Uma publicação está a gerar polémica nas redes sociais por, alegadamente, mostrar uma notícia do jornal Expresso ilustrada pela imagem de três pessoas de etnia cigana. No post, a ser partilhado no Facebook desde 12 de dezembro, é exibida a seguinte citação: “‘Ai, desonras a nossa mãe e o nosso povo!’: as palavras dos irmãos Piménio e Prudêncio no seu crime de puro racismo supremacista branco contra um imigrante de origem indiana antes de o assassinarem.” Ou seja, atribui-se a autoria da notícia ao semanário.

O autor da partilha no Facebook vai mais longe e garante mesmo que o Expresso informa que foi “um cigano a matar um indiano”.

No entanto, em declarações ao Observador, fonte oficial do jornal garante que este conteúdo não é da sua autoria. “Efetivamente não é nosso. Além de não corresponder, graficamente, ao que são as publicações do Expresso, esta informação não foi noticiada por nós, nem existe qualquer conteúdo sobre este tema no site ou na edição em papel do Expresso”, assegura. E deixa um alerta a quem se venha a deparar com esta ou outra publicação do mesmo tipo: “As únicas fontes legítimas de publicações do Expresso são as páginas verificadas nas redes sociais, ou as edições física e digital do jornal.”

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Na base da partilha deste conteúdo desinformativo está a notícia de 6 de dezembro que dava conta da detenção de dois homens de 22 e de 29 anos, em Setúbal, suspeitos de dois crimes de homicídio qualificado, um na forma consumada e outro na forma tentada.

De acordo com um comunicado da Polícia Judiciária foram detidos “fora de flagrante delito”. Na nota é explicado que os factos ocorreram na noite de 5 de novembro, quando os dois suspeitos, irmãos, “munidos de uma espingarda caçadeira, se dirigiram a uma casa onde, à data, residiam vários indivíduos de origem indiana com o objetivo de se vingarem de uma suposta ofensa verbal que, alegadamente, uns quaisquer cidadãos originários da Índia tinham dirigido à respetiva progenitora”.

Polícia Judiciária deteve dois suspeitos de homicídio de homem de 26 anos em Setúbal

Após “se certificarem de que existiam pessoas no interior da habitação”, levantando a persiana de uma das janelas, “efetuaram dois disparos de arma de fogo para o interior da residência, atingindo no peito um dos habitantes que, inevitavelmente, teve morte imediata”, referiu a autoridade policial. A PJ afirmou mesmo que a ação dos suspeitos só não teve consequências ainda mais graves “porque, a dada altura, o atirador acabou por ser desarmado, o que motivou a fuga de ambos do local”. E revelou ainda que os dois suspeitos tinham “antecedentes criminais de vária natureza”.

No comunicado em que o crime e detenções são descritos não é feita referência à etnia ou nacionalidade dos autores do homicídio, mas apenas à origem das vítimas — imigrantes indianos. Tal como noticiado pelo JN, a atuação dos suspeitos começou por ser anunciada como um ato de vingança contra os cidadãos indianos. Porém, segundo esclareceu a investigação, o ataque aos indianos terá sido um ato de puro racismo.

Conclusão

A alegada publicação do Expresso que revela a etnia dos autores de um homicídio que decorreu em Setúbal no início do mês é falsa. Foi criada, com base no grafismo do jornal, com a intenção de enganar quem a visse nas redes sociais e não passa de pura desinformação. Fonte oficial do semanário garante até que nem sequer produziu conteúdo sobre este tema, quer na sua edição online, quer na edição em papel.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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