O direito à interrupção voluntária da gravidez já foi formalmente — e literalmente, com uma prensa do século XIX — inscrito na Constituição francesa, um passo inédito no mundo, mas que para Emmanuel Macron não significa que a batalha esteja ganha: o Presidente francês quer que a UE o reconheça como um direito na carta dos direitos fundamentais da União Europeia.

A cerimónia para a inscrição do direito ao aborto na Constituição francesa decorreu esta sexta-feira e foi literal: numa cerimónia aberta ao público para celebrar o Dia da Mulher, com recurso a uma prensa do século XIX em frente ao Ministério da Justiça francês, o direito ficou gravado na Constituição de 1958. Centenas de pessoas assistiram, escreve o Le Monde. Macron cumpriu, assim, a promessa feita há um ano.

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Prensa do século XIX inscreveu o direito na Constituição

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Centenas de pessoas assistiram à cerimónia que também celebrou o Dia Internacional da Mulher

No discurso, o Presidente francês defendeu que esta alteração “sela uma longa batalha pela liberdade”, “uma luta feita de lágrimas, tragédias e destinos quebrados” e é um pretexto para lembrar “o destino de gerações de mulheres privadas da mais íntima das escolhas: ter ou não ter um filho”.

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“O destino destas mulheres, o seu sofrimento, o seu medo, as moradas trocadas à socapa, as operações clandestinas, os gritos abafados, as recuperações impossíveis, o segredo, as suspeitas, os sermões, o risco de perder tudo, a felicidade e a vida”, disse, acrescentando: “Sim, durante demasiados anos, os destinos das mulheres foram selados por outros. As suas vidas capturadas, a sua liberdade desprezada”.

Mas para Macron este “não é o fim da história, é o início da luta“. Reconhecendo que há recuos noutros países em relação aos direitos das mulheres, traça um objetivo: “(…)Desejo a inscrição desta liberdade garantida de acesso ao aborto na carta dos direitos fundamentais da União Europeia“. E garante: “Não descansaremos enquanto esta promessa não for cumprida em todo o mundo”.

Em França, esta sexta-feira de Dia da Mulher foi marcada por várias manifestações no país pelos direitos da mulher, incluindo em Paris e em cerca de 200 outras cidades, sob o mote “o meu corpo, as minhas escolhas, os meus direitos” — na capital, com confrontos entre ativistas pró-Palestina e pró-Israel, descreve o Le Monde.