[Este é o 5.º de uma série de seis artigos sobre marcas de bebidas não-alcoólicas. Os anteriores podem ser lidos em:]

A estimativa de vendas globais de águas engarrafadas para 2021 ascende a 300.000 milhões de dólares (dos quais 70.000 milhões nos EUA, que são o maior consumidor), correspondentes a 500.000 milhões de litros (o que dá cerca de 60 litros por cada habitante do planeta). Outra estimativa, da Business Research Company, aponta para vendas globais de 350.000 milhões de dólares, que representam um crescimento de quase 100% em relação a 2013. O consumo de águas engarrafadas não só tem vindo a aumentar consistentemente como todos os estudos de mercado prevêem que continue nesta senda: a Grand View Research estima uma taxa de crescimento médio anual de 11% até 2028, altura em que o volume de vendas ultrapassará os 500.000 milhões de dólares.

O que estará por trás destas tendências? Um relatório da Mordor Intelligence sobre o mercado de águas engarrafadas afirma que a procura destas “é impelida pelo receio de doenças, em consequência de casos de contaminação da rede pública de água”. É duvidoso que assim seja, pois é nas regiões em que a maior percentagem da população está coberta pela rede pública e em que esta cumpre mais elevados padrões de qualidade – América do Norte e Europa – que mais se bebe água engarrafada (nos EUA, 44% da água bebida é engarrafada).

“O aguadeiro de Sevilha”, por Diego Velázquez, c.1620

Para se perceber a verdadeira natureza destas tendências, há que recuar até aos “bons velhos tempos” em que tudo era “natural” e “são”, antes de os “dark satanic mills” e o capitalismo terem corrompido tudo. É frequente ler-se que os gregos e romanos da Antiguidade Clássica costumavam tomar o seu vinho cortado com água, mas este hábito, aparentemente bizarro, oculta outra realidade: o que os gregos e romanos bebiam mais frequentemente era água a que fora adicionado vinho, uma vez que a água a que a maioria das pessoas tinha acesso não só sabia mal como tinha uma boa probabilidade de transmitir doenças, e o vinho actuava como desinfectante e disfarçava o sabor desagradável. Foi por razões análogas que o hábito de beber café e chá ganhou rapidamente tantos cultores nas cidades europeias do século XVII, já que nestas a norma era ferver a água, cuja salubridade continuava a ser duvidosa, e a água fervida tem um gosto pouco agradável.

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Hoje, as razões para que os habitantes dos países desenvolvidos evitem a água da torneira e consumam cada vez mais água engarrafada nada têm a ver com riscos para a saúde; fazem-no porque:

1) preferem o sabor das águas minerais
2) têm dinheiro para gastar
3) a publicidade conferiu às águas engarrafadas uma aura de elegância, benefícios para a saúde e exclusividade.

A aura de snobismo em torno das águas engarrafadas e a capacidade da publicidade para lançar vogas são antigas, como atesta esta observação de Groucho Marx: “A água para consumo humano do famoso Lago Michigan possui agora uma combinação de sabores de cloro, de água do canal de drenagem, de iodo e de solha-do-lago. Em breve será engarrafada e comercializada como uma bebida de sabor próximo do da cerveja”. Mas o consumo de água engarrafada no tempo de Goucho era uma ínfima fracção do que é hoje, o que tem implicações sérias na pegada ambiental da humanidade (ver Urinar no duche não adia o fim do mundo).

“O aguadeiro”, por Ludwig Deutsch, 1891

Nestlé Waters

Embora a Nestlé seja mais imediatamente associada a produtos alimentares, Henri Nestlé entrou no negócio das águas minerais logo em 1843, 23 anos antes de ter fundado a empresa que lhe daria renome e seria a base do império Nestlé, a Farine Lactéee Henri Nestlé.

O sector de águas da Nestlé foi crescendo, por aquisição de outras empresas, e constitui-se como sub-grupo dentro da Nestlé em 1958. A Nestlé Waters é hoje a empresa n.º 1 no ramo das águas a nível mundial, com receitas anuais de 7800 milhões de dólares (em 2019) repartidas por 48 marcas, que incluem além das vedetas Perrier e San Pellegrino, outras menos conhecidas como Acqua Panna, Aquarel (rebaptizada, nalguns mercados, como Nestlé Pure Life), Arrowhead, Contrex, Eco de los Andes, Glaciar, Hépar, Korpi, La Vie, Levissima, Nestlé Vera, Ozarka, Poland Spring, Sohat, Sta. María, Valvert, Viladrau e Vittel.

A maior parte destas marcas serão desconhecidas do consumidor português, já que a maioria das marcas de águas têm expressão apenas a nível nacional ou regional: a água é uma mercadoria com baixo valor por unidade de peso e, consequentemente, o custo de transporte tem elevado peso no custo final, pelo que a maioria das marcas é comercializada num raio não muito distante da sua fonte e só as marcas do segmento prime são vendidas a um preço que justifica distribuição à escala global.

Évian

A origem da marca de água mineral Évian pode ser rastreada até 1789, quando, num passeio pela região alpina da Alta Sabóia, o conde Jean-Charles de Laizer (1734-1806, por vezes identificado como “marquês de Lessert”) descobriu na água da fonte de Sainte-Catherine, perto de Évian, um alívio para os seus padecimentos de rins e fígado e tratou de publicitar as suas virtudes. Em 1823, a fama da fonte, entretanto rebaptizada como Cachat, por estar situada num terreno pertencente a uma família com este nome, justificou que o empresário suíço Fauconnet fundasse a Societé des Eaux Minérales d’Évian. Esta acabou por falir e, sob o nome de Societé Anonyme des Eaux Minérales de Cachat, ficou, a partir de 1859, sob o controlo de empresários parisienses, que fizeram construir o Grand Hôtel des Bains, dando continuidade às primeiras termas, construídas em 1827 pelos Cachat. No ano seguinte, um referendo ditou que a Sabóia, que vacilava entre unir-se à Suíça ou à França, optasse pela segunda e Évian foi, pouco a pouco, convertendo-se num dos mais populares destinos termais das classes possidentes francesas, com estabelecimentos hoteleiros a brotar ao longo da segunda metade do século XIX.

Foto do início do século XX da Buvette Cachat, estabelecimento termal erguido no lugar do que fora construído em 1827 pela família Cachat

Em 1964, o grupo BSN (futura Danone) adquiriu uma participação de 25% na Societé Anonyme des Eaux Minérales de Cachat e expandiu a sua comercialização, que até então se fizera quase exclusivamente em farmácias. Em 1970, a Danone assumiu o controlo integral da marca Évian, que hoje vende anualmente 1500 milhões de litros, sendo a marca de água mineral n.º 1 em França (que consome 40% da produção da Évian), Suíça, Reino Unido e Canadá. A divisão de águas da Danone vende anualmente 18.000 milhões de litros e é o 2.º maior grupo neste ramo, atrás da Nestlé Waters.

Perrier

A fonte de Les Bouillens, em Vergèze, perto de Nîmes, na Provença, reclama uma fama bem mais antiga do que a da fonte de Cachat, pois consta que o general cartaginês Aníbal nela se terá dessedentado quando ia a caminho da Península Itálica com o seu exército – é o tipo de lenda que confere respeitabilidade a uma marca e tem a vantagem de não poder ser desmentida.

A água naturalmente gaseificada de Les Bouillens (o nome da fonte provirá das “bulles” = bolhas) levou os romanos a construir termas no local; este uso das águas foi retomado, agora em regime de exploração comercial, em 1841, com a inauguração da Estância Termal de Vergèze. Esta foi destruída por um incêndio em 1869 e, após ter passado quase 30 anos fechada, foi adquirida em 1898 pelo médico Louis Perrier (1835-1912), que reabriu as termas e deu início ao engarrafamento e comercialização da água; porém, necessitando de capital para modernizar a exploração, em 1903 convidou William St. John Harmsworth (1876-1933), membro de uma abastada família britânica (os seus irmãos mais velhos eram magnatas da imprensa) que andava em turismo por França e por acaso passara por Vergèze, a ser seu sócio. Harmsworth acabaria, três anos depois, por adquirir toda a empresa: encerrou a estância termal e focou-se na comercialização da água, dando à empresa o nome Compagnie de la Source Perrier. Nesse mesmo ano, Harmsworth sofreu um acidente de viação que o obrigou a uma longa recuperação – as maças indianas que usou nos exercícios de fisioterapia inspiraram-no para desenhar a garrafa que se tornaria numa imagem de marca da Perrier.

