Todas as equipas ou seleções têm os seus capítulos de “ses”. “Se”tivesse acontecido isto, podia ser diferente. “Se” não fosse aquilo, tudo mudava. Também o País de Gales tem o seu capítulo de “se”, que neste caso não entronca na melhor campanha de sempre do país quando chegou às meias do Europeu de 2016 e perdeu com Portugal (num jogo com pouca história, acrescente-se, naquela que foi a única vitória nacional nos 90 minutos) mas sim na derrota com o Brasil nos quartos do Mundial de 1958. “Se o John Charles tivesse jogado, o resultado podia ser diferente”, comentou depois o técnico Jimmy Murphy sobre essa partida que não contou com a grande figura galesa em campo e que foi decidida por um miúdo chamado… Pelé.
Murphy fez quase toda a carreira no West Bromwich (em 1939 assinou pelo Swindon Town mas acabou a carreira poucas semanas depois com a Segunda Guerra Mundial) e era visto como alguém que representava da melhor forma a terra de onde vinha, Rhondda, com uma comunidade industrial de gente de trabalho que sofreu com as piores crises económicas mas que nunca se deixou abater tendo o desporto como grande escape. Em parte, Rob Page, antigo técnico interino que substituiu Ryan Giggs em definitivo em novembro de 2020 pelos processos de violência doméstica e assédio sexual, encarna esse espírito no regresso à fase final de um Mundial 64 anos depois. E é com isso que espera fazer uma surpresa no Qatar.
Tirando Gareth Bale, que reencontrou o prazer de jogar nos EUA pelo Los Angeles FC (não só foi campeão como marcou o golo decisivo), o País de Gales não tem propriamente muitas estrelas. Trabalha muito, corre muito, mostra uma enorme entrega e entreajuda em campo, tenta levar o jogo para a dimensão mais física possível, de quando em vez procura jogar. A campanha no grupo da Liga das Nações, com um empate e cinco derrotas com Bélgica, Países Baixos e Polónia, mostrou as fragilidades que esse conceito pode ter mas ainda existe uma esperança nacional de poder recuperar o espírito de 1958 para inverter esse rumo.
BI
- Ranking FIFA atual: 19.º
- Melhor ranking FIFA: 8.º (outubro de 2015)
- Alcunha: The Dragons (Os Dragões)
- Presenças em fases finais até 2022: 1
- Última participação: 1958 (quartos com Brasil, 1-0)
- Melhor resultado: quartos em 1958 (Brasi, 1-0.)
- Qualificação: 2.º lugar do grupo E da Europa (15 pontos em 8 jogos com Bélgica, Rep. Checa, Estónia e Bielorrússia) e vitória no playoff final (Áustria. 2-1 e Ucrânia, 1-0)
- O que seria um bom resultado? Passar a fase de grupos
Jogos em 2022
- Playoff de apuramento Mundial, 24/3: Áustria (casa), 2-1 (V)
- Jogo de preparação, 29/3: Rep. Checa (casa), 1-1 (E)
- Grupos da Liga das Nações, 1/6: Polónia (fora), 1-2 (D)
- Playoff de apuramento Mundial, 5/6: Ucrânia (casa), 1-0 (V)
- Grupos da Liga das Nações, 8/6: Países Baixos (casa), 1-2 (D)
- Grupos da Liga das Nações, 11/6: Bélgica (casa), 1-1 (E)
- Grupos da Liga das Nações, 14/6: Países Baixos (fora), 2-3 (D)
- Grupos da Liga das Nações, 22/9: Bélgica (fora), 1-2 (D)
- Grupos da Liga das Nações, 25/9: Polónia (casa), 0-1 (D)
O onze
- 3x4x3: Hennessey; Ampadu, Rodan, Ben Davies; Connor Roberts, Allen, Ramsey, Neco Williams; Gareth Bale, Daniel James e Moore
O treinador
- Rob Page (galês, 48 anos, desde novembro de 2020)
- Outros clubes: Port Vale, Northampton Town e Sub-21 de Gales
O craque
- Gareth Bale (33 anos, avançado do Los Angeles FC)
- Outros clubes: Southampton, Tottenham e Real Madrid
A revelação
- Neco Williams (21 anos, defesa do Nottingham Forest)
- Outros clubes: Liverpool e Fulham
O mais internacional e o maior goleador
- Chris Gunter (109 internacionalizações) e Gareth Bale (40 golos)
Os 26 convocados
- Guarda-redes (3): Wayne Hennessey (Nottingham Forest), Danny Ward (Leicester) e Adam Davies (Sheffield United)
- Defesas (9): Ben Cabango (Swansea), Ben Davies (Rangers), Tom Lockyer (Luton), Joe Rodon (Rennes), Chris Mepham (Bournemouth), Ethan Ampadu (Spezia), Chirs Gunter (Wimbledon), Neco Williams (Nottingham Forest) e Connor Roberts (Burnley)
- Médios (9): Sorba Thomas (Huddersfield), Joe Allen (Swansea), Matt Smith (MK Dons), Dylan Levitt (Dundee United), Harry Wilson (Fulham), Joe Morrell (Portsmouth), Jonny Williams (Swindon Town), Aaron Ramsey (Nice) e Robin Calwill (Cardiff)
- Avançados (5): Gareth Bale (Los Angeles FC), Kieffer Moore (Bournemouth), Mark Harris (Cardiff), Brennan Johnson (Nottingham Forest) e Daniel James (Fulham)
O local do estágio
- Delta Hotels City Center Doha, em Doha (treinos: Al Sadd SC New Training Facilities 2)
A antevisão
A ligação a Portugal
- Não existe propriamente uma ligação direta da seleção galesa a Portugal, apenas aqueles habituais pontos de contacto como o facto de dois dos jogadores, Harry Wilson e Daniel James (que saiu do Manchester United com a chegada de Cristiano Ronaldo), serem treinados por Marco Silva no Fulham ou Gareth Bale ter jogado vários anos com Ronaldo no Real Madrid. No entanto, o País de Gales terá sempre um papel de relevo na história da Seleção: foi o adversário nas meias-finais do Euro-2016, com Ronaldo e Nani a marcarem os golos da vitória que valeu a presença na final e a conquista do troféu.