Circula um vídeo nas redes sociais em que pode ver-se um cidadão que entrou numa reunião de câmara e inicia uma troca de argumentos com um autarca, reivindicando apoio para ter acesso a uma habitação. No mesmo registo, pode ver-se este cidadão acompanhado por uma familiar que tenta acalmar os ânimos, mas aponta também para os elevados valores das casas, que tornam impossível o pagamento de uma renda.

A legenda deste vídeo refere que, após a reunião, o presidente (alegadamente da Câmara Municipal de Coruche) terá sido agredido, “despido”, “amarrado” e “chicoteado” à porta da autarquia pelo cidadão de etnia cigana, por não ter cumprido com promessas eleitorais: “O presidente da câmara, com medo de perder as próximas eleições, fez um acordo com a ciganada [sic]“, referindo-se à atribuição de casas que terá acabado por não acontecer.

A mesma descrição acrescenta que, na sequência das supostas agressões, a GNR teria sido chamada a intervir, tendo os militares sido igualmente agredidos. O autarca terá sido depois levado para o hospital. A legenda termina com um desabafo: “Ainda dizem que havia censura no tempo de Salazar.”

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Mas, de acordo com o que apurou o Observador, todas as informações desta legenda são falsas, apesar de o vídeo ser factual. O registo foi captado numa reunião de câmara, não de Coruche, mas de Vila Franca de Xira, entre um cidadão e o presidente da autarquia. O homem em causa pedia ajuda para o acesso à habitação e contestava a demora.

Numa nota enviada ao Observador, a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira “confirma que este munícipe pediu para intervir na reunião pública ocorrida no passado dia 2 de maio, como o fazem outros cidadãos em cada reunião de Câmara, nos termos regimentais”. Nesse sentido, e em resposta ao pedido, o autarca, Fernando Paulo Ferreira, “indicou os mecanismos à disposição do munícipe para fazer o pedido de habitação municipal e para ter apoio dos serviços na procura ativa de emprego”.

Autarquia refere ainda que, posteriormente, o cidadão “dirigiu-se em tom alterado e desrespeitoso para com o executivo e vereadores”, levando o presidente da Câmara a suspender a sessão, “retomando os trabalhos depois de o munícipe abandonar o Salão Nobre dos Paços do Concelho”, onde decorria a reunião camarária.

Relativamente às alegadas agressões, a autarquia esclarece que nenhuma das partes provocou confrontos físicos: “Em momento algum o munícipe foi ameaçado ou interpelado pelas autoridades policiais, que nem se encontravam presentes na sala. Não se registou qualquer agressão física ao presidente da Câmara ou a vereadores”.

O executivo camarário demarca-se ainda de qualquer responsabilidade sobre o vídeo — incompleto — que circula nas redes sociais, e disponibiliza a versão completa da reunião.

Também contactadas pelo Observador, tanto a GNR como a PSP negam ter sido chamadas para responder a qualquer episódio de agressão física entre o homem presente na gravação e o presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira — zona de intervenção da Polícia de Segurança Pública.

Conclusão

É falsa a afirmação de que o presidente da Câmara Municipal de Coruche tenha sido agredido, despido, amarrado e chicoteado à porta da autarquia por um cidadão de etnia cigana. O vídeo em questão foi registado na C. M. Vila Franca de Xira e não resultou em agressões físicas. O referido munícipe também não entrou na reunião camarária para exigir o cumprimento de uma promessa eleitoral caída por terra, mas sim para pedir apoio no acesso à habitação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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