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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Rui Moreira. "Rio ou é adivinho ou soube antes de todos que eu ia a julgamento"

Rui Moreira sugere que Rui Rio tinha conhecimento privilegiado sobre o desfecho do caso Selminho, que o irá levar a julgamento. O presidente da Câmara do Porto diz ser alvo de uma "campanha negra".

Os assessores de Rui Moreira receberam a equipa do Observador às 11 horas, na casa do autarca, na Foz, escondida na neblina fria que vinha do mar. A entrevista acabou por decorrer no jardim, ao ar livre, com a devida distância de segurança entre todos. Charlie, o pequeno cão de Moreira, ignorava todas as regras de etiqueta e corria entre a parafernália de câmaras, micros e cabos, mas, por razões de segurança — chegou a ser acidentalmente pisado por um dos técnicos do Observador — e para evitar interrupções involuntárias, acabaria por ser retirado já depois de Rui Moreira chegar, pontual, às 11h30. Estava tudo pronto para a entrevista.

O caso Selminho acabou por dominar os primeiros minutos da entrevista, com Moreira a sugerir que Rui Rio é o grande responsável pela “campanha suja” de que o autarca se diz vítima desde 2017 e que o líder do PSD teve sempre informação privilegiada junto do Ministério Público. “Rio ou é adivinho, ou já sabia que eu ia a julgamento muito antes de todos.”

Não foi o único visado por Moreira. Para o autarca, que se recandidata ao seu terceiro e último mandato, Vladimiro Feliz, candidato do PSD, tem feito pouco mais do que ser a “voz do dono” e tem protagonizado “ataques pessoais e muitas vezes soezes”. Sobre Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, poucas palavras: “É da ala esquerda do partido, é um homem que admira a revolução cubana e outras coisas…”.

Nesta entrevista, Rui Moreira deixou ainda uma premonição e uma promessa: haverá mais vida no movimento independente depois da sua saída; e, no que depender dele, cumprirá o mandato até ao fim.

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[Vídeo. O essencial da entrevista:]

“Rio ou é adivinho, ou já sabia que eu ia a julgamento antes de todos”

Começo precisamente pelo processo Selminho e pelas suas consequências políticas. Quando conheceu a decisão instrutória, voltou a aludir a campanhas sujas e ao facto de o caso ter surgido em vésperas de eleições. Está a sugerir que o Ministério Público e a juíza de instrução têm motivações políticas?
Relativamente a uma juíza, de maneira alguma. Não deixa de ser um facto assinalável e uma coincidência — e as coincidências são o que são — que esta situação tenha surgido há quatro anos, também na pré-campanha eleitoral. Depois o Ministério Público arquivou o assunto e para mim estava resolvido. Agora, sem percebermos porquê, o assunto surge outra vez e num calendário que pode ser coincidência, mas não deixa de merecer estranheza, mais uma vez num período antes das eleições.

Disse que não queria entrar em teorias conspirativas, mas que qualquer coisa haveria. Quando fala nessa coincidência, sugere que há alguém por detrás. Queríamos perceber quem é. É o Ministério Público que tem essa motivação política? Da própria juíza? Dos seus adversários políticos ao enviar denúncias para justiça? De onde virá o que sugere não ser coincidência?
Não lhe sei dizer. Naturalmente que, se eu soubesse, já teria dito. O que assinalo é que é uma coincidência. Compreende-se que é estranho que um caso que foi arquivado há quatro anos depois do Ministério Público ter feito uma extensa investigação sobre o assunto e um enorme relatório sobre essa matéria surja de novo exatamente quatro anos depois.

Enquanto recandidato às eleições autárquicas, está a insistir na tese da coincidência e a  sugerir que há alguém com intenções de o prejudicar. É correto, do ponto de vista político, alguém que é detentor de um cargo político lançar esse manto de suspeição sobre o Ministério Público?
A questão não é se é correto ou não. Isso deixarei que sejam os portugueses, e os portuenses em particular, a julgar. Há uma coisa que, no entanto, é verdade e não posso omitir: alguns dos meus adversários políticos pareciam saber disto antes de eu saber e antes de a comunicação social saber porque houve declarações nesse sentido.

Refere-se a quem?
Foram feitas declarações políticas sobre esta matéria.

Rui Rio?
Nomeadamente por parte do senhor presidente do PSD. Portanto, como um prenúncio de alguma coisa que ele parecia já saber. A partir desse momento é lícito que eu faça esta constatação, que de facto é no mínimo surpreendente que isto surja exatamente num período antes das eleições.

Isto significa que mantém em aberto a hipótese de Rui Rio ter tido informação privilegiada por parte das autoridades judiciais?
Ou então é adivinho. E se é, eu não sou. Eu não adivinho estas coisas.

"O que está em jogo é que a minha família nunca recebeu nem vai receber nenhuma indemnização: trata-se de um terreno que era da minha família, que a minha família tinha comprado, e está demonstrado que o tinha comprado e tinha pago; e a minha família ficou sem esse terreno durante os meus mandatos."

Há aqui uma questão que não se prende só com o MP. Reparei que teve o cuidado de separar o MP da juíza de instrução que avaliou o seu caso. Mas, no despacho de instrução, a juíza disse que é “muito provável” a futura condenação do arguido, ou que a condenação “será mais provável” que a sua absolvição. Isto já é um passo adiante que ainda não tinha sido dado.
Não. Porque é esse o papel da juíza de instrução. Se dissesse o contrário, como eu esperava, o assunto tinha ficado encerrado. Entendeu a senhora doutora juíza que o assunto devia ser levado a julgamento. É sempre assim nas instruções. Só havia duas hipóteses: ou dizia que não há fundamento para que esta pessoa possa vir a ser condenada ou há fundamento para que possa.

