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Qual o estado da infeção por VIH em Portugal?

A MSD e o Observador conversaram com o Dr. António Diniz, para perceber o estado da infeção por VIH em Portugal e como se compara com a situação europeia.

Enquanto Coordenador da Unidade de Imunodeficiência do Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar Lisboa Norte) há mais de 30 anos, o Dr. António Diniz está à frente da batalha contra a infeção por VIH em Portugal.

“A evolução da epidemia do VIH tem sido positiva, principalmente a partir deste século”, explica António Diniz, referindo-se principalmente à diminuição da incidência, ou seja, do número de novos casos anuais. A esta diminuição alia-se um aumento, ainda que menos acentuado, do número de diagnósticos precoces.

Mas como se compara esta evolução com o resto da Europa?

A evolução da epidemia em Portugal e na União Europeia

Segundo António Diniz, no contexto dos países da União Europeia, a nossa posição em relação à incidência ainda é bastante frágil. Por exemplo, em 2019, a incidência do VIH em Portugal foi de 7.6 casos por cada 100.000 habitantes. Já a média da incidência nos países da União Europeia é de 4.9. Em 2019, especificamente, apenas 7 países da União Europeia tiveram uma incidência maior do que a nossa. Isto não invalida a evolução que tem sido feita ao longo das últimas décadas: “Tem havido um esforço e um constante aproximar daquilo que é essa média europeia”.

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Estes valores devem, no entanto, ser analisados com muita cautela. O relatório da Direção Geral de Saúde sobre o ano de 2019 é elaborado em 2020, que foi o ano em que surgiu, em Portugal, a pandemia da COVID-19. “Com a sobrecarga dos serviços existente e derivada da pandemia COVID-19, é natural que vários casos não tenham sido ainda notificados”.

“A evolução da epidemia do VIH tem sido positiva, principalmente a partir deste século”
António Diniz, Coordenador da Unidade de Imunodeficiência do Hospital Pulido Valente

No que toca a diagnósticos, Portugal demonstra resultados similares à média da Europa. Em Portugal, o número de casos que foram diagnosticados com doença tardia (em que a doença apresenta evidências de uma evolução de anos) foi de 49,7%, comparado com a média da União Europeia de 50%. O número de diagnósticos de doença avançada foi de 30,9% face à média europeia de 30%.

“Isto coloca-nos a meio da tabela mas isto não são boas situações”, afirma António Diniz. “Quer os nossos dados, como os reportados em relação à União Europeia, não são bons resultados porque significam que praticamente metade das pessoas deviam ter sido diagnosticadas mais cedo do que efetivamente foram”.

As metas da ONUSIDA para 2020, vulgarmente chamadas 90-90-90, colocam como objetivo que, em 2020, 90% das pessoas infetadas estejam diagnosticadas, 90% dessas estejam em tratamento, e 90% das pessoas em tratamento se encontrem com a carga viral suprimida (em que não é transmissor do vírus). Estes valores, quando foram definidos, era o que se admitia ter para que em 2030 a meta passasse a ser 95-95-95, utilizando a mesma lógica.

No entanto, face ao alcance destes objetivos, as metas 95-95-95 passam agora a ser o objetivo para 2025, para que, então, em 2030 se possa chegar ao patamar de deixar de considerar o VIH uma ameaça para a saúde pública mundial.

Todos podemos ter comportamentos de risco

“Não é o facto de uma pessoa ser um homem que pratica sexo com outro homem que confere, só por si, um risco acrescentado para a aquisição da infeção por VIH”, explica António Diniz, referindo-se a antigos conceitos de que a infeção é prevalente em alguns grupos sociais. “Pode ter o mesmo comportamento que um heterossexual que estará em riscos de contração da infeção idênticos”.

Como explicou o médico, estes preconceitos acabam por estigmatizar determinados grupos, levando-os a afastarem-se da prestação de cuidados de saúde, do diagnóstico precoce, do seguimento correto a nível hospitalar e, inclusive, da informação necessária para que as pessoas não contraiam a infeção. “Ao estigmatizar grupos, desviamo-nos do foco, que deve ser o comportamento, e criamos as condições para que a própria infeção se perpetue dentro desse grupo”, afirma.

O conceito de grupo de risco deixou de fazer sentido, até porque o perfil da pessoa infetada por VIH mudou em vários aspetos nas últimas décadas. No final dos anos 90, a maior proporção de novos casos vinha de pessoas cujo comportamento era a utilização de drogas endovenosas. Hoje em dia, esse grupo foi reduzido a um número sem expressão, e os casos de transmissão de VIH são maioritariamente por via sexual.

“Terminemos de uma vez com a questão de grupos de risco. Passamos a assumir que todos podemos ter, ou não, comportamentos de risco”
António Diniz, Coordenador da Unidade de Imunodeficiência do Hospital Pulido Valente

“Hoje em dia, a transmissão que predomina continua a ser a heterossexual”, explica António Diniz. “Embora nos últimos anos se tenha vindo a assistir progressivamente ao aumento das pessoas que fazem sexo com homens como o comportamento que conduz à infeção por VIH”. Por outro lado, a média de idade dos diagnosticados é, atualmente, de 38 anos, enquanto em décadas anteriores era bem mais precoce.

