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ILUSTRAÇÃO: LUIS GRAÑENA/OBSERVADOR
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ILUSTRAÇÃO: LUIS GRAÑENA/OBSERVADOR

LUIS GRAÑENA/OBSERVADOR

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LUIS GRAÑENA/OBSERVADOR

As playlists das presidenciais. O que ouvem os candidatos durante a campanha?

De Toy a Bowie, de Carlos Paredes a Weeknd, de Simone a Yann Tiersen o ecletismo musical dos candidatos é grande. O Observador desafiou-os a revelarem as músicas que ouvem durante a campanha eleitoral

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Diz-me o que ouves e dir-te-ei quem és. Marcelo Rebelo de Sousa foi o único que não saiu dos arredores de Lisboa na primeira semana, mas os outros seis candidatos andaram estrada fora (e até de avião). O Observador pediu a todos — incluindo o candidato-Presidente, que não aceitou — que indicassem quais as quinze músicas que ouvem no carro ou no telemóvel enquanto enfrentam a dureza destas duas semanas de campanha. O ecletismo é grande: há fado, hip-hop, world music, funaná, pimba, indie-rock, folclore entre vários outros estilos. Há UHF na lista de Ana Gomes, Cigarrettes after sex na lista de André Ventura, A Naifa na lista de João Ferreira, Dino D’Santiago, na lista de Mayan Gonçalves, David Bowie na lista de Marisa Matias e Adiafa, na lista de Vitorino Silva.

Alterando uma música cantada por Rui Veloso (escolhido por três dos candidatos) é caso para perguntar: é possível votar em alguém que não ouve a mesma canção? O Observador pediu ainda aos candidatos, caso quisessem, para darem uma breve justificação do porquê das escolhas. Três deles fizeram-no, outros três acharam que a música, por si, já era justificação suficiente. Além disso, dois jornalistas do Observador que são também residentes no programa da Rádio Observador Isto não passa na Rádio (Gonçalo Correia e Diogo Lopes) fizeram uma análise às playlists de todos os candidatos.

[Veja e sobretudo oiça (ative o som) quais são as escolhas dos candidatos presidenciais:

A playlist de Ana Gomes

A candidata socialista enviou as suas escolhas ao Observador logo nos primeiros dias do ano, que coincidiram com a morte de Carlos do Carmo e a primeira música da lista é precisamente do fadista: “A flor de verde pinho”. A letra é de Manuel Alegre, seu apoiante, que a meio da semana apareceu para dar uma força a Ana Gomes e dizer que, mesmo sendo amigo de Marcelo, como socialista não podia desertar desta luta ao lado da camarada de partido.

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Bernie Sanders, o democrata que chegou a ter a pretensão de unir a esquerda e as correntes progressistas nos Estados Unidos da América, foi entrevistado pela rapper Cardi B e há poucos meses tinha Jay-Z (“Brooklyn Go Hard”) na playlist. Ana Gomes, a candidata que quer o voto de todos os eleitores de esquerda em Portugal, não parece abanar a cabeça ao som de batidas de hip-hop — ou mesmo de canções recentes.

Das 15 canções que a candidata presidencial enviou ao Observador, só uma foi gravada em anos mais recentes. E é nova entre-aspas: trata-se de um fado icónico de Amália, gravado em 1969 e revelado em 1970 mas que Camané e Mário Laginha recriaram para um disco editado em 2019: o clássico “Com Que Voz”. Exclui-se o fado de Amália reinterpretado a voz e piano pela dupla e sobra “Encosta-te a Mim”, o êxito que Jorge Palma gravou em 2007, e “Portugal (somos nós)”, uma canção lançada pelos UHF no início desta década. Fora isso, temos 13 músicas do último século.

Das 14 canções, metade (sete, 50%) são de autores lusófonos. Há três escolhas de fado e duas de MPB — uma, “O Leãozinho”, de Caetano Veloso; a outra, “Valsinha”, cantada por Mónica Salmaso mas originalmente da autoria de Chico Buarque e Vinicius Moraes. Esteticamente há de tudo: fado e MPB, mas também morna, pop-rock, folk, ópera e soul.