Isso não lança uma mancha de suspeição sobre a sua conduta durante o processo?
Acho que não. Pela minha parte, apenas lhe digo aquilo que sempre digo e não tenho dificuldade em falar, pelo contrário, sobre o assunto Selminho e é bom nós recordarmos o que está em jogo. O que está em jogo é que a minha família nunca recebeu nem vai receber nenhuma indemnização. Um terreno que era da minha família, que a minha família tinha comprado — e está demonstrado que o tinha comprado e tinha pago —, a minha família ficou sem esse terreno durante os meus mandatos. Essa é a questão. Aquilo que fiz foi passar uma procuração para que o advogado que tinha sido nomeado pelo senhor doutor Rui Rio antes da minha eleição continuasse a defender os interesses da câmara num litígio que opunha a câmara municipal à Selminho. Finalmente, é de dizer que eu nunca substituí o diretor municipal do Urbanismo, que continua a ser o mesmo; o diretor municipal do património continua a ser o mesmo; e a senhora vereadora que outorgou esse acordo, como sabem, já era vereadora antes de eu chegar à Câmara Municipal do Porto. Em função disto, eu estou tranquilo que em tempo conseguirei fazer a demonstração da minha inocência.

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A juíza de instrução considerou válida a tese de que o início das suas funções enquanto autarca coincidiu com uma alteração que a câmara tinha face aos direitos de construção da Selminho. No fundo, a autarquia, que até aí nunca tinha admitido esses direitos, passou a admitir um de dois cenários: ou o PDM era alterado ou um tribunal arbitral avaliaria uma determinada indemnização. É no fundo a tese central do caso que o MP tem contra si. Consegue explicar se houve ou não esta mudança de comportamento da câmara?
Em primeiro lugar, gostaria que o advogado que, repito, foi nomeado por Rui Rio, que seguiu sempre este caso, que pediu uma procuração para continuar a seguir este caso, possa um dia vir a depor. Como eu queria que ele tivesse deposto quando foi requerida a abertura de instrução. Na abertura de instrução, a única testemunha que tentei arrolar foi esse advogado.

"Gostaria que o advogado que, repito, foi nomeado por Rui Rio, que seguiu sempre este caso, que pediu uma procuração para continuar a seguir este caso, possa um dia vir a depor."

Que não foi ouvido.
O advogado não tinha podido ser ouvido na fase do inquérito, mas na fase da instrução não havia razão nenhuma para que ele não pudesse ser ouvido para esclarecer porque é que entendeu que a forma de defender os interesses da câmara foram aqueles que ele sempre seguir.

Está a dizer que é um entendimento técnico e não político.
Com certeza. Como é sempre. Numa câmara municipal não é um presidente nem é um vereador quem acompanha estes litígios em tribunal. Em primeiro lugar, porque não temos competência para essa matéria. E depois porque são os serviços que organizam, que nomeiam advogados e, neste caso, um advogado externo, de um grande escritório de advogados do Porto e que seguem o assunto do princípio até ao fim. Eu, que não alterei o advogado, estou convencido que aquilo que o advogado fez foi defender os interesses da câmara com base numa procuração que eu lhe passei para que ele pudesse continuar a defender os interesses da câmara. Aquilo que o MP há quatro anos disse foi que eu fui pouco avisado em passar essa procuração. Eu já expliquei porquê: tinha chegado à câmara há pouco tempo e quando veio dos serviços a procuração, aparece na minha secretária física para eu assinar e eu fui ter com o meu chefe de gabinete, que era o professor Azeredo Lopes, ilustre jurista, e perguntei se devia assinar aquilo. E ele disse: pode e deve para que a câmara possa estar municiada para se defender. Foi esta a minha intervenção, não tive mais nenhuma nesta matéria.

“Eu não vou ser condenado na primeira instância”

Há pouco dizia que a sua família perdeu a indemnização e o terreno. Neste momento não pende nenhum pedido de indemnização sobre a autarquia?
Não.

Ainda no final de 2020, o Bloco de Esquerda disse que havia um milhão de indemnização a pagar à Selminho.
Isso é totalmente falso. A minha família não pode nem quis, nem fez nenhum pedido de indemnização à autarquia.

Parecia-lhe justo um pedido de indemnização de alguns milhões depois de um terreno que tinha sido comprado sensivelmente por 35 mil contos, que devem ser 175 mil euros. Parecia-lhe justo?
Não sei se o valor é esse. Suspeito que o valor não seja esse. Também é preciso verificar quando foi comprado. Eu não sei, porque não estive metido no assunto. Mas pelo que sei foi comprado há mais de 20 anos. As coisas em 20 anos mudaram. Não faço ideia de qual era o montante. Aliás, o montante da indemnização nunca foi requerido a não ser em tribunal. Portanto, isso não lhe posso dizer. Não sei. Acho normal que, se o senhor comprar um terreno que tem capacidade de edificação, comprou-o tendo ido às finanças e à conservatória verificar se o terreno estava em condições. Se de repente lhe dizem que não pode construir, que tente por todos os meios construir. Ou ser indemnizado.

"Não fazia a mais vaga ideia como é que a minha família tinha comprado o terreno. É uma sociedade de família que eu nunca geri, nunca fui administrador, nunca foi o meu negócio."

Nunca achou nebuloso e meio estranho todo esse processo e a forma como é publicitado no jornal Primeiro de Janeiro, o casal ter ido registar a Montalegre um terreno no Porto por usucapião.
Nem fazia a mínima ideia, nem faço a mínima ideia.