“Terminemos de uma vez com a questão de grupos de risco. Passamos a assumir que todos podemos ter, ou não, comportamentos de risco”, remata o médico.

Abordar o futuro

Para este profissional de saúde, a melhor forma de melhorar continuamente o estado da infeção por VIH continua a ser evitar a infeção, ou seja, a prevenção, seguida do diagnóstico precoce e do tratamento adequado das pessoas infetadas.

Em relação à prevenção, conseguimos, à partida, identificar 3 tipos de pessoas – as que assumem comportamentos de risco deliberadamente, as que assumem comportamentos de risco por desconhecimento, e as pessoas que assumem comportamentos de risco por não terem alternativa. Este último grupo, pode não ter expressão em Portugal, mas continua a ser um fator muito vincado em países onde, por exemplo, a condição social da mulher é de sujeição ao parceiro. Este problema remete-nos para o lema da última reunião ONUSIDA: “End inequalities. End AIDS” (“Acabar com as desigualdades. Acabar com a SIDA”), que reafirma como o fim das desigualdades sociais é um fator-chave para a eliminação do VIH.

Em relação aos grupos anteriores, a solução passa pela informação, a chamada literacia em saúde. Segundo António Diniz, esta literacia pode começar em ambiente familiar, mas deve necessariamente passar pela escola, pois é aí que se estabelece. Esta literacia também se pode abordar nos cuidados de saúde primários. “Nós sabemos que o grupo que tem mais peso, já há vários anos, são os heterossexuais, e que a idade está mais avançada. Ora, estas são as pessoas que recorrem aos cuidados de saúde primários — o cidadão comum de 40-50 anos que recorre ao centro de saúde. Algo deveria ser feito ou reforçado neste aspeto para promover a prevenção.”

“Quanto mais precocemente uma pessoa for seguida em relação à infeção por VIH, melhor é a expectativa de vida, quer em termos de longevidade, quer em termos de qualidade”
António Diniz, Coordenador da Unidade de Imunodeficiência do Hospital Pulido Valente

Em relação ao diagnóstico precoce, o fator-chave continua a ser a testagem. As pessoas podem testar-se em laboratórios clínicos (recomendados por médicos de cuidados primários, ou qualquer outro médico, hospitalar ou privado), nos cuidados de saúde primários – causa de orgulho para António Diniz, que esteve envolvido nesta implementação – ou fazer um autoteste em casa. “Não existem barreiras, ou são muito escassas, para a realização do teste.”

Esta realização do teste torna-se fulcral para o diagnóstico precoce e para o futuro da pessoa infetada: “Quanto mais precocemente uma pessoa for seguida em relação à infeção por VIH, melhor é a expectativa de vida, quer em termos de longevidade, quer em termos de qualidade”, afirma o profissional de saúde.

Hoje em dia, a esperança média de vida de uma pessoa infetada com VIH é semelhante à de uma pessoa não infetada, desde que seja feito o acompanhamento médico indicado.

“Esta é uma das poucas situações onde uma pessoa pôde acompanhar a evolução da infeção e a evolução da ciência”, explica António Diniz, recorrendo à sua experiência de largos anos nesta área. “As pessoas não têm noção do que era lidar com isto nos anos 80 e 90. Comunicar a uma pessoa a infeção por VIH era, objetivamente, estar a comunicar à pessoa a morte”.

Hoje em dia, ao se comunicar a infeção, também se comunica esperança de vida e qualidade de vida. Desde que os tratamentos antirretrovirais permitiram o controle da carga viral e se descobriu o conceito de indetetável = intransmissível, as pessoas infetadas podem esperar, desde que sigam o tratamento, ter uma vida normal e constituir família, o que seria impensável anteriormente.

“As pessoas não têm noção do que era lidar com isto nos anos 80 e 90. Comunicar a uma pessoa a infeção por VIH era, objetivamente, estar a comunicar à pessoa a morte”
António Diniz, Coordenador da Unidade de Imunodeficiência do Hospital Pulido Valente

Para António Diniz, o conselho a dar a todas as pessoas é, naturalmente, evitar comportamentos de risco. Mas se isso não for possível, então testar o mais rapidamente possível para que possa aceder aos cuidados necessários: “O que está feito, está feito. Agora vamos abordar o futuro. E vamos fazê-lo com muito mais confiança e otimismo, se não protelarmos o desconhecimento.”

A MSD disponibiliza o vihda.pt – um site informativo onde pode saber mais sobre o  VIH. Qualquer que seja o seu nível de conhecimento ou interação com o VIH, vai encontrar em vihda.pt informação simples e clara sobre o que deve saber sobre VIH, como prevenir a infeção e como fazer testes de rastreio. Se é seropositivo, encontre mais sobre como viver com o VIH, que cuidados deve ter, e dicas práticas sobre onde encontrar tratamento e apoio nesta etapa.
PT-NON-01635  03/2022
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