794kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL
i

Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

PSD e IL dão alternativa a Marcelo e isolam Chega

Montenegro e Rocha deram sinal a Marcelo: se ou quando quiser dissolver Assembleia, centro-direita está pronto para governar sem Ventura. PSD e IL têm pontes para day-after e aceleram convergência.

Um almoço com direito a fotografia que é muito mais do que um almoço e uma fotografia. Menos de 24 horas depois de António Costa ter afrontado diretamente Marcelo Rebelo de Sousa, abrindo uma crise institucional sem precedentes, Luís Montenegro e Rui Rocha fizeram questão de almoçar juntos, posar para a fotografia e, mais relevante ainda, publicitar esse encontro nos jornais. O objetivo foi um: dar um sinal a Marcelo Rebelo de Sousa de que os dois estão prontos para assumir responsabilidades governativas e deixar claro que o Chega está (literal e figurativamente) fora da mesa das negociações. Para já, pelo menos.

Entre os dois partidos não existe, nem vai existir, qualquer articulação formal até às eleições — independentemente de serem ou não antecipadas. Muito menos qualquer tipo de coligação pré-eleitoral. Mas existe a convicção de que é importante manter todos os canais abertos e a perceção de que o ambiente entre os dois partidos mudou definitivamente. O desgaste do Governo, refletido nas sondagens, acelerou o processo de convergência e a certeza de que é preciso abrir todas as portas para o dia seguinte às eleições. O almoço e a fotografia de Luís Montenegro e Rui Rocha serviram para isso mesmo: o centro-direita está a organizar-se para chegar ao poder.

Fontes dos dois partidos garantem ao Observador que a foto e o almoço não foram uma encenação, embora o momento escolhido para o efeito e a divulgação da imagem não sejam inocentes — um dia depois da declaração de Costa, horas depois da conferência de imprensa de Montenegro e no mesmo dia em que Rui Rocha dava uma entrevista à SIC e celebrava os cem primeiros dias à frente do partido. Existe, mesmo assim, a constatação de que o futuro político do país pode passar de facto por um governo de centro-direita com PSD e IL.  Isto não significa que os dois partidos tenham abdicado de concorrer entre si. Mas, nesta fase da maratona eleitoral, convém mostrar que o cimento do adversário comum – o PS – é muito mais sólido do que as diferenças que os separam.

No futuro, quando chegarem as eleições, Montenegro fará o derradeiro apelo ao voto útil à direita, mesmo que isso passe por tentar esvaziar a Iniciativa Liberal. Rocha fará igualmente o seu próprio caminho sabendo que os liberais não podem passar a imagem de que são muletas dispensáveis do PSD – sob pena de serem as principais vítimas de uma eventual vitória dos sociais-democratas. Se se mantiverem politicamente relevantes, logo decidirão o preço do apoio ao PSD — sendo que, entre liberais, dá-se a garantia de que o partido está preparado para entrar nesse eventual governo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Tem de ser uma relação de iguais, sabemos que não temos o peso eleitoral que o PSD tem, mas, em termos de vontade, competência e responsabilidade somos partidos iguais. A relação tem de ser trabalhada nessa perspetiva. Estamos a falar de pares. Queremos ir separados, temos ideias e caderno de encargos próprios e sabemos que o PSD sem a IL nunca fará as reformas que o país precisa”, sublinha um destacado dirigente liberal ao Observador.

LUSA

IL pressiona PSD a cortar com Chega

Seja como for, a exclusão de André Ventura – há meses a pedir um encontro com o PSD para discutir eventuais soluções de governo à direita – reforça a narrativa que Montenegro se tem esforçado por vender e aquela que é a posição de sempre de Rui Rocha: o Chega não entra nas contas. Se o líder social-democrata acelerou o processo de demarcação em relação a Ventura (sem nunca fechar definitivamente a porta), Rocha sempre disse que recusará fazer parte de qualquer solução com o PSD (governo ou ‘geringonça’ parlamentar) que inclua o Chega.

No futuro, esse poderá ser um obstáculo à união de facto entre os dois partidos – basta ver que o PSD continua com dificuldades a dizer ‘com o Chega, jamais’ e em manter uma posição inequívoca em relação a futuras alianças. Ainda recentemente, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, Miguel Pinto Luz, vice-presidente do partido, desafiado a dizer se Montenegro se referia diretamente ao Chega, resistiu em classificar aquele partido como partido “racista ou xenófobo”, contornando a linha vermelha teoricamente traçada pelo líder do PSD.

A Iniciativa Liberal teme essa ambiguidade latente. “Temos tentado pressionar o PSD ao máximo para marcarem o corte com o Chega — não por oportunismo, mas porque há muito eleitorado que não vota no PSD por receio de uma coligação com o Chega (como aconteceu com Rui Rio nas legislativas de 2022). É do próprio interesse do PSD fazer essa demarcação”, comenta o mesmo dirigente liberal. “O eleitorado que vota no Chega deve ser ouvido; o Chega deve ser acantonado.”