Avaliando à posteriori não acha estranho o processo?
Parece-me um processo absolutamente normal nesses casos. Se eu for comprar um terreno hoje o que é que faço? Vou à Conservatória do Registo Predial e vou às Finanças saber se sobre aquele terreno pesam ónus ou encargos. A partir do momento em que a Conservatória me diz que o vendedor é o senhor que me vai vender e nas Finanças demonstra que está tudo em ordem e que o terreno é seu é normal que eu compre o terreno.

Estava a ir mais atrás. Até ao registo do casal que vende à Selminho, que foi feito em Montalegre. Isso não lhe causa estranheza?
Pelos vistos causou estranheza tardia. À Câmara Municipal do Porto essa situação também nunca tinha surgido. Não fazia a mais vaga ideia de como é que a minha família tinha comprado o terreno. É uma sociedade de família que eu nunca geri, nunca fui administrador, nunca foi o meu negócio.

Não estava a responsabilizá-lo, estava só a perguntar se lhe parecia estranha essa movimentação.
Provavelmente quando aparece o terreno no jornal, acho que uma pessoa normal quando vai comprar um terreno não vai querer saber lá atrás de quem ele foi. O que vai querer saber é se a pessoa que está a vender é o dono — e era. O terreno está na Conservatória? Tem a dimensão que lá está? Tem. Há ónus ou encargos nas Finanças? Não há. Normalmente as pessoas compram assim. Já comprei uma casa e comprei assim. Não fui agora verificar se lá atrás tinha havido um usucapião, a pessoa normalmente não verifica isso. Isso é uma competência da conservatória.

Se for condenado na primeira instância vai renunciar ao mandato?
Eu não vou ser condenado na primeira instância.

É um cenário que se tem de colocar, naturalmente.
Não vou ser condenado na primeira instância. Tenho absoluta confiança que, agora, vou poder perante o tribunal requerer e apresentar as testemunhas necessárias que não foram ouvidas — e lamento que não tenham sido ouvidas na instrução. A senhora juíza entendeu que não era necessário ouvi-las ou que não as podia ouvir, agora podem ser. Já fui consultar o processo e essa testemunha em particular pode ser ouvida e espero que essa testemunha confirme que eu não tive nenhuma interferência neste caso.

Sede no mesmo edifício de Fundo Imobiliário? “Não é sede, é caixa de correio”

Esta semana foi enviado para o Parlamento, para vários partidos, uma série de ligações imobiliárias que podem ou não ter fundamento. Não sei se conhece esse documento que diz ‘Porto o nosso investimento’.
Não me vão pedir para me pronunciar sobre campanhas negras, ainda por cima relativamente a uma pessoa por quem toda a gente, e não apenas os portuenses e as pessoas do meu movimento, tem consideração, como o professor Valente Oliveira. Sobre essa matéria não me pronuncio.

Vou só dizer os factos que estão na denúncia e que já verificámos que são verdadeiros. Miguel Pereira Leite é presidente da Assembleia Municipal e faz parte da Comissão de Acompanhamento do PDM, mas é também presidente da Atlantic, que é uma empresa de gestão de fundos imobiliários. Não vê aqui uma incompatibilidade entre a função que exerce na vida profissional e a função que exerce politicamente?
Acho que não. Teríamos que quase criar um mosteiro onde as pessoas estivessem reservadas para um dia serem chamadas para um cargo de presidente da Assembleia Municipal, que, como sabe, não decide nada em termos executivos. Depois, já que fala no Dr. Miguel Pereira Leite, diz que ele podia ter sido convidado para o Conselho da EDP por causa disso.

Essa questão não tem fundamento, por isso é que não lhe perguntei sobre ela.
Quem conseguiu poupar à Câmara Municipal do Porto 12 milhões de euros fui eu, através da negociação que tive com a EDP quando cá cheguei.

Um perdão de dívida de cerca de 12 milhões de euros.
Exatamente. Consegui negociar um perdão de dívida quando anteriormente o município do Porto estava condenado a pagar à EDP 12 milhões de euros. Se por causa disso a EDP foi contratar o Dr. Miguel Pereira Leite acho que estamos conversados.

"O movimento não tem património (...) Não é nenhuma sede. É uma caixa do correio. Olhe, a minha candidatura, por exemplo. Sabe qual é a morada da minha candidatura? A minha casa."

Por isso é que não lhe perguntei sobre isso, mas há aqui outra questão: o shopping Brasília vai ser reabilitado numa renovação que vai custar 500 mil euros. Isto é tudo em investimento privado ou há investimento público nesta reabilitação?
Totalmente privado. No shopping Brasília nunca houve investimento público, nem sei se essa reabilitação está licenciada. Espero que esteja, o shopping Brasília é para muitos de nós o shopping mitológico do Porto. Foi a primeira escada rolante que houve no Porto, isto nos anos 70. As pessoas iam ao shopping Brasília para andar de escada rolante, portanto fico todo contente. Tem um cinema que espero que seja reabilitado, mas não sabia que ia ser.

Esse licenciamento passa necessariamente pela autarquia. O presidente da Assembleia Municipal do Porto preside à empresa Atlantic que, por acaso, tem dois lotes de algum valor no shopping Brasília.
Sim, tem duas pequenas lojas. Não faço ideia. Se tiver não vejo nenhum impedimento.

Nenhuma incompatibilidade mesmo que essa reabilitação passe pela Assembleia Municipal.
Não vejo nenhum impedimento. Quase todos os vereadores da oposição também têm casas na cidade do Porto. Por esse prisma, quando fossemos reabilitar uma rua esse vereador tinha que se sentir impedido e pedir ao presidente da Câmara para não reabilitar a rua.

