de nada e o partido não é nada mais do que um albergue espanhol“.

Os cartazes para “chocar” e “ganhar visibilidade”

Nuno Afonso não se ficou apenas pelas críticas a André Ventura e estendeu-as a outras pessoas ligadas ao partido, desde logo a Cristina Rodrigues, a ex-deputada do PAN que é número três pelo Chega ao Porto. Fez um vídeo onde recordou que é uma “ativista LGBT que ia a todas as marchas”, que “propôs o fim das terapias de reconversão sexual e a criação de centros de abrigo para transexuais, quotas para empregabilidade de transexuais e que o aborto passasse das 10 semanas para as 16 semanas”. Aos olhos de Nuno Afonso, esta é a prova de que “o único intuito que existe no Chega é captar votos e chegar ao poder porque não representa pessoas nem ideias”.

A estratégia tem sido afastar-se do Chega, criticando duramente o partido e aquele que foi seu amigo durante vários anos, mas Nuno Afonso quer um frente a frente com André Ventura e usou as redes sociais para lançar o desafio, recordando que em 2019, quando o Chega ainda não tinha deputados, o líder do partido era “muito vocal relativamente ao tratamento que a comunicação social estava a ter com ele sobre um direito que lhe era negado, de debater nas televisões com os partidos ditos grandes”. “André, concordei contigo em 2019, foi uma vergonha o tratamento desigual que estavas a ter por parte da comunicação social e espero que sejas coerentes e aceites este debate“, disse, abrindo porta a um debate na televisão ou até no YouTube, com um moderador à escolha de Ventura.

Questionado pelo Observador sobre a estratégia de confronto com o Chega, Nuno Afonso explica que se trata de uma “fase inicial” pelo facto de considerar que disputam o mesmo eleitorado. “O Chega usa a mentira e nós queremos representar o diálogo”, sublinha, mostrando que pretende fazer um discurso “sério” em contraposição com o de um partido que “em cinco anos nunca aprovou uma proposta e não teve um debate sério” — sendo que Nuno Afonso foi inclusivamente chefe de gabinete de Ventura até ser afastado pelo líder do Chega.

“É preciso um partido de direita conservadora a afrontar o sistema, mas com respeito por toda a gente”, insiste, enquanto assume que a visibilidade da coligação é “mínima”, pelo que, a somar ao pouco dinheiro, era preciso que os seis cartazes entre Lisboa e Sintra, quatro deles com a cara de Nuno Afonso, servissem para “chocar, aparecer e ganhar visibilidade“.

O ex-vice-presidente do Chega assegura que teve três propostas para encabeçar listas e que optou pela Alternativa 21 porque “a Aliança tem exatamente os mesmos princípios que o Chega defendia em 2019”. E justifica a decisão por não ver “nenhuma hipótese” na conjuntura política atual, nomeadamente porque “não há nada na direita conservadora”. Apesar de assegurar que “a ideia não é ir contra o Chega“, Nuno Afonso afirma que se trata de um “partido sem ideologia e que tenta ser um catch all“. “Agora quer o eleitorado do PSD e está a trair o eleitorado que neles até agora”, acusa.

Da aproximação à AD ao desafio

Antes de aceitar este convite, tal como o Observador noticiou, houve uma aproximação de Nuno Afonso à Aliança Democrática. Nessa altura, o antigo militante número dois do Chega defendia que o PSD deveria tomar a iniciativa de liderar a discussão em temas que deixou de priorizar porque se o fizesse, assegurava, serviria de travão “ao crescimento do discurso mais radical” que tem sido protagonizado por André Ventura.

Fundador e antigo número dois de Ventura faz aproximação a Montenegro

O ex-vice do Chega, que chegou a acusar André Ventura de entregar o partido a uma deriva “extremista“, de “violência” e sem coerência ideológica, argumentava que uma eventual abertura do PSD permitiria “trazer todos aqueles que ainda não veem neste PSD uma verdadeira alternativa, mas que simultaneamente também percebem que o Chega não tem a capacidade de negociar ou levar a discussão temas fraturantes e importantes para a sociedade”. Se é verdade que Nuno Afonso admitia estar disposto a apoiar publicamente a Aliança Democrática e, eventualmente, integrar a futura lista de candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Lisboa, também é verdade o PSD teve conhecimento da disponibilidade do ex-Chega, mas recusou-se a entrar em “leilões”.

Nuno Afonso acabou mesmo por não ir nas listas da AD, é o cabeça de lista da coligação entre a Aliança e o MPT e tem-se servido do Chega para mostrar que ambiciona para o país um rumo diferente daquele que está a seguir o partido que ajudou a criar — e do qual se desfiliou após uma série de acontecimentos que o colocaram em rutura com André Ventura.

A queda lenta de Nuno Afonso. Ventura afasta número dois do Chega das listas de deputados

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