A entrevista de Luís Montenegro a Maria João Avillez, na CNN, ajudou a motivar a Iniciativa Liberal. O líder do PSD foi mais longe do que alguma vez tinha ido nas críticas ao Chega — mesmo que nunca o tenha nomeado. Depois dessa posição assumida pelo presidente social-democrata, os liberais sentiram conforto para dar um “sinal claro para fora” de que há uma proximidade entre os dois partidos. “Existem excelentes relações entre as lideranças, os órgãos do partidos e os deputados. É um caminho natural que está a ser feito. Mas um sinal não quer dizer que tudo está certo e fechado; a IL é um parceiro exigente“, antecipa fonte da IL.

Para todos os efeitos, o PSD tudo fará para poder dispensar alegremente o apoio do Chega em qualquer futura solução de poder à direita. E, para Luís Montenegro, há três palavrinhas mágicas: condições de governabilidade. Tradução: que não exista uma maioria de esquerda capaz de derrubar um eventual governo liderado pelo PSD. Ora, isso pressupõe que o Chega seja forçado a viabilizar uma solução de direita, incluindo orçamentos, mesmo não tendo lugar à mesa das negociações – cenário que Ventura já recusou em vários momentos e em de forma bastante clara. Isso, para já, são outros quinhentos.

Existe a convicção de que é importante manter todas as portas abertas e a perceção de que o ambiente entre os dois partidos mudou definitivamente. O desgaste do Governo, refletido nas sondagens, acelerou o processo de convergência entre os dois partidos e a certeza de que é preciso manter todas as portas abertas para o dia seguinte às eleições. O almoço e a fotografia de Montenegro e Rui Rocha serviu para isso mesmo: o centro-direita está a organizar-se para chegar ao poder.

Marcelo tem luz verde, mas o momento não é o ideal

Ao contrário de Rui Rocha (e de André Ventura), Luís Montenegro tem resistido em pedir eleições antecipadas. Seja no plano formal – o PSD recusa apresentar uma moção de censura ao Governo por entender que seria um “frete” ao PS –, seja no plano discursivo. Horas antes do referido almoço com o líder da IL, o presidente social-democrata deu uma conferência de imprensa onde deixou claro isso mesmo: “Não será por minha causa que haverá eleições antecipadas. Não as pedimos. Não somos nós que queremos lançar o país para uma situação de instabilidade.”

A contenção de Montenegro tem duas razões de ser. Em primeiro lugar, o PSD, além de não poder fazer nada de objetivo para provocar uma ida às urnas, não quer ficar com o ónus de pedir eleições antecipadas – algo que, à luz de todas as sondagens, é altamente impopular. Alimentar a ideia de que António Costa está a provocar uma crise, a atirar o país para umas eleições que os portugueses não parecem desejar, serve os propósitos de Luís Montenegro, que precisa de consolidar a imagem de líder da oposição responsável e capaz de oferecer uma verdadeira alternativa ao país.

Em segundo lugar, este não é, nem nunca foi, o calendário dos sociais-democratas. Tal como escrevia o Observador ainda em janeiro deste ano, no núcleo duro do PSD, existe a convicção de que este é o tempo de o PS assumir responsabilidades e de lidar com as consequências das decisões que tomou. O precipitar do fim de ciclo seria um um revés porque é preciso que a perceção de que a crise é da responsabilidade dos socialistas se instale verdadeiramente antes de tentar herdar o poder – sob pena de se repetir a experiência da troika e os danos reputacionais que daí resultaram para o PSD.

Para os sociais-democratas, se há lição que se pode retirar do que foi a passagem de testemunho entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho é a de que o PS é pródigo em criar na opinião pública a ideia de que não tem qualquer responsabilidade nas crises em que o país mergulha. No passado, isso já fez mossa no PSD; importa impedir a todo o custo que isso volte a acontecer. Olhando para todos os indicadores (políticos, económicos e sociais), a oposição, à direita e à esquerda, acredita-se que os próximos meses vão acentuar a degradação do Governo socialista. “O PS está a apodrecer aos bocadinhos”, defende fonte do PSD. Impera, portanto, a lógica bonapartista: não serão os sociais-democratas a interromper o adversário quando está a cometer erros sucessivos.

Mesmo com estas contas, que vão sendo efetivamente feitas, Montenegro aproveitou a dita conferência de imprensa para deixar completamente nas mãos de Marcelo a chave para o dilema. “Não recusaremos eleições antecipadas. Não sendo a nossa opção, o país pode contar com a nossa alternativa. Respeitarei qualquer que for a decisão do Presidente da República. O que lhe queremos assegurar é que há uma alternativa política a este Governo caótico”, sublinhou o líder do PSD.

Independentemente da decisão de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o futuro de António Costa, cozer em lume brando ou fritar de vez o primeiro-ministro, Montenegro e Rui Rocha deram o sinal que o Presidente pedia – à direita, há margem e vontade para entendimentos sem Chega. Marcelo tem agora todas as cartas na mesa, menos uma e a mais decisiva: a aritmética parlamentar que vai resultar de uma futura eleição.

PSD celebra ‘tiros no pé’ de Ventura. “Enfiou o barrete”

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos