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Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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A designer de moda Lidija Kolovrat veio da Bósnia para Portugal em 1990 e fez deste país a sua casa. A sua marca já faz parte do panorama da moda nacional de autor

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A designer de moda Lidija Kolovrat veio da Bósnia para Portugal em 1990 e fez deste país a sua casa. A sua marca já faz parte do panorama da moda nacional de autor

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Uma história na moda, do design à casa das máquinas: visitámos a fábrica de Lidija Kolovrat em Almada

Quando chegou a Portugal em 1990, a designer de moda bósnia não sabia para onde vinha. Hoje sente-se em casa: comprou uma fábrica em Almada e está a expandir horizontes para fora da capital.

Depois do desfile na ModaLisboa no início deste mês de outubro, enquanto falava com os jornalistas sobre a nova coleção, Lidija Kolovrat, respondendo uma sobre as peças de alfaiataria que tinha acabado de apresentar, disse: “Comprei uma fábrica, sabem? Comprei uma fábrica que fechou em Almada.” Com um sorriso muito aberto, explicou que se tratava de uma fábrica de confeção, que o fez “por um lado emocional” e que isso provocaria grandes mudanças, porque teria de levar a marca Kolovrat a atravessar o rio Tejo. Perante tantas novidades voltámos a falar com a designer e fomos visitar a nova Kolovrat Factory.

Lidija Kolovrat recebeu o Observador à porta da nova fábrica, na base de um prédio num bairro residencial, ao som de crianças nas escolas à volta. “Ainda não está a funcionar, mas tchanan…”, disse, enquanto descia a rampa que nos levou da entrada à sala das máquinas, onde estão duas filas de máquinas de costura industriais, com diferentes finalidades.

Entre máquinas de ponto a direito, de corte e cose, de fazer casas de botões ou de colocar ilhoses, são 15 as que estão a funcionar na perfeição. Ao lado, acumulam-se outras seis que aguardavam a chegada do mecânico. Ao fundo, há uma série de tábuas de engomar profissionais à espera de voltarem a ganhar vapor. Uma grande mesa para corte de tecidos estava a ser reparada. Por todo o espaço, há estantes onde se acumulam caixas com acessórios de costura, cones de linhas coloridas e, sobretudo, tecidos, em rolos e em retalhos.

Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Uma fábrica e muitos projetos

Lidija Kolovrat chegou a Portugal em 1990 vinda da Bósnia e, desde então, tem sido esta a sua casa. Veio à boleia do marido. “É holandês e passou por aqui numa excursão da escola e a viagem marcou-o. Quando nos conhecemos, ele disse-me: ‘Vamos para Portugal!’. E eu disse que sim. Acho que foi o destino.” Conta que, durante 20 anos, só viajou até à terra natal três vezes. Nos últimos anos, vai com mais frequência. A próxima visita é em novembro. “Vou viajar e, entre outras coisas, vou passar pela minha terra.”

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“Estou aqui há mais de 30 anos.” E o que a faz continuar por cá? “O envolvimento com o trabalho e tudo o resto, o ambiente. É muita coisa já.” Entretanto, passou a fazer parte do panorama da moda nacional. A história da ModaLisboa não se escreve sem o seu nome. “Acho que faço ModaLisboa há mais de 20 anos, nem sei bem. [A moda] tornou-se uma disciplina conhecida. Como tudo o resto. Portugal está a dar um pulo muito grande.”

“Acho que faço ModaLisboa há mais de 20 anos, nem sei bem. [A moda] tornou-se uma disciplina conhecida. Como tudo o resto. Portugal está a dar um pulo muito grande.”
Lidija Kolovrat, designer de moda

A fábrica que adquiriu em Almada era o local de produção da empresa de confeção Tirmav e a relação com Lidija Kolovrat já tem anos. A designer contou que a empresa era especialmente conhecida pelos blazers e que foi lá que foram confecionadas as fardas para os hotéis do grupo Torel e para o restaurante Belcanto, desenhadas por si. Contou também que a empresa era gerida pela dona, Salomé, que era quem “tinha o know-how” e quem “também organizava o trabalho”. Salomé gostava que fosse Kolovrat a suceder-lhe ao leme da fábrica. “Ela disse-me que queria mesmo que eu ficasse [com a fábrica]. E eu disse que, se ficasse, teríamos mesmo de trabalhar juntas. Adorava que ela estivesse lá, porque era uma pessoa muito boa tecnicamente e não há muitas dessas pessoas.” Mas Salomé morreu há dois anos, num acidente. “Foi uma coisa trágica.” Tinha  70 anos e, sem ela, a fábrica fechou e os 15 funcionários que lá trabalhavam perderam o emprego.

Foi este ano que Lidija assumiu o compromisso de comprar a empresa e diz que não foi uma decisão complicada. “Foi mesmo de um momento para o outro”. Contudo, o investimento “foi um esforço”. A nova dona gostava de recuperar, pelo menos, uma das antigas funcionárias e diz estar à procura de pessoas com experiência em alfaiataria de confeção para aumentar a equipa. O negócio não incluiu a compra do espaço, que era alugado, mas incluiu tecidos e máquinas. A fábrica tem cerca de 250 metros quadrados. “Não é uma fábrica enorme, tem uma medida boa para desenvolver trabalho.” O espaço já esteve em obras e foi pintado de branco e rosa claro. “Achei que dava suavidade ao [ambiente] industrial. Foi um mimo”, explicou a designer. Mas ainda “há muita coisa para organizar”.

Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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À porta da fábrica, estão empilhados vários retalhos de tecidos presos com fitas. Parecem presentes embrulhados, à espera de serem recolhidos. E foi isso que aconteceu — Vanessa e Amália, da Associação Ensaios e Diálogos (EDA), um coletivo internacional que experimenta formas alternativas de intervir no território, através das artes, educação e sensibilização ambiental, cruzaram-se com o Observador e apareceram para levar os pedaços de tecido, algo que já tinham feito antes. A primeira oferta de Kolovrat já tinha sido transformada em toalhas, cortinados e outras peças. Vanessa, Amália e Lidija puseram-se à conversa e percebeu-se que a vontade de trabalhar em conjunto para a comunidade é mútua.

Desde que adquiriu a fábrica, Lidija Kolovrat tem procurado apoio em várias instituições para pôr em marcha planos que mobilizem a comunidade. Diz que não vai produzir para outras marcas, porque não é esse o seu negócio. Mas pretende apostar em força na formação. Através da Câmara Municipal de Almada, procurou associações e já falou com a própria presidente. “Tive uma reunião com Inês de Medeiros na Câmara Municipal para falar do projeto como uma iniciativa para a Margem Sul, para Almada, porque nós na fábrica podemos dar cursos.” A designer quer envolver-se em outros projetos na zona e entrou também em contacto com a Universidade Nova de Lisboa, que tem um polo no Monte da Caparica.

Imagine, se os jovens designers se juntam… Se há dez designers, os turistas já vão para lá e vêm as peças deles. Almada é um sítio muito bom. É como Brooklyn."
Lidija Kolovrat, designer de moda

Lidija quer também que a fábrica seja “uma chama para os outros designers perceberem que podem ir para o outro lado do rio”, ou seja, quer mostrar aos colegas que existe um caminho para fora de Lisboa. “Imagine, se os jovens designers se juntam… Se há dez designers, os turistas já vão para lá e vêm as peças deles”, explicou. “Almada é um sítio muito bom. É como Brooklyn”, disse a designer, concluindo: “Foi com todas estas ideias que justifiquei a mim própria dar este passo”.

Nova estação, nova vida

A ideia inicial de Lidija Kolovrat era mudar o atelier do Príncipe Real, em Lisboa, para o novo espaço, mas confessa que ainda não sabe se a mudança será total, ou se a equipa se vai dividir e continuar a trabalhar em Lisboa alguns dias por semana. A transição já era para ter acontecido, mas garante que ocorrerá antes do final deste ano.

Atualmente, a marca Kolovrat tem morada no número 79 da Rua D. Pedro V, na zona do Príncipe Real, em Lisboa. “No primeiro andar ficava o design studio e atelier. Esse atelier agora vai para Almada, por isso vamos ter melhores condições para produzir e expandir, provavelmente.” Isso não significa o fim do espaço na capital, pelo contrário. “Com a fábrica, o projeto em Lisboa também vai ampliar”, explicou a designer. “Vamos manter o espaço no Príncipe Real. A loja vai crescer para o primeiro andar onde era o atelier.” Esse espaço vai passar também a receber eventos e vai tornar-se num projeto que junta pessoas de outras áreas além da moda. Pode vir a ser um showroom, com colaborações, a leitura de um livro, apresentação de um novo projeto ou até um cozinheiro, exemplificou Lidija. “O meu trabalho também tem a ver com a comunidade”.

Reportagem na nova fábrica da estilista Lidija Kolovrat, em Almada. Este novo espaço vai-se dedicar, não só à criação de peças próprias, mas também à formação de novas pessoas atraves de mini-cursos e work-shops com várias parcerias. 20 de Outubro de 2022, Almada TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Lidija Kolovrat mora em Lisboa, “entre o Castelo e a Sé”, e já está a entrar na rotina do novo local de trabalho. “Às vezes vou de Uber. Mas também vou a pé até ao Cais do Sodré, porque também gosto de atravessar o rio.” A deslocação do seu quartel-general para Almada vai mudar a rotina diária da designer e também da sua equipa. Neste momento, trabalham quatro pessoas no atelier em Lisboa e há quem goste de trabalhar na capital, pelo que a designer vai manter máquinas no espaço do Príncipe Real, “para os dias que trabalham em Lisboa”. Por outro lado, também há pessoas para quem a mudança não faz diferença. Também acredita que, no futuro, a fábrica permitirá trabalhar ainda mais a alfaiataria nas coleções, porque há “outro tipo de equipamento e máquinas”.

A alfaiataria sempre fez parte das coleções de Lidija Kolovrat. Nunca teve formação específica na área, mas gosta desse tipo de trabalho. “Aprendo fazendo. É um sentido de engenharia, a modelagem e construção da peça. Gosto muito de trabalhar a estrutura.” As peças de alfaiataria que apresentou na mais recente coleção na ModaLisboa já vieram da nova fábrica. Eram peças já confecionadas e que foram costumizadas para o desfile.

No próximo dia 25 de outubro, vai haver um evento da marca Kolovrat do hotel Ritz, em Lisboa. A designer vai apresentar um showcase onde os convidados vão poder ver uma série de peças da marca, muitas delas novas, que, embora estejam relacionadas com a coleção mais recente, não foram apresentadas na ModaLisboa. Terão “um cariz mais glamouroso”.

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