Os portugueses na bancada da Red Bull Arena foram incansáveis do primeiro ao último minuto. Os cerca de 15 mil lusitanos ficaram no topo norte do estádio do RB Leipzig e foram, na maior parte do tempo, quem mais se fez ouvir. Porém, um coração é um coração, e haja muita ou pouca crença, muita ou pouca voz, o futebol faz com que os batimentos subam, mas também baixem. Cristiano Ronaldo percebeu isso muito bem à passagem da hora de jogo. Ao minuto 60′, o capitão português aproveitou um lançamento de linha lateral para galvanizar a bancada, que se incendiou.

O fogo não durou para sempre e quando chegámos ao minuto 89′, a sensação que vinha das bancadas era de ansiedade. Não descrença, mas o facto de Portugal não estar a carregar, deixava no ar a ideia de que só uma bola parada ou algo semelhante daria a vitória à Seleção.

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Tanto que, quando Chico Conceição, Pedro Neto e Nélson Semedo se perfilaram para entrar, não houve uma reação muito audível da bancada. Essa veio só aos 89′: Diogo Jota atirou para o 2-1 e aí sim, a festa foi grossa. Estranhamente, apenas na bancada, porque no relvado os festejos dos jogadores foram travados pelas redes da baliza. Jota tentou pegar na bola, mas foi travado pelo guarda-redes checo. Travou-se um ligeiro sururu. A festa não era digna de golo decisivo e por isso mesmo — e apenas por isso (o fora de jogo era técnico) —, o árbitro decidiu anulá-lo.

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Com tudo de volta à estaca zero, consumaram-se finalmente as substituições, que também não foram particularmente recebidas com efusividade. Ainda assim, o golo, mesmo que anulado, galvanizou o público, e também Martínez, que teve dos momentos mais interventivos e entusiásticos no banco, desde que assumiu o comando técnico da Seleção.

Estava tudo pronto para a festa: aos 90′, Chico Conceição marcou e a melhor parte é que o festejo, desta vez, esteve à altura. Um clássico golo aos noventa. Todos a correr do banco para o herói. Coletes a misturarem-se com camisolas e uma a sair do corpo. Quando Chico saiu da montanha de jogadores que se atiraram a ele, já vinha em tronco nu e com a camisola a servir de amparo à emoção.

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Nas bancadas, os festejos tiveram o volume ainda mais elevado do que o golo anulado. Até seguranças, junto às escadas, contribuíram para os decibéis. Portugal venceu o primeiro jogo do Euro 2024, mas venceu também no ambiente. Agora seguem-se os turcos, que nisso, como na cerveja, são candidatos ao título.