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Os três pequenos génios que vão levar Portugal, pela primeira vez, ao mundial (de cálculo) da Rússia

São os primeiros portugueses a participar num campeonato mundial de cálculo matemático. Liam, Francisco e José têm entre 8 e 10 anos. E conseguem fazer até 40 operações em 5 minutos, só com um ábaco.

“Vocês são ou não são génios?” É-lhes mais difícil dar resposta a esta pergunta do que fazer 40 cálculos em 5 minutos sem calculadora ou, até, sem papel e caneta. Francisco Santos, de 8 anos, pensa durante três segundos: “Sou um génio da matemática”. Faz uma pausa e atira, confiante: “E de outras coisas”. O irmão dois anos mais velho, José Miguel Santos, parece duvidar de si próprio quando responde que “sim”, que é um génio. E Liam Canedo, também com 10 anos, alerta, para começar, que é “o melhor da turma”. Mas lembra que “há pessoas que fazem 40 cálculos em cinco minutos”. Liam consegue fazer 20. “Não sou um génio”, acaba por ser o único a concluir.

Génios ou não, Francisco, José e Liam são os primeiros portugueses no campeonato internacional de ALOHA (sigla para Abacus Learning of Higher Arithmetic) — um concurso de cálculo, com recurso apenas a um ábaco. Neste domingo, 22 de julho, os três alunos portuenses participam na 25.ª edição do campeonato, que este ano se realiza em Moscovo, na Rússia. Ganha quem conseguir fazer o maior número de cálculos, com resultados certos, em cinco minutos. Há taças para os três primeiros lugares e prémios de participação para todos.

Os irmãos Francisco e José Santos são dois dos três alunos a representar Portugal pela primeira vez no campeonato internacional de ALOHA (Foto: ALOHA Mental Arithmetic Portugal/Facebook)

Estão nervosos, mas confiantes. As mães dizem que é porque os filhos “não têm noção da dimensão do campeonato”. Os filhos dizem que é porque já estão habituados. Todos eles já participaram (e ganharam) campeonatos nacionais. José, que faz 40 cálculos em cinco minutos, acumula ainda uma vitória num campeonato em Espanha.

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José e Francisco veem no facto de serem irmãos uma vantagem acrescida. “Ajuda-me porque, se fosse sozinho, ia estar mais nervoso”, diz o mais novo ao Observador. Está no programa ALOHA desde os cinco anos. José está desde os seis. Foi a mãe, Clara, que os inscreveu, depois de uma demonstração no Colégio Cedros, uma escola só para rapazes, em Vila Nova de Gaia. Confessa que duvidou “um bocadinho” das vantagens que o programa garantia. “A verdade é que eles são dois excelentes alunos em todas as disciplinas. Temos a casa repleta de taças e troféus. O ALOHA implica muito investimento sem se ver logo resultados”, explicou Clara ao Observador.

"A verdade é que eles são dois excelentes alunos em todas as disciplinas. Temos a casa repleta de taças e troféus. O ALOHA implica muito investimento sem se ver logo resultados”
Clara, mãe de João e Franciso

Os resultados não são imediatos, mas chegam. A mãe de Francisco e José comprovou-o: “Eles são capazes de relatar um jogo de futebol ao pormenor. Conseguem dizer em que minuto aconteceu um penálti ou uma falta. E, se se enganam no minuto, recomeçam”. Clara acredita que tal se deve ao facto de o programa ALOHA permitir que os alunos “absorvam muito mais as coisas”. Ela viu diferenças nos filhos: passaram a assumir com muito mais “responsabilidade” e “seriedade” outras atividades. Além do ALOHA, os irmãos jogam futebol. Francisco também está a aprender robótica e faz karaté. José joga rugby. Quer ser programador, mas o curso de robótica do irmão não o seduz. “Diz que é muito básico para ele”, explicou a mãe.

Não acham que o ALOHA lhes ocupa o tempo para brincar. “Às vezes fico triste por não ter trabalhos de casa do ALOHA”, admite Francisco, que consegue fazer entre 20 e 30 cálculos em cinco minutos. O irmão também reconhece as vantagens do programa: “Quando comecei, as contas de matemática começaram a ser mais fáceis”. Por isso, ambos querem continuar. Com a prática, os alunos chegam a conseguir fazer cálculos com números até 70 dígitos. Usando apenas um ábaco: um instrumento que funciona como uma extensão dos dedos. No ALOHA, é utilizado o ábaco japonês que tem 13 arames dispostos na vertical, com cinco bolas que se podem deslizar para cima e para baixo. Cada arame está dividido em duas secções: uma com quatro bolas e outra com uma.