Advertisement for Perrier water, 1905.

Anúncio à Perrier, 1905

Entretanto, Harmsworth, que possuía um apurado sentido de marketing (e uma invejável rede de influências e conhecimentos), conseguira, em 1905, que a casa real inglesa nomeasse a Perrier como fornecedor oficial, e começou a publicitar a Perrier na Grã-Bretanha (nomeadamente nos jornais dos irmãos) como “o champanhe das águas de mesa”, tirando partido da reputação de duas marcas de champanhe com “Perrier” no nome (mas sem qualquer relação com Louis Perrier ou Vergèze), a Laurent-Perrier e a Perrier-Jouët. Estas campanhas conseguiram implantar a marca no Reino Unido e nos EUA, chegando estes dois mercados a absorver 95% da produção.

O design da garrafa de Perrier sofreu alguns ajustes com o passar do tempo, aproximando-se de proporções mais convencionais

Em 1954, a Perrier adquiriu a água mineral Contrex (cujo nome e actual imagem gráfica sugerem mais um medicamento do que uma água) e estreou-se no ramo das águas aromatizadas com a Pschitt, um nome que reaproveitou um slogan criado em 1946 para a Perrier, “a água que faz pschitt”, numa alusão ao som produzido pela abertura da garrafa (Pschitt é uma marca que dificilmente singrará em mercados anglófonos).

As décadas de 1970-80 foram marcadas por importantes aquisições (algumas na área dos refrigerantes) e por novas apostas nas águas aromatizadas. Em 1990, a Perrier tornou-se na água gaseificada mais vendida do mundo e decidiu restruturar o grupo empresarial, alienando as marcas de refrigerantes e mantendo as águas aromatizadas. 1990 foi também o ano de um escândalo de grandes proporções: uma contaminação com benzeno (substância cancerígena) na linha de engarrafamento obrigou à recolha e destruição de 280 milhões de garrafas e causou sérios danos à imagem da marca. A quebra nas vendas e a queda da cotação bolsista do grupo Perrier deu ensejo à Nestlé Waters para, em 1992, lançar uma OPA, e obter o seu controlo, para o que desembolsou 2600 milhões de dólares.

A Perrier continua a ser líder nas águas gaseificadas, vendendo anualmente mais de 1400 milhões de garrafas, 46% das quais fora de França.

Spa

Embora tenha difusão internacional, a água mineral Spa não está entre as mais vendidas; mas vale a pena mencioná-la para dissipar um equívoco persistente: o de que o termo “spa”, que designa, em várias línguas, uma estância termal onde as águas minerais que brotam naturalmente no local são usadas em tratamentos medicinais, é o acrónimo do latim “salus per aquam”, ou seja, “saúde através da água”. É uma falsa etimologia, já que o termo “spa” provém da cidade belga de Spa, cujas águas minerais eram afamadas desde a Antiguidade Clássica (são mencionadas por Plínio o Velho) e se tornou no século XVIII num dos mais concorridos locais de tratamento e vilegiatura para a realeza e aristocracia europeias.

Vista de Spa por Matthäus Merian, 1647: a fama de Spa está patente na legenda que qualifica o lugar como “amoenissimus et saluberrimus”

Não eram só as cabeças coroadas que afluíam às águas minerais de Spa, estas também cedo começaram a ser engarrafadas e expedidas para diversos países europeus (“desde 1583”, proclama o logótipo da marca Spa), ainda que só em 1921 tenha sido constituída a Compagnie Fermière des Eaux Minérales de Spa (depois Spa-Monopole), que começou a comercializar águas com a marca Spa (provenientes de três fontes com características distintas: Reine, Marie-Henriette, Barisart). A Spa-Monopole foi rebaptizada como Spadel, alargou actividade às limonadas e adquiriu as águas Bru (Bélgica) e Watwiller e Carola (França), sendo responsável pela venda anual de 570 milhões de litros de água mineral.