As baladas predominam e o gosto clássico e por serenidade nas canções é notório. Há escolhas curiosas, como “Flor de Verde Pinho”, o fado com letra de Manuel Alegre e cantado pelo recém-falecido Carlos do Carmo que venceu o Festival da Canção de 1976 — superando “Estrela da Tarde”, que tinha letra de Ary dos Santos e voz igualmente do fadista, no que chegou a ser visto como uma espécie de duelo pós-revolucionário entre PS e PCP. Ou “Fragile” de Sting, com versos pacifistas (“nothing comes from violence / and nothing ever could”), “Woman” de John Lennon (apenas gosto pela canção ou a apelar à igualdade de género e ao voto feminino?), “Mar Azul” de Cesária Évora ou a solidária e esperançosa “Portugal (somos nós)” dos UHF, esta última lançada na era da crise financeira, recuperada recentemente pela RTP como hino de resistência à pandemia e que começa assim:

Segue em frente
não te vás abaixo
se o medo rondar
é só um mau bocado
que vai passaaaaaaar

A playlist de André Ventura

O candidato apoiado pelo Chega enviou as músicas no período de campanha e também não deu uma justificação específica ao Observador, mas apresentou uma lista também muito eclética. Algumas escolhas falam por si: As ilhas dos Açores, dos Madredeus, é claramente uma opção que André Ventura quis ter para lembrar que o Chega ajudou a que a direita conseguisse formar governo naquela região autónoma. O We Are The Champions, dos Queen, também encaixa na confiança de André Ventura, que acredita que vai ser primeiro-ministro e/ou Presidente da República. Há outras escolhas sem ligação aparente como o Summer of 69, de Bryan Adams, single que foi lançado quando André Ventura, que fez 38 anos na sexta-feira, tinha apenas dois anos.

Um dos exercícios mais interessantes que se pode fazer ao ver as sugestões músicas dos candidatos a Presidente da República é tentar adivinhar os momentos em que cada canção é ouvida. Por exemplo: Em que situação é que o candidato André Ventura ouve a belíssima e delicada “Comptine d’un autre été, l’après-midi”, de Yann Tiersen? No carro, entre comícios? À noite, em casa, para descomprimir? A imaginação é o limite. 

Divagações à parte, as sugestões de André Ventura mostram que o candidato apoiado pelo Chega é um homem do pop-rock, seja destes tempos ou de anos mais lá atrás: veja-se a predileção tanto pelos icónicos Guns n’Roses, com a “November Rain”, ou os Amor Electro com uma versão do clássico de José Cid “Cai Neve em Nova Iorque”, por exemplo. 

Ventura é também, notoriamente, uma pessoa que gosta de músicas mais calminhas: das 16 sugestões que deu ao Observador, só umas três ou quatro é que dariam para galvanizar uma arruada daquelas que este ano, nem vê-las (exemplo disso são, por exemplo, a “Summer of 69”, de Bryan Adams, ou a a “We Are The Champions”, dos Queen.

Uma das escolhas aparentemente mais fora do baralho — por ser bastante mais desconhecida que as restantes — é a “As Ilhas dos Açores”, dos portugueses Madredeus. Esta trilha instrumental lançada em 1990 (o segundo disco deste conjunto português, o Existir) afasta-se do cariz mais pop das outras sugestões, daí ficar a dúvida: Será uma achega política sobre o papel que o seu partido teve nas recentes eleições açorianas? Hum…

A playlist de Marisa Matias

A lista da candidata bloquista Marisa Matias é, entre todos os candidatos, aquela que tem mais intérpretes mulheres. Mera coincidência ou para garantir um equilíbrio de género, nenhuma das escolhas parece inocente. Vão desde a irreverência contemporânea de Capicua à garra desafiadora de Simone de Oliveira na Desfolhada.

É o gosto musical mais melómano, de quem coleciona discos (será?) ou pelo menos gosta o suficiente de música para não basear a sua playlists nos hits radiofónicos do momento. Marisa Matias vai a todas, da MPB à canção portuguesa mais politizada (de Sérgio Godinho e José Afonso), do hip-hop português e brasileiro ao cancioneiro americano mais clássico (“Those Boots Are Made For Walking”, cantada por Nancy Sinatra e escrita pelo mítico Lee Hazlewood).

