O porta-voz do Livre antecipou esta quinta-feira uma “luta renhida” no domingo e pediu ao Presidente da República para estar atento caso a direita “vire o bico ao prego” em relação ao Chega.

“No próximo dia 10 nós temos em confronto o campo da esquerda, do progresso e ecologia, e o campo da direita, da direita conservadora e da direita neoliberal. E está renhida esta luta, que vai ser disputada voto a voto, deputado a deputado, deputada a deputada“, sustentou Rui Tavares.

O deputado único do Livre, que falava num comício no Teatro Thalia que encerrou esta quinta-feira a campanha em Lisboa, considerou que “o crescimento do Livre na atual configuração política é o que dá mais garantias” de a esquerda poder vencer as legislativas antecipadas de domingo.

Num discurso de cerca de 20 minutos, o cabeça de lista do Livre por Lisboa deixou duras críticas à Aliança Democrática (coligação PSD, CDS-PP e PPM) e à sua postura perante o Chega. “Eles podem dizer que ‘não é não’ a um acordo escrito, mas ainda não ouvi dizer aos atuais dirigentes da AD a coisa mais simples que é: ‘Dali só vem perigo para a nossa sociedade, com eles não, com eles nunca, nem por escrito, nem falado, nem explícito, nem implícito, nem tácito, nem negociado, nem de maneira nenhuma'”, salientou.

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Tavares defendeu que o Chega terá de estar “excluído da governação” uma vez que “toda a gente excluiu alianças” com este partido. “Seria uma traição aos eleitores. E creio que o senhor Presidente da República teria que estar atento a isto se a partir do dia 11 começassem a virar o bico ao prego e a fazer alianças com aqueles que nunca fariam alianças antes do dia 10”, apelou.

Tavares assumiu ainda um outro objetivo eleitoral: quer o partido da esquerda verde europeia, o Livre, a crescer mais em proporção do que a extrema-direita no próximo domingo. Sustentando que tal é possível, “olhando para as sondagens e para a progressão nas intenções de voto”, o historiador concluiu que este será “o presente único que o Livre pode dar à democracia”.

Tavares defendeu que o Livre é um partido otimista “mas não é certamente um partido ingénuo”, criticando o PSD e Luís Montenegro por não ter “tirado o tapete” a André Ventura quando este se candidatou pelos sociais-democratas à Câmara Municipal de Loures.

Na sua intervenção, perante cerca de uma centena de apoiantes, Rui Tavares afirmou que um voto no Livre “tem três objetivos”: fazer o partido crescer e chegar ao grupo parlamentar, ajudar a esquerda a ganhar e “afastar extremistas do poder”. O historiador fez questão de salientar que o Livre é membro de pleno direito dos Verdes Europeus e apontou que partidos desta família política estão “no governo em oito países da União Europeia, incluindo na Alemanha”.

“Alguns vêm mostrar o ministro das Finanças alemão a apoiar o seu partido mas esquecem-se de dizer que estão no Governo porque governam com socialistas e com verdes como parceiros maioritários nesse Governo”, disse, numa referência à Iniciativa Liberal, que esta semana recebeu o apoio deste governante.

O deputado único mostrou-se convicto de que vários dos candidatos serão eleitos no domingo, e que irão apresentar propostas como a criação de uma rede de creches pública, a carta dos direitos da cidadania sénior, um novo modelo para o Ensino Superior mas também o reconhecimento do estado da Palestina.

Tavares pediu aos membros que falem “de futuro” e rejeitem o discurso “da divisão e do ódio”. “Sei que muita gente está preocupada e ansiosa, não é altura disso. É altura de alegria, de entreajuda, de darmos as mãos, de cerrarmos fileiras para que no próximo domingo, contados os votos possamos dizer ‘Futuro, és de novo o meu pais'”, apelou, numa referência ao título de um manifesto assinado por várias personalidades que apoiam publicamente o Livre e divulgado esta quinta-feira.

O autor deste manifesto é o escritor Jacinto Lucas Pires, que conta com assinaturas de nomes como a historiadora Raquel Henriques da Silva, o historiador Rui Bebiano, a editora e fundadora da Tinta-da-China Bárbara Bulhosa, o radialista David Ferreira ou a advogada Leonor Caldeira.