Pode um país ser o único da OCDE que cresce de forma estável há 18 anos e, ainda assim, não passar de um nível mediano? Poder, pode e chama-se Portugal. É uma questão de olhar para o copo meio cheio ou meio vazio. Na primeira versão, somos um dos sete Estados que, desde 2000, conseguem uma melhoria consistente nos resultados do PISA — o Programa Internacional de Avaliação de Alunos que de três em três anos vai ao terreno ver como estão as competências de leitura, matemática e ciências dos jovens de 15 anos.

Na versão de copo meio vazio, continuamos a estar alinhados com a média da OCDE, o que faz dos nossos alunos medianos, e ainda longe da excelência, como seria desejável. Para apaziguar as mágoas (se é que tal é possível quando se fala de resultados educativos), a esmagadora maioria dos 79 países analisados está no máximo no nível 3, aquele em que Portugal se encontra em todas as competências. O chapéu tem de ser tirado à China, o único país que consegue chegar ao nível 4 em leitura, matemática e ciências — pelo menos nas províncias ou municípios que fizeram parte do estudo (Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang).

Comparando-nos com o resto do mundo, num ranking que é influenciado pelas subidas e descidas de todos, o panorama não é péssimo: as variações estatísticas a leitura (o foco principal desta 7.ª edição do relatório) não são significativas e apesar de cairmos três posições, a OCDE considera que ficamos na mesma. A matemática? A conclusão é a mesma, com apenas a subida de uma posição. Nas ciências, o caso muda de figura e a conclusão escrita no PISA  é de que nesta competência piorámos (com uma descida de quatro lugares).

No topo da tabela estão — quem mais? — as regiões asiáticas do costume e que nunca desiludem: China, Singapura e Macau.

Depois de nos comparamos com os outros, o PISA permite também que os alunos portugueses se comparem com eles próprios ou, pelo menos, com os estudantes de 15 anos que nos PISA anteriores foram testados. Aqui, a posição de Portugal vale uma salva de palmas (não muito efusiva, mas por culpa dos outros) de Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

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“É dececionante que a maioria dos países da OCDE não tenha visto praticamente nenhuma melhoria no desempenho de seus alunos desde que o PISA foi realizado pela primeira vez em 2000”, escreve, para logo em seguida destacar que só sete países têm tido uma subida constante e que Portugal é o único da OCDE neste grupo.

PISA. Portugal é caso único de sucesso entre os países da OCDE, mas mantém desigualdades

Uma leitura rápida do gráfico pode induzir em erro. Em 2018, Portugal obteve 492 pontos a cada uma das três competências avaliada (não é gralha, é mesmo assim) e o gráfico dá uma guinada para baixo. Mas para a OCDE isso não passa de uma queda residual, sem significado estatístico. Para todos os efeitos, Portugal não perdeu a coroa de “maior caso de sucesso da Europa do PISA”, que lhe foi atribuído, durante uma entrevista a propósito do PISA 2015, por Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE.

Depois das boas notícias, as más. O fosso que separa alunos pobres de alunos ricos está maior: 95 pontos separam os alunos mais favorecidos dos mais carenciados na competência da leitura, valor que era de 87 em 2015, exatamente o valor da média da OCDE.

PISA. Só 10% dos alunos mais pobres conseguem chegar ao topo dos resultados em leitura

Mas o relatório também diz que “ser desfavorecido não é destino”, a propósito do desempenho dos estudantes portugueses resilientes, aqueles que contra tudo e contra todos conseguem escapar ao destino que lhes parece estar reservado, ficando entre os alunos de alto desempenho. Este valor não está no gráfico aqui em baixo, mas é o contrapeso natural ao indicador que diz que os mais pobres têm três vezes mais hipótese de ter um desempenho no limiar do aceitável do que um estudante não carenciado.

Por último, o PISA mostra-nos que ler em Portugal está subvalorizado pelos alunos de 15 anos, em especial os rapazes. Um terço dos alunos diz que só lê se for obrigado e 22% afirmam  que ler é uma perda de tempo. As respostas dos rapazes fazem disparar os resultados: 41% e 31,2%, respetivamente.

PISA. Um terço dos alunos só lê se for obrigado — e quem não lê não consegue aprender

Já entre as raparigas, quase metade diz que ler é um dos passatempos preferidos e os rapazes ficam-se por um valor muito abaixo: 18,8%.

Como pôr as crianças a ler em 9 passos (spoiler alert: vai ter de se agarrar aos livros também)