Nesse cenário, não seria a rua, seria a casa dele. Neste caso é diferente.
Mas quantos lotes há no Brasília? 80, 90 lotes? Mas vamos lá a ver. Se entrar um pedido de licenciamento na câmara quem é que trata do pedido? O licenciamento é tratado pelo urbanismo da câmara. É tratado por técnicos da câmara que não merecem ser sujeitos a essa suspeita. Todos os dirigentes na área do urbanismo na câmara já lá estavam quando eu cheguei há oito anos. Estava lá o José Duarte, que continua a ser o diretor municipal, e toda a sua equipa. Essas equipas vivem para além daquilo que são os ciclos políticos, pelo menos comigo. Como não tenho nenhum partido que me diga que tenho que lá pôr um boy eu mantenho sempre os mesmos dirigentes. No património estão os mesmos dirigentes. Portanto, o que estou a dizer é que confio muito nesses dirigentes e acho que a cidade deve confiar muito nesses dirigentes. Quando me fazem essas sugestões aquilo que me incomoda é porem em causa a idoneidade e bom nome desses dirigentes. Quem decide são os serviços. Os arquitetos, engenheiros, dirigentes, pessoas que têm as suas vidas e se sentem incomodados quando o seu bom nome é posto em causa por campanhas sujas onde, não sendo eles os alvos, acabam por ser os alvos colaterais. Não entro em campanhas sujas, nunca as fiz e, portanto, não posso comentar campanhas sujas.

A sede do Porto o Nosso Movimento fica na rua do Faial — e nesse mesmo edifício é também a sede da Atlantic, a tal empresa que falávamos. Isto também não lhe causa estranheza?
Aquilo é um edifício onde há várias empresas sediadas. É como uma caixa do correio, não é mais nada. O movimento não tem lá instalações.

Isto não sugere nenhuma promiscuidade entre essa empresa de fundos imobiliários e o movimento?
Acho que não. Vamos a escritórios no Porto onde temos várias placas de várias empresas que, naturalmente, utilizam esses serviços. O meu movimento, ao contrário dos partidos políticos, que estão isentos de pagar IMI e essas coisas todas, não tem um prédio ou uma casa no Porto. Tem um sítio onde recebe correspondência. Quando nos encontramos, encontramo-nos em cafés e restaurantes, em casas particulares ou eventos que organizamos. Esta associação não é rica como os partidos, é uma associação que vive da quotização e que não tem essas possibilidades.

A sede é mesmo do movimento?
Não. O movimento não tem nenhum património.

Então alguém cedeu aquela sede?
Não é nenhuma sede. É uma caixa do correio. Olhe, a minha candidatura, por exemplo: sabe qual é a morada da minha candidatura?

A sua casa.
A minha morada particular. Não temos outra. Um movimento desta natureza é um movimento inorgânico, não tem sedes, não tem essas coisas.

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Apoio de Rio? “O que Rio queria era que Menezes não ganhasse”

Provalmente, a caixa de correio é da empresa Atlantic e como trabalha lá o…
Provavelmente, não sei. Eu não sabia, sinceramente, e também não me interessa muito, mas a explicação é esta. Os grupos de cidadãos eleitores por todo o país funcionam assim, até porque nós não podemos usurpar aquilo que são, por exemplo, edifícios municipais. Eu não podia mandar a correspondência do grupo de cidadãos eleitores para a câmara. E como a minha atividade é exclusivamente concentrada na câmara e não tenho outra, para onde é que eu havia de fazer? Todas as pessoas compreendem isto, é perfeitamente normal.

Aludiu várias vezes a campanhas sujas, até a propósito destas suspeitas que recorrentemente surgem na comunicação social, Rui Rio disse numa entrevista recente ao Observador que não é uma pessoa confiável. Por que é que se zangaram, porquê estes ataques de Rui Rio contra si?
O senhor dr. Rui Rio disse isso ao Observador, eu ouvi, num determinado enquadramento, não foi genérico. Aquilo com que o senhor dr. Rui Rio terá ficado incomodado é com o facto de eu não ter aceitado o convite que me foi endereçado pelo PSD para encabeçar a sua lista. E depois alguém do PSD passou isso à comunicação social, basta ler o Expresso para dizer que foi uma fonte do PSD. O senhor dr. Rui Rio ficou incomodado e, não querendo dizimar essa fonte do PSD, disse que tinha sido eu a pôr essa notícia cá fora, que objetivamente não fui, os senhores sabem que não fui porque isso foi comunicado, a comunicação social disse que fonte do PSD disse que o senhor dr. Rui Moreira recusou o convite.

De facto era esse o contexto, mas Rui Rio nessa entrevista fez várias sugestões de que teria interesses imobiliários na cidade do Porto e que, portanto, nunca apoiaria um candidato como Rui Moreira.
Mas então está-me a dar razão quando eu digo que ele sabe coisas que mais ninguém sabe. Eu não tenho nenhum interesse imobiliário na cidade do Porto, a única sociedade que tinha, em que eu participava, era a Selminho e neste momento não tem nenhum interesse imobiliário na cidade do Porto, o único terreno que tinha na cidade do Porto perdeu-o para a câmara durante o meu mandato e por atos praticados durante o meu mandato, às minhas ordens.

Diz que Rui Rio em fevereiro já sabia deste desfecho de ser levado a julgamento?
Acho que sim, foi assim que eu entendi. Não sei se ele sabia se eu ia ser julgado, agora que sabia as coisas por premonição, certamente sabia.