As canções que a candidata bloquista tem na playlist de campanha podem ter sido as últimas a chegar — dos candidatos que acederam a revelar o que têm nos ouvidos, foi a última a enviar a lista de canções —, mas parecem ter sido pensadas com cuidado. Ao contrário da playlist de Vitorino Silva, por exemplo, que tem apenas duas canções de mulheres e 11 de homens (mas também a de Tiago Mayan e André Ventura são predominantemente masculinas), a de Marisa é mais equilibrada na distribuição dos intérpretes por género. Só a playlist de Ana Gomes, aliás, se aproxima minimamente no número de canções interpretadas por mulheres.

A música lusófona tem aqui um peso notório: das 15 canções, seis (mais de um terço) são de autores portugueses e três são de autores brasileiros. Ou seja, apenas seis das 15 canções (pouco mais de um terço) não são em português.

Além de serem boas, as canções enviadas pela candidatura de Marisa Matias ao Observador servem também como manifesto dos interesses e preocupações da candidata. Há várias escolhas com aparente simbolismo. Temos “A Desfolhada” de Simone de Oliveira, que abalou o Portugal de Marcello Caetano em 1969 com aquela força e aqueles versos (“quem faz um filho, fá-lo por gosto”). Temos a versão de Bruce Springsteen de “We Shall Overcome”, a canção pelo movimento dos direitos civis que nos EUA serve há décadas de hino progressista e de resistência e resiliência perante as dificuldades. Temos o homem oprimido que ninguém vem levantar do chão de “Vejam Bem” de José Afonso, temos o amor e o trabalho nas “Horas Extraordinárias” de Sérgio Godinho, o “Medo do Medo” de Capicua, rapper de esquerda, feminista que aqui dispara contra tantos medos contemporâneos: “Eles têm medo de que não tenhamos medo”. Uma canção que pode servir como vacina para o medo paralisante da pandemia como para os medos que alimentam, para a candidata, a extrema-direita em que coloca André Ventura.

O Brasil chega-nos também pela voz de dois dos maiores mestres da canção brasileira, Chico Buarque — com a politizada e fabulosa “Construção”, uma canção genial na composição e na intrincada teia narrativa sobre a morte de um trabalhador da construção civil, o pobre a quem o mundo não liga pevide — e Elis Regina, com “Madalena”. Temos canções mais recentes (“Elephant Gun” dos Beirut, “AmarElo” do rapper brasileiro Emicida), temos música francófona (“La Valse à Mille Temps” do inigualável Jacques Brel), o clássico “Por Este Rio Acima” de Fausto Bordalo Dias e temos canções cujo simbolismo pode ser menor mas que dão saudades de dançar (tê-las-á Marisa?): “Fever” de Peggy Lee e “Absolute Beginners” de David Bowie. A bloquista não é estreante em campanhas, não é novata ou beginner nenhuma, mas diz-se que a vida é melhor quando se vive tudo com o vigor de quem nunca viveu nada. E não nos admiraríamos se esta canção de amor, onde ouvimos Bowie cantar “As long as we’re together / The rest can go to hell”, servisse como uma espécie de comprimido e contrapeso para o ódio que Marisa Matias quer combater na política. Em especial se o comprimido humanista for para o frágil, o oprimido que não o é, considera Marisa Matais, por culpa do Estado mas por culpa das grandes multinacionais, do grande capital, da especulação, do lucro robótico e anti-humanista.

A playlist de João Ferreira

O candidato apoiado pelo PCP tem uma playlist patriótica e de esquerda, que podia ser bem um cartaz na Festa do Avante!. Há também muitas das músicas escolhidas que passam nos Congressos do PCP e outras que são de autores que militaram no PCP, como é o caso de Carlos Paredes e José Afonso.

Na justificação da escolha, João Ferreira diz ao Observador que “não é fácil a escolha de apenas 15 canções que nos acompanhem”, desde logo “porque há músicas que nos acompanham por um curto período e, nessas circunstâncias concretas, não deixam de ter significativa importância e outras há que nos acompanham toda a vida e, num determinado período, podem não estar tão presentes”.

João Ferreira explica que este conjunto de músicas que escolheu tem desses “dois tipos” de critério mas são o que o candidato chama de “músicas todo o terreno, que nos embalam e dão força para continuar a acção e a luta”. Além disso, o candidato comunista classifica estas como “músicas que nos falam do nosso País, na sua diversidade, músicas de coragem e de confiança, músicas que, também elas, nos ajudam a abrir um horizonte de esperança.”

