O ‘candidato da Constituição’ orgulha-se do título, a que já chamou de medalha, e deixa feliz o camarada e secretário-geral do partido que o apoia na corrida a Belém, Jerónimo de Sousa. O secretário-geral diz que João Ferreira “faz bem em falar muito” da Constituição da República porque isso é sinónimo de “ir às raízes da revolução de Abril que se transformou no ato mais moderno e avançado da nossa época contemporânea”. Mas não foi (só) para falar da Revolução de Abril que Jerónimo picou o ponto na caravana de João Ferreira esta segunda-feira. Falou sobre uma revolução sim, mas a de 18 de janeiro de 1934, quarenta anos antes. Uma revolução de vidreiros, na Marinha Grande, contra a Constituição e as leis laborais aprovadas pelo regime de Salazar.

Passo a passo o tema entrou na campanha de João Ferreira e está a tornar-se prioritário. O candidato presidencial está empenhado em provar que tem força suficiente para “honrar” a “herança de luta” contra o fascismo em Portugal. Luta essa onde o PCP desempenhou um papel central. Cabe agora a João Ferreira dar provas disso, mas Jerónimo já vai avisando que transformar a eleição num “truque” de quem fica em segundo lugar não é nada. É que o voto em João Ferreira é, considerou,”o voto mais seguro e consequente na derrota de projetos antidemocráticos e de confronto com a Constituição da República Portuguesa e no aprofundamento da democracia”. Jerónimo teme que o voto útil da esquerda em Ana Gomes — para impedir André Ventura de ficar em segundo lugar — prejudique João Ferreira.

Numa breve resenha histórica sobre o papel dos vidreiros marinhenses, “que se levantaram contra o fascismo”, Jerónimo homenageou as centenas de operários que saíram para a rua nesse dia 18 de janeiro de 1934 deixando “as sementes” para o que gerações futuras haveriam de transformar na revolução de Abril. A mensagem que o PCP quer passar é só uma: estamos atentos.

O resultado eleitoral de domingo preocupa os comunistas que, a par de ações de contacto com os trabalhadores que não podem confinar ou que foram severamente afetados pela pandemia, vão dando lições de como enfrentar fenómenos populistas “ou fascistas, como preferirem” (nas palavras de um dos apoiantes de João Ferreira, durante uma ação da campanha).

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Depois de aflorado o tema durante o fim de semana, esta terça-feira foi carimbado e acrescentado ao manual de combate ao fascismo também com a participação de Jerónimo de Sousa. A caravana de João Ferreira não saiu da Marinha Grande de mãos a abanar. Um dos vidreiros presentes na sessão fez questão de oferecer um frasco do vidreiro — cuja criação remonta a 1772 — em sinal da luta dos operários do vidro na cidade. Emocionado o vidreiro lembrou os três séculos de história que a peça tem e a importância de continuar a ser ali produzida (mesmo contra todas as dificuldades pelas quais a indústria do vidro passou).

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Poucas horas tinham passado desde que António Costa anunciara o endurecer de medidas e uma maior fiscalização por parte das forças de segurança quando um ajuntamento de pessoas, com luzes, câmaras, microfones e gravadores chamou à atenção da PSP da Nazaré. Enquanto João Ferreira ouvia os relatos das dificuldades que os empresários da restauração da vila um carro da PSP parou na avenida e fez marcha-atrás para perceber o que se passava. Com assessores atentos João Ferreira, de costas, nem terá dado pela breve conversa entre os agentes da autoridade e um dos elementos da sua equipa, mas observando-se o cumprimento de todas as regras e estando a ação inserida na campanha eleitoral do candidato pouco mais havia a fazer pela PSP que lá seguiu caminho.

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Os ataques são novamente para Marcelo Rebelo de Sousa, pelo papel que desempenhou na promulgação de leis gravosas na área do trabalho, pelos vetos em momentos e temas errados (na opinião de João Ferreira). No campo das lições seguem em duas direções: aos portugueses para lhes avivar a memória não tão antiga assim; a André Ventura para lhe explicar que enfrentará uma feroz oposição ao caminho que pretende trilhar.