[Veja no vídeo como funciona um ábaco japonês]

Se os irmãos estão certos de que querem seguir por este caminho, Liam não decidiu ainda. Confessa: “Estou muito cansado. E gosto mais do futebol. Às vezes, apetece-me ficar em casa”. Ainda assim, quer aumentar o número de cálculos que faz a cada cinco minutos. Já só lhe faltam dois níveis para completar o total de dez do programa. Ao longo dos últimos quatro anos, Patrícia viu o filho tornar-se cada vez mais concentrado e “parar quieto durante algum tempo”.

Liam tem 10 anos e consegue fazer 20 operações aritméticas em cinco minutos, sem calculadora (Foto: ALOHA Mental Arithmetic Portugal/Facebook)

Inscreveu-o “sem saber muito bem ao que é que ia”. Viu um anúncio na escola e percebeu que o ALOHA estava relacionado com competição. “Ele gosta muito disso. Competir estimula-o muito”, disse Patrícia ao Observador. A mãe está contente com os resultados:  “Numa primeira fase, usava o ábaco. Agora já lhe basta imaginá-lo para fazer contas”. Patrícia não vê o filho como um génio. “É uma criança perfeitamente normal, o ALOHA só o estimulou. Quis habituá-lo a fazer uma coisa diferente, além dos telemóveis e computadores”, explicou.

“Já não têm medo da matemática”. Há cada vez mais alunos a aderir ao ALOHA

Se os pais e filhos respondem de formas diferentes quando questionados sobre se os concorrentes são génios, a diretora da delegação do ALOHA em Lisboa tem uma certeza: “O ALOHA não é só para génios”. Natacha Espinha acredita que “qualquer um pode fazer o que estas crianças fazem” e que “não é preciso ser-se sobredotado”. “É uma questão de treino e dedicação. Como em qualquer área da vida, aliás”, defende.

O ALOHA implica, pelo menos, uma hora e meia de treino semanal. O programa decorre durante um ano letivo — um nível de outubro a fevereiro e outro fevereiro a junho — e divide-se em dois itinerários — o tiny tots, para quem inicia as aulas entre os cinco e sete anos, e o kids, para quem começa entre os oito e 13 anos. “No final do programa, aprendem os mesmos conteúdos, mas de formas diferentes”, explicou Natacha Espinha, acrescentando que são apenas idades de início, mas os alunos podem continuar no programa até aos 17 anos.

Exames revelam cenário desolador. O que vai mal no ensino da Matemática?

O ALOHA — que nasceu na Malásia há 25 anos — chegou a Portugal no ano letivo de 2014-2015 e começou as aulas em escolas no Porto. Algumas passaram a integrar o programa na sua oferta curricular. Natacha Espinha acredita que o “interesse [em integrar o programa no currículo] parte dos benefícios que os professores começaram a ver”. O primeiro (ou não estivesse o ALOHA relacionado com matemática) é a capacidade de fazer cálculos mentais, das somas às raízes quadradas, sem calculadora, lápis ou papel. Natacha aponta um fator para a facilidade com que os alunos aprendem: as aulas de uma hora e meia começam e terminam com jogos de cerca de 30 minutos. “Os alunos estão a aprender ao mesmo tempo que estão a brincar”, resume a diretora da delegação de Lisboa. “Os alunos passam a encarar os números de uma forma positiva. Já não têm medo da matemática. Ganham também autoconfiança e aumentam o autoestima”, diz Natacha Espinha.

Os alunos passam a encarar o número de uma forma positiva. Já não têm medo da matemática. Ganham também autoconfiança e aumentam o autoestima”
Natacha Espinha, diretora ALOHA Lisboa

Mas “o número é um suporte para ter outros benefícios”, defende Natacha, garantindo que, “após os primeiros seis meses, começam a notar-se”. E isso vê-se “na maneira como os alunos encaram as coisas no dia a dia, porque desenvolvem criatividade, concentração, orientação espacial, intuição, memória fotográfica”. Por isso, a adesão é cada vez maior, explica a diretora: “Os professores começam a notar os benefícios e comunicam aos pais. Os pais também começam a notar e falam com outros pais. Os alunos dizem aos amigos. Os amigos experimentam uma aula. Vão e pedem aos pais para se inscrever. E inscrevem-se.”

As vantagens não seduzem Liam. Apesar de querer aumentar o número de cálculos que consegue fazer por cada cinco minutos, admite: “Prefiro o futebol”. Por isso, não fica triste se não ganhar. Nem ele nem os irmãos Francisco e João. Não estão muito confiantes, revela a mãe: “Eles estiveram a ver uns vídeos dos campeonatos mundiais e os amigos já lhes disseram que os asiáticos são muito bons.”

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