Há um mito muitas vezes no ar, de que Rui Rio o ajudou na primeira candidatura e creio que há pessoas da confiança de Rui Rio que apareciam e que foram responsáveis nessa campanha. Reconhece que foi eleito com o apoio de Rui Rio na primeira candidatura?
Reconheço que tive o apoio de pessoas próximas do dr. Rui Rio. Relativamente ao dr. Rui Rio, o que sabia era que queria, naturalmente, que o dr. Luís Filipe Menezes não ganhasse ou não tivesse a maioria absoluta. Ou seja, se quiser, terá havido um alinhamento estratégico nessa matéria, mas que nunca foi alvo de nenhum apoio do dr. Rui Rio particular.

Não foi por gostar de si?
Relativamente ao dr. Rui Rio que fique claro: acho que o dr. Rui Rio deve tratar do PSD, deve fazer oposição, deve preocupar-se com o seu partido e é essa a minha posição, não há nenhuma questão pessoal.

"Aquilo que tem concentrado a atenção do engenheiro Vladimiro Feliz são ataques pessoais e muitas vezes soezes dirigidos a mim"

Numa entrevista recente ao Porto Canal acusou Vladimiro Feliz de ser uma espécie de marioneta de Rui Rio.
A palavra foi ventríloquo.

Ventríloquo, exatamente. E de se limitar a dizer o que o patrão, nesse caso Rui Rio, lhe manda. Acha que o líder do PSD está a fazer tudo para o derrotar?
Vamos lá ver, tudo não sei, mas é legítimo que o líder do PSD queira que o seu candidato à Câmara Municipal do Porto me ganhe as eleições, isso é perfeitamente legítimo, não vejo nada de mal. Todos os candidatos à Câmara do Porto querem vencer as eleições e naturalmente o dr. António Costa com certeza que quer que o PS ganhe as eleições no Porto e deve fazer todo o possível para o PS ganhar as eleições. Essa questão não me preocupa, eu também farei todos os possíveis para ganhar as eleições.

"Daqui a um bocado vai-me perguntar se o Obama também dava mais luta. Não vou fazer esses comentários"

Mas no fundo estava a fazer um juízo de valor sobre Vladimiro Feliz, dizendo que não era mais do que a voz do dono.
Não, aquilo que digo é isto: ao fim de não sei quantas semanas ou meses de ele ter apresentado a sua candidatura, aquilo que tem concentrado a atenção do engenheiro Vladimiro Feliz são ataques pessoais e muitas vezes soezes dirigidos a mim. E isso surpreende-me porquê? Porque eu conheço o engenheiro Vladimiro Feliz, foi uma das pessoas que me apoiou quando me candidatei há oito anos, tenho por ele estima e consideração e surpreende-me que ele se preste a este papel.

Paulo Rangel foi convidado a avançar e acabou por rejeitar o convite. Acha que daria mais luta?
Todos dão luta, só posso pensar em que vem à luta, não posso agora imaginar.

Vou-lhe fazer um pedido para imaginar um cenário hipotético. Acha que ganharia a Rui Rio?
Daqui a um bocado vai-me perguntar se o Obama também dava mais luta. Não vou fazer esses comentários. O que eu não deixo de dizer é que, quer no PSD, quer no PS, as escolhas acabam por ser muito escolhas orgânicas dos partidos e que não parecem ser as imanações normais e naturais do eleitorado desses partidos, é isso que se verifica, portanto, não são primeiras escolhas, isso é verdade. Agora, se um é melhor do que o outro, não sei.

“Se não tiver maioria, não é obrigatório criar coligação para governar”

Por falar em primeiras e segundas escolhas, se ganhar sem maioria absoluta está disposto a reeditar uma coligação com o PS, no caso com Tiago Barbosa Ribeiro?
Acho que já demonstrei que num primeiro mandato não tinha a maioria, nem no executivo nem na assembleia municipal, e tratei de garantir a governabilidade da câmara. Neste mandato que está em curso tenho a maioria no executivo e não na assembleia municipal, e mesmo assim tenho conseguido governar a câmara. Aquilo que as urnas ditarem é de facto a decisão do povo. Se o povo não me der a maioria terei de encontrar formas de garantir a governabilidade da cidade.

Não tem favoritos com os quais gostaria de negociar?
Há um que não vai ser, que é o engenheiro Vladimiro Feliz, que já o disse. Pode ser que mude de opinião, mas numa entrevista salvo erro ao Observador disse que não quer.

Portanto, Tiago Barbosa Ribeiro, se quiser…
Não sei, vamos lá ver. Espero ter a maioria absoluta, mas não consigo neste momento figurar uma situação dessas.

Tiago Barbosa Ribeiro ainda não disse nada que impedisse esse acordo pós-eleitoral.
Não disse ele nem disseram outros, nós conseguimos aprovar o orçamento salvo erro em 2018 com a abstenção da CDU, quando PS e PSD votaram contra. Portanto, na governação da câmara não é obrigatório ter maioria absoluta, não tendo a maioria absoluta não é obrigatório criar coligação para se governar. As câmaras podem-se governar. Nós temos um Governo que governa em minoria.

Uma das críticas que Rui Rio lhe faz é de que tem compromissos pouco transparentes com António Costa. É verdade?
Isso tem de perguntar ao senhor dr. Rui Rio. Acho um pouco estranho.

"António Costa tem sido um primeiro-ministro competente atendendo às circunstâncias em que tem vivido"

Ele está bem informado, em fevereiro sugeriu que ia haver alguma coisa e houve julgamento, se calhar tem um fundo de razão.
Sim, mas pouco antes tinha mandado, não sei se com vontade ou não, pessoas importantes do partido convidarem-me. É um pouco estranho.