Se o PCP tivesse conseguido domar o fluxo espaço-temporal, criado uma máquina do tempo e, à conta disso, ter conseguido fazer uma festa do Avante com um cartaz musical cheio de artistas que já partiram e referências mais atuais, esse certame seria a playlist sugerida pelo candidato apoiado por este partido, João Ferreira. 

As 16 sugestões do candidato do partido comunista são o equivalente a um dia na Quinta da Atalaia em shuffle — só falta uma dose de sopa à lavrador servida no restaurante de Coimbra. Independentemente disso, é mais um candidato com escolhas quase todas portuguesas onde não faltam gigantes absolutos como José Afonso (“Venham Mais Cinco”), Carlos Paredes (“Verdes Anos”) ou Luís Cília (“Conde Niño). 

Os instrumentais também parecem ser muito apreciados por João Ferreia, especialmente se incluírem um acordeão e/ou uma flauta ou bandolim. “Horage”, dos portugueses Uxu Kalhus, é um exemplo disso. A espaços soa a algo que poderíamos ouvir numa feira medieval mas no geral remete mentalmente para um cenário alegre e bem disposto. A “Martin-Pêcheur / Pink Molly”, do duo belga Naragonia (que, curiosamente, diz que se formaram em Portugal, na sequência do festival Andanças de 2003), também é um exemplo deste apreço por instrumentais… com acordeão. 

No geral, os universos da chamada world music e da canção portuguesa de folclore/intervenção dominam as sugestões do candidato. Apesar da haver muita preponderância de sonoridades dos tempos da revolução de 74, João Ferreira também tem sugestões mais atuais como A Naifa (“Gosto da cidade Marianna e Chamily”), Deolinda (“Seja Agora”) ou até mesmo Dead Combo (“Lisboa Mulata”). Em conclusão, é a playlist que se esperava de um candidato do PCP e não há mal nenhum nisso.  

A playlist de Tiago Mayan Gonçalves

O candidato da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves escolheu o Porto Sentido, a sua cidade, uma escolha que também consta da lista de André Ventura. O portuense escolhe ainda, de forma que pode ser vista como provocatória, “Os Loucos de Lisboa”, da Ala dos Namorados. A Iniciativa Liberal tem o seu bastião na invicta e apostava tudo, nas últimas eleições legislativas, em eleger deputados no Porto (onde tinha como cabeça de lista o então líder do partido, Carlos Guimarães Pinto), acabaram por ser, no entanto, os loucos (do distrito) de Lisboa a eleger um deputado da IL. Há ainda músicas na playlist que fazem apologias à liberdade total e sob várias formas, o que não surpreende vindo de um liberal.

O próprio Tiago Mayan Gonçalves começa por justificar estas escolhas ao Observador da seguinte forma: “As músicas que escolhi começam com as minhas raízes e identidade. São músicas que gosto de ouvir no dia a dia e também durante a campanha.”

O candidato da Iniciativa Liberal explica que “o simbolismo de cada música representa o que esta campanha e o que a onda liberal em Portugal tem sido”. E acrescenta: “A minha playlist é eclética e demonstra o que o liberalismo representa de melhor: a liberdade e a vontade de oferecer a escolha aos indivíduos.”

Em 2020, Bob Dylan lançou uma canção de 17 minutos chamada “Murder Most Foul” em que cantava: “I hate to tell you mister / but only dead man are free”. Tiago Mayan, que não tem “Murder Most Foul” na playlist de campanha, tem outra ideia: e nesta sua primeira grande aventura política tem-se fartado de clamar pela promoção de mais liberdade e autonomia dos cidadãos face ao Estado. Quer os homens e as mulheres do seu país mais livres — economicamente também, mas não só.

Na sua playlist, o candidato da Iniciativa Liberal, ecuménico, tem uma canção para o Porto (“Porto Sentido”, de Rui Veloso) e outra para Lisboa (“Os loucos de Lisboa”, da Ala dos Namorados). E tem uma clara predileção pela soul americana, essa estética da canção negra e do país retratado tantas vezes como a terra da liberdade e dos sonhos.