S. Pellegrino

As águas minerais de San Pellegrino Terme, na província de Bergamo, têm uma reputação que remonta à Idade Média e terão até suscitado uma viagem de prospecção de Leonardo Da Vinci, a mando de Ludovico Sforza, Duque de Milão. Porém, só em 1760 foram construídas umas termas muito sumárias e foi preciso esperar por 1901 para que o local ganhasse uma estância termal a sério, complementada em 1906 pela inauguração de um hotel e de um casino. O engarrafamento e comercialização da água começara em 1899, com a criação da Società Anonima delle Terme e ganhou impulso com a mecanização do processo em 1928. O grupo Sanpellegrino S.p.A. lançou a sua primeira laranjada (Aranciata Sanpellegrino) em 1932, adquiriu a água mineral Acqua Panna em 1957 e fez uma forte aposta nos refrigerantes na viragem dos anos 50-60; em 1997, foi adquirida pela Nestlé Waters, um passo decisivo na ambição deste grupo de se tornar no n.º 1 do sector das águas minerais.

Em 2010, a Sanpellegrino S.p.A. vendeu um total de 1000 milhões de garrafas, repartidas entre água mineral, águas aromatizadas e refrigerantes.

A água mineral S. Pellegrino, à direita, e a gama de refrigerantes do grupo Sanpellegrino, num anúncio de 1959

Acqua Panna

No que respeita a antiguidade e pergaminhos aristocráticos (virtudes que as marcas comerciais gostam de exaltar), poucas águas são capaz de rivalizar com a Acqua Panna, que se gaba de remontar a 1564 e de ser a água favorita dos Medici. É captada em Villa Panna, nos Apeninos (Toscana), no que foi, no século XVI, uma reserva de caça dos Medici; o “1564” no rótulo é, claro, pura fantasia, já que o engarrafamento e comercialização desta água só começou em 1880. A Acqua Panna foi adquirida pelo grupo Sanpellegrino e faz hoje parte da Nestlé Waters.

Acqua Panna

Poland Spring

A Poland Spring é uma das águas mais vendidas nos EUA – em 2006 chegou a estar no 1.º lugar do ranking – mas é desconhecida na Europa, até mesmo na Polónia, ao contrário do que o seu nome possa sugerir. O nome da marca provém da cidadezita de Poland, no estado americano do Maine, e, embora os EUA alberguem uma considerável comunidade com origem na Polónia, cuja influência está patente nos nomes de povoados como Pulaski, Kosciusko, Lublin, Breslau, Warsaw e Panna Maria (Virgem Maria), o nome atribuído em 1795 a um povoado no Maine foi escolhido apenas porque era o nome da canção favorita de um dos primeiros habitantes da cidade.

Hiram Ricker, que explorava uma estalagem em Poland, começou a elogiar as virtudes medicinais da água local em 1844, o que teve o condão de atrair hóspedes em grande número. Este afluxo levou Ricker a começar a engarrafar a água, a partir de 1859, e a ampliar e reconstruir a sua modesta estalagem, dando lugar, em 1876, a uma imponente estância termal, a Poland Spring House. A Poland Spring foi comprada em 1980 pela Perrier, que, por sua vez, foi “engolida” pela Nestlé Waters em 1992.

Poland Spring House, c.1920

No século XXI, a Poland Springs viu-se alvo de polémicas que revelam um dos tremendos equívocos (para não usar palavra mais contundente) em que assenta o negócio das águas minerais: descobriu-se que parte da água vendida com o rótulo Poland Springs era comprada a fontes situadas em cidades vizinhas, nomeadamente Fryeburg e Hollis, e que outra parte era extraída do subsolo dos arredores de Poland e submetida a tratamento; na verdade, a água que jorrava da fonte original em Poland seria incapaz de alimentar os 3600 milhões de litros vendidos anualmente pela marca.