Não tem esses acordos secretos com António Costa?
Não tenho acordo nenhum.

E António Costa é um bom primeiro-ministro?
António Costa tem sido um primeiro-ministro competente atendendo às circunstâncias em que tem vivido, por um lado o facto de não ter uma maioria absoluta, o que naturalmente pesa bastante sobre as decisões que toma e as que pode tomar, e por outro lado aquilo que tem sido um ano e tal complicado.

“Nunca ninguém pode garantir que cumpre mandato até ao fim”

Já iremos à questão da pandemia. Se vencer estas eleições este será o seu terceiro e último mandato. Vê no seu movimento alguma figura capaz de o suceder ou esta questão do Porto será…
Vejo vários.

E alguém com vontade?
Estando eu disponível essas pessoas não se manifestam. Acho que se eu não tivesse estado disponível este movimento iria a votos.

"Tenho, entre os meus apoiantes, o professor Freire de Sousa, uma pessoa muita próxima do PS, foi presidente da CCDR-Norte. Não é por isso, seguramente, que o PS se está a desintegrar"

O Porto não está condenado a transformar-se, mais tarde, numa luta entre PS e PSD?
Não, acho que não.

Perdeu o presidente de junta, António Fonseca, que agora vai ser seu adversário como candidato do Chega. Tiago Barbosa Ribeiro disse que essa era a prova provada de que o seu movimento se estava a desintegrar. É normal uma saída de alguém com as funções que António Fonseca desempenhava?
Tenho, entre os meus apoiantes, o professor Freire de Sousa, uma pessoa muita próxima do PS, foi presidente da CCDR-Norte. Não é por isso, seguramente, que o PS se está a desintegrar. Somos um movimento independente, onde há pessoas com opções diferentes. António Fonseca sabia que não seria a escolha do movimento para continuar na junta de freguesia do centro histórico. Portanto, é perfeitamente razoável que faça as suas escolhas. Respeito, é normal.

Mas quando deixar a Câmara o Movimento não ficará moribundo?
Não. Vão surgir outras pessoas.

Quem? Imagino que não queira revelar.
Quando olharem para a minha lista à vereação e para a lista à Assembleia Municipal constatarão que há lá pessoas de grande mérito e reconhecimento na cidade que facilmente poderiam desempenhar essa tarefa.

E pode dar garantias de que vai cumprir o mandato até ao fim?
Ouça, nunca ninguém pode.

Podemos reformular a questão. Pode fazer como António Costa fez em Lisboa e deixar a câmara ao número dois?
Olhe, posso garantir: não vou ser candidato a primeiro-ministro.

Mas pode sair a meio do mandato.
Depende de muitas coisas, desde logo da saúde e de um conjunto de circunstâncias. Se me pergunta se quero cumprir o mandato: quero ganhar as eleições e depois quero cumprir o mandato até ao fim. Não tenho nenhumas outras aspirações políticas, não farei mais nada na política que não seja ser presidente da Câmara do Porto. Quero poder cumprir o meu mandato até ao último dia. Entretanto, este movimento reorganizar-se-á e vamos ver o que acontece aos partidos. Também não acredito que o PSD continue na astenia a que tem sido votado pela sua liderança. Também pode acontecer que o PSD ganhe um novo rumo que aqueles que são hoje meus eleitores daqui a quatro anos digam “Nós identificamo-nos com a liderança do PSD”. O mesmo vale para o Bloco e para o PS. Se essas lideranças partidárias gerarem outras alternativas para a cidade do Porto, é evidente que poderão esvaziar o meu movimento.

Na tal conversa que houve com o PSD, chegou a existir essa hipótese do posicionamento para 2024, quando terminar o seu terceiro mandato? Ou seja: Rui Moreira saía e o PSD ficava bem posicionado para assumir a autarquia.
Nunca. Ouça, a conversa foi muito curta: fui convidado para jantar, não fui eu que convidei, em Ovar não tenho casa…

Foi o vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro…
… e fui acompanhado pelo presidente do meu movimento. Aquilo que me perguntaram foi se estaria disponível para ser candidato por uma coligação em que o maior partido seria o PSD. E eu disse que não, acrescentando: “Se quiserem apoiar a minha candidatura independente, tenho muito gosto”. Eles disseram que não. E saímos, amigos como dantes, quartel-general em Abrantes. Foi isto.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Disse que faria tudo em dois mandatos e vai ao terceiro? “Não consegui”

Em 2017 disse, em entrevista ao Observador, e cito: “Não será necessário fazer um terceiro mandato, espero concluir aquilo que pretendo fazer no Porto num segundo mandato”.
Não consegui.

Não conseguiu.
Basta pensar o seguinte: não fosse a pandemia, o Terminal Intermodal de Campanhã estava pronto, o Bolhão estava pronto, o Batalha estava pronto… De facto, este último ano e três meses foi como se o tempo parasse na cidade. Houve um conjunto de coisas que queríamos fazer na cidade que vão para além destes projetos e que não pude concretizar. E foi isso que me levou a dizer: “Eu ainda não acabei esta missão”. E encontrei uma forma de me motivar e de fazer coisas novas a que a nova realidade nos obriga. As cidades mudaram muito e não é razoável esperar que isto se resolva de um dia para o outro. Aquela ideia de que um dia a pandemia havia de desaparecer e que no dia seguinte as coisas eram como eram no dia 1 de março do ano passado não vai ser assim.

Batalha, reconversão do Matadouro, Bolhão… Acabam por ser promessas falhadas. Ou a pandemia justifica tudo?
Não são falhadas, porque os portuenses sabem que estão a ser feitas e que vão ser feitas. O projeto do Matadouro, que é o meu favorito, como sabem, penou pelo Tribunal de Contas. Os portuenses sabem que são circunstâncias que atenuam a minha responsabilidade pelo facto de as coisas não estarem prontas em tempo.

Tem essas obras emblemáticas que estão em fase de conclusão, mas parece faltar mais propostas para o futuro. Tiago Barbosa Ribeiro diz isso, pelo menos.
Tiago Barbosa Ribeiro está ocupado no Parlamento e está desatento. Se estivesse atento, saberia que celebrámos com o Governo um acordo em novembro de 2020 que nos vai permitir construir 1740 casas e que foi apresentada na última reunião da Assembleia Municipal a obra mais importante do próximo mandato que vai ser a intervenção de Souto Moura na biblioteca municipal que vai triplicar a capacidade e fazer daquilo um centro de grande dinamismo.

Não deixa de ser curioso que esse projeto de habitação seja feito à boleia de um programa coordenado por Pedro Nuno Santos, ministro que até veio dizer ter pena de não votar no Porto para poder votar em Tiago Barbosa Ribeiro.
Compreendo perfeitamente! Então ele não é militante do PS? Acha que ele ia dizer que ia votar em mim? Era um bocado estranho. Ainda por cima, o senhor ministro é amigo de Tiago Barbosa Ribeiro, têm grande proximidade política, Tiago Barbosa Ribeiro é da ala esquerda do partido, é um homem que admira a revolução cubana e outras coisas… É normal que Tiago Barbosa Ribeiro encontre em Pedro Nuno Santos um inspirador; e que Pedro Nuno Santos se reveja no seu delfim. Acho isso legítimo.

Disse que não alinhava em campanhas negras, mas há pouco dizia também que o seu projeto preferido era o do antigo Matadouro em Campanhã. Em nome da honorabilidade da pessoa visada, é preciso esclarecer: muita gente comenta o facto de a Mota-Engil ter ganho o concurso para esse projeto e Valente de Oliveira ser administrador da empresa.
O professor Valente de Oliveira é apenas meu mandatário. E essa função inicia-se no dia em que me apresento como candidato e extingue-se no dia das eleições. Foi presidente da Assembleia Municipal, já agora, no tempo do dr. Rui Rio. Foi o último presidente da Assembleia Municipal no último mandato do dr. Rui Rio.

"Criou-se a ilusão que a demagogia e o populismo são exclusivos da nova direita. Não é verdade. O Bloco de Esquerda é um partido profundamente demagógico e que começou a construir este tipo de narrativas à volta de várias pessoas"

Atribui estas campanhas todas a Rui Rio, é isso?
Não atribuo nada. Até por isso eu não quero falar. Se fosse o dr. Rui Rio, responderia. Agora, o que lhe posso dizer é assim: um matadouro? Um concurso internacional que foi escrutinado da maneira que foi pelo Tribunal de Contas durante dois anos? Alguém acredita numa campanha destas? Esta campanha negra é um nojo. As pessoas que fazem isso são vermes e, portanto, eu não me posso pronunciar sobre pessoas que fazem isso. Se quiserem assinar com o nome, seria então tema para uma conversa nossa simpática e para uma entrevista. Não vejo lá nome, por isso lembro que há 4 anos houve uma campanha dessa natureza, de cartas anónimas, simulando que eram emails provenientes da câmara municipal do Porto. Na altura, o Ministério Público investigou o assunto. Descobriu-se de onde vinha — não de quem vinha, mas de onde vinha. Se o MP quiser inquirir essa matéria, que inquira. Não me interessa muito quem é porque uma coisa que não é assinada, não vale nada. É um ato de profunda cobardia. Mas confirma o que tenho dito: tem havido um conjunto de campanhas negras e, desta vez, incomoda-me mais porque não me é destinado a mim. É destinado ao professor Valente de Oliveira, que tem 90 e tal anos, que foi a pessoa que foi mais tempo em Portugal ministro, que tem uma carreira impoluta, que é um homem da universidade e da academia e que é um grande portuense. Só me estou a indignar exatamente por ser dirigido a ele.

Para dar rosto a essas a acusações: Catarina Martins acusou-o de querer transformar a cidade num negócio e garantiu que o Bloco vai fazer campanha para fazer oposição aos negócios privados de Rui Moreira. Isto é uma acusação com rosto.
Criou-se a ilusão que a demagogia e o populismo são exclusivos da nova direita. Não é verdade. O Bloco de Esquerda é um partido profundamente demagógico e que começou a construir este tipo de narrativas à volta de várias pessoas. Mas Catarina Martins deve estar enganada porque eu não sou o senhor Robles. Eu não tenho nenhum negócio na cidade do Porto. Nem fora dela. Se ela quiser combater os meus negócios pode combater porque eles não existem. Portanto, relativamente a essa matéria, esse é o tipo de coisa que o Bloco gosta de dizer com alguma frequência, mas que esbarra na realidade. Não há negócios na cidade do Porto. Muitas vezes o que o Bloco diz que são negócios é por exemplo quando a cidade do Porto tem de fazer concessões. Por exemplo, fez no Pavilhão Rosa Mota uma boa concessão. Quando cá chegámos, a Câmara Municipal do Porto tinha gasto milhões em projetos, tinha feito acordos com não-sei-quantas entidades, com a AEP, com o BPI e tudo o mais, mas nunca meteu lá um prego. Nós conseguimos fazer uma concessão, foi reconstruído o Pavilhão Rosa Mota nas condições que o conhecem porque a recente Cimeira Europeia decorreu lá. Surpresa das surpresas, a câmara não teve de pôr um tostão, recebe um renda e tem um número x de utilizações gratuitas por ano. Se isso é negócio, sim: eu sei fazer esses negócios para a câmara municipal e tenho toda a legitimidade para o fazer. Muitas vezes o Bloco confunde isso, acha que isso é mau.