A soul de libertação, de emancipação individual, de defesa de direitos cívicos e do direito à auto-determinação, do respeito pela individualidade, está em canções como “Respect Yourself” dos The Staple Singers. E o lamento pela falta de liberdades, que Tiago Mayan Gonçalves também vê no seu país, ouve-se em “None Of Us Are Free” de Solomon Burke, embora a canção tivesse as chagas da escravatura em pano de fundo. Mas no gosto musical eclético de Mayan, em algumas canções digno de melómano e grande conhecedor musical, cabe ainda uma versão dos portugueses Clã da libertária “I’m Free”, dos The Rolling Stones.

Apostando em sonoridades mais jovens do que, por exemplo, Ana Gomes — temos hip-hop com Eminem (“8 Mile”), o novo R&B com The Weeknd (“Blinding Lights”) e até a mistura entre o R&B, a música de dança eletrónica e os ritmos clássicos de Cabo-Verde e do funaná de Dino D’Santiago (“Como Seria”) —, Tiago Mayan também ouve o rock mais visceral de “Smells Like Teen Spirit”, dos Nirvana. Um olho piscado à juventude (ao “espírito da juventude”) para combater a abstenção?

Mesmo sem uma campanha a rolar a toda a velocidade pelo país, “Vida de Estrada” dos Diabo na Cruz está na coluna — uma canção-crónica da vida em Portugal onde até há referências aos impostos que Mayan considera que asfixiam os portugueses (“iUC, IMI, IRS / Paga, paga, esquece, esquece”). A montanha de afirmação eleitoral é longa, mas quiçá o embalo da voz de Marvin Gaye ajude à confiança: “Ain’t No Mountain High Enough”.

A playlist de Vitorino Silva

O candidato que em 2016 conseguiu mais de 150 mil votos, decidiu enviar apenas 13 músicas ao Observador, ao invés das 15 que foram pedidas. Há outras originalidades nas escolhas de Vitorino Silva. Desde logo, esta é a única playlist em que um candidato escolhe uma música de que o próprio é autor: Pão com Manteiga, que também é o nome de uma banda paulista de rock progressivo de meados dos anos 80. Foi este o título que Tino de Rans enviou ao Observador, mas a música também aparece com o nome que se assemelha a um romance de Charles Bukowski: “Pão Pão, Fiambre Fiambre”. Outra particularidade é que Vitorino Silva fez uma escolha 100% portuguesa. É essa influência, aliás, que Vitorino Silva pretendeu destacar na justificação das escolhas enviada ao Observador: “Escolhi estas música porque são cantadas na minha língua, em português. Porque temos que valorizar a cultura e património nacional e porque a música é uma área que me é querida“.

Vitorino Silva pode parecer um daqueles fenómenos astrológicos que só se verificam de X em X anos (de cinco em cinco, neste caso, assim dita a periodicidade das eleições para a Presidência da República) mas a verdade é que quando diz que é o candidato “do povo que é realmente do povo”, tem bastante razão, basta ver a sua playlist. Que atire a primeira pedra o comum mortal que nunca vibrou com a “Playback”, de Carlos Paião (daquelas boas para cantarolar alto numa road trip), ou a “Toda a Noite”, do Toy (a acompanhar um bailarico de amigos com uns quantos copos a mais).

A seleção 100% portuguesa de Vitorino Silva podia muito bem ser vendida em formato CD ou cassete, num daqueles mostruários rotativos em ferro das estações de serviço de antigamente, e isso é muito bom sinal. É autenticidade. Honestidade até, muito provavelmente. Conhecendo a pessoa em questão não se torna nada difícil ou forçado imaginar tudo aquilo a tocar num radiozinho tímido ao mesmo tempo que se reforça um passeio ou uma calçada. É no mínimo interessante imaginar ter isso mesmo a soar nos corredores de Belém.

De resto vê-se nesta seleção onde não faltam temas mais emotivos como as “Cartas de Amor”, de Tony de Matos, ou a versão de Mariza de “Gente da Minha Terra”; e canções mais “patuscas” como a “Não Há Estrelas No Céu”, de Rui Veloso, ou na “Postal dos Correios” do super-grupo português Rio Grande (nele figuraram nada mais nada menos que Rui Veloso, Tim, João Gil, Jorge Palma, Vitorino e João Monge), o cariz mais sonhador de Vitorino Silva. Com estas escolhas mostra que o homem e o candidato são a mesma pessoa: simples, orgulhosa, e ligeira.

[Ouça aqui o programa ‘Isto Não Passa na Rádio‘ especial sobre as playlists dos candidatos presidenciais]

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