Outras águas minerais

Quando um produto até então visto como símbolo de exclusividade e estatuto social se dissemina no mercado de massas, as elites tendem a reagir buscando versões mais sofisticadas e dispendiosas do mesmo. O processo tem sido particularmente visível no consumo de água engarrafada: agora, que qualquer membro da classe média do mundo ocidental pode beber Perrier ou Évian, as classes possidentes passaram a beber Voss e Fiji – e os que já bebiam estas marcas, incomodados pela “intrusão” de gente de um escalão “inferior” na sua esfera, trataram de migrar para águas de proveniências mais remotas e extravagantes. São algumas das marcas dos escalões superiores que se tratam em seguida.

Existe um local na Noruega com o nome de Voss, mas a aclamada água norueguesa Voss não vem de lá mas de Vatnestrøm, que fica a 400 Km de distância – Voss foi escolhido simplesmente porque soa bem e porque Vatnestrøm daria um nó nas línguas dos não-noruegueses.

Já a Fiji Water vem mesmo das Ilhas Fiji – mais precisamente do vale de Yaqara, na ilha de Viti Levu – o que, como estas ficam no meio do Oceano Pacífico, significa que cada garrafa tem de percorrer dez ou vinte mil quilómetros até encontrar o seu consumidor. Este facto desfaz a aura de “sustentabilidade” urdida pela propaganda da marca: “a Fiji Water é uma dádiva da Natureza para connosco e cabe-nos retribuir, deixando-a em paz. Engarrafada na fonte, intocada pelo homem”. Esta proclamação ganha um sabor algo amargo quando se sabe que metade da população das Fiji não tem acesso a água potável.

A Kona Deep também vem do Pacífico – para ser mais preciso, do fundo do Oceano Pacífico, ao largo do distrito de Kona, na ilha principal do arquipélago de Hawaii, pelo que precisa de ser (parcialmente) dessalinizada, o que torna difícil aceitar que seja publicitada como “completamente natural”: na verdade, é mais artificial do que a água que sai de qualquer torneira ligada à rede pública. A Kona Deep tem curiosas afinidades com a MaHaLo Hawaii Deep Sea Water, que era captada no mesmo local e profundidade e submetida ao mesmo processamento e que desapareceu do mercado após, em 2011, ter sido multada em 5 milhões de dólares pelas autoridades de saúde do Hawaii por adulterar a sua água “completamente natural” (ver Urinar no duche não adia o fim do mundo). É de crer que a Kona Deep mais não seja do que o regresso da MaHaLo com um nome “purificado” de conotações desfavoráveis. Se a marca alguma vez for comercializada em Portugal, é provável que seja rebaptizada com outro nome, pois este propiciaria piadas de extremo mau-gosto.

[Anúncio à Kona Deep, 2018:]

A Ten Thousand BC provém do glaciar de Hat Mountain, na British Columbia (Canadá) e o seu nome alude, simultaneamente, à British Columbia (BC) e à antiguidade da água (“BC” é o equivalente inglês de “AC”, isto é, “antes de Cristo”). A marca alega que a sua água “ultra-premium” possui uma “formação molecular única que é naturalmente micro-estruturada pela filtração através do gelo ao longo de mais de 10.000 anos”. Não só esta frase é puro non-sense pseudo-científico como a aritmética está errada: uma vez que o Ten THousnad BC que o glaciar data de 10.000 a.C., esse gelo teria hoje 12.000 anos.

A Veen, que provém dos confins despovoados e bravios da Lapónia finlandesa, retira o seu nome da deusa Veen Emonen (Mãe da Água), que é mencionado no Kalevala, o poema épico finlandês. Mas como é uma marca muito ecuménica, está também aberta aos deuses do panteão indiano, pelo que comercializa os Ayurveda Super Shots, uma mescla de frutos e ervas medicinais inspirada na “ciência curativa do Ayurveda”. Quem esteja em onda New Age não deve ter rebuço em abraçar divindades das mitologias finlandesa e indiana – e também árvores.

[Anúncio à Veen, 2019:]