Os bastidores da entrevista a Rui Moreira

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Foi-me comunicado que a Champions era no Porto e eu fiquei todo contente”

Sobre a pandemia e, se soubesse o que sabe hoje, tinha feito força para a Liga dos Campeões ser no Porto, como fez?
Não fiz nenhuma força. Foi-me comunicado que a Liga dos Campeões era no Porto e eu fiquei todo contente como presidente de câmara. Aquilo que me disseram na altura, aos portugueses e a vocês [comunicação social] foi que os ingleses viriam todos testados, e vieram, em bolha, que chegariam aqui e que dali iriam para o estádio, entrariam no estádio com o teste garantido e iriam para o Porto. Achei ótimo. Aquilo que sucedeu é que, entretanto, havia outros ingleses que estavam em Portugal. No Alentejo, no Algarve e em Lisboa. E esses ingleses decidiram também eles vir ao futebol. Boa notícia: quando olhamos para os números na cidade do Porto verificámos que a ARS Norte, através do ACES Ocidental, resolveu testar todos os polícias que estiveram ao serviço e a proteger os ingleses. Apenas um estava contaminado e era um falso positivo. E depois foram aos bares da Ribeira para fazer testes a todas as pessoas que trataram com os ingleses, a vender cervejas e tudo mais. 124 testes e nenhum teste deu positivo. É verdade que houve alguns desacatos, mas não são comparáveis com os desacatos normais que acontecem cá quando há finais, envolvendo ou não equipas inglesas ou, muitas vezes, quando é entre equipas portuguesas.

Disse recentemente que a proposta do ‘drive thru’ no Queimódromo do Porto para acelerar a vacinação contra a Covid-19, se fosse em Lisboa ou se a câmara fosse socialista, já estaria a funcionar. Isto é uma acusação grave. Há uma preferência do Governo central?
Não estou a dizer que foi o Governo central.

Mas disse que se fosse uma câmara socialista já estaria a funcionar.
Boas notícias: vou-vos anunciar em primeira mão que tive anteontem a notícia de que o drive-thru vai ser operacionalizado. Finalmente, a task force reconheceu que o drive-thru é útil e vai ser utilizado. Isso é que me importa.

"Comparando com o seu antecessor, o vice-almirante pôs ordem na casa. Organizou as coisas em termos de logística com uma forma de logística militar, que me pareceu perfeitamente adequado."

Alinha no movimento coletivo de elogio ao vice-almirante Gouveia e Melo?
Comparando com o seu antecessor, o vice-almirante pôs ordem na casa. Organizou as coisas em termos de logística com uma forma de logística militar, que me pareceu perfeitamente adequado. Há hoje uma taxa de sucesso na vacinação que se deve muito à forma tenaz como ele de alguma maneira rompeu algumas das barreiras que estavam criadas.

No Porto já sabemos que os dados dos manifestantes não vão para as embaixadas. Em Lisboa, está mais do que provado que isso aconteceu. Muita gente, em particular a oposição, tem pedido a demissão do seu homólogo de Lisboa. Se isto acontecesse no Porto demitia-se?
Isto no Porto não aconteceria. Mas seria uma cobardia da minha parte dizer uma coisa ou outra. Porque isso no Porto não sucede porque em situações análogas, o que existe é passado à PSP através da Polícia Municipal. Nós temos um DPO na cidade do Porto que faz este trabalho, que tinha a capacidade de gerir esse assunto. Há uma coisa que posso dizer relativamente a Lisboa, porque conheço o Fernando Medina e a família dele. A família dele é antifascista. Fernando Medina vem de uma família do Porto que teve muitos problemas com o antigo regime. Há uma coisa que eu tenho a certeza absoluta: Fernando Medina não podia imaginar que uma coisa destas sucedia na câmara. O que podemos questionar aqui é a chamada responsabilidade política e acessória, eu isso deixarei que cada um faça naturalmente a sua avaliação e não me peçam para fazer.

É-lhe frequentemente feita a acusação de promiscuidade com o futebol por ter feito parte da lista de Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto. Rui Rio fez-lhe até essa crítica e depois convidou António Oliveira para Gaia.
Rui Rio convidou António Oliveira, que é acionista da SAD do Futebol Clube do Porto. Eu faço parte do Conselho Superior do Futebol Clube do Porto. Não da SAD, do clube, com todo o seu ecletismo. Sabe uma coisa? Acho que o presidente da câmara do Porto devia ter lugar marcado no Conselho Superior do Futebol Clube do Porto e, já agora, do Salgueiros e do Boavista. Não há problema nenhum. Promiscuidade é meter o futebol na campanha eleitoral. Alguma vez eu meti? Alguma vez me viram a fazer isso? Nunca viram.

Até o acusavam de o FC Porto ganhar menos desde que tinha chegado à autarquia.
No Polígrafo chegaram a perguntar se a câmara do Porto pagava salários aos jogadores do Futebol Clube do Porto. Imagine.

A sua cadeira de sonho é mesmo a de presidente da câmara do Porto ou quer vir a ser um dia presidente do Futebol Clube do Porto?
A minha cadeira de sonho é aquela que hoje ocupo.

[Vídeo. A entrevista na íntegra:]

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