São várias as publicações nas redes sociais que fazem um anúncio surpreendente, garantindo que a Itália, liderada pela primeira-ministra Georgia Meloni, declarou guerra à Rússia. Tudo porque Meloni teria dito, num discurso em meados de junho, que se a Rússia “não concordar com os termos da cimeira da paz” será “forçada a render-se”.

A confusão parece ter começado com um vídeo que mostra, de facto, a intervenção de Meloni na Cimeira da Paz organizada a propósito da guerra na Ucrânia, na Suíça, nos dias 15 e 16 de junho. No evento, desenhado com o objetivo de abrir um “diálogo vasto” sobre as condições que poderiam levar a uma “paz duradoura” na Ucrânia, participaram delegações enviadas por mais de 100 países, incluindo Itália.

Ora neste vídeo, dobrado em ucraniano e traduzido pela Reuters, a dobragem leva ao engano. Isto é, segundo a tradução, o que se pode ouvir na dobragem: “Proteger a Ucrânia significa unir todos os esforços da comunidade internacional. E se a Rússia não concordar com isto, vamos forçá-la a render-se. E temos de estabelecer condições mínimas para esta discussão.”

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A questão é que Meloni não disse isto, embora tudo possa tratar-se apenas de um erro de tradução. A versão completa e transcrita em inglês do seu discurso pode ser encontrada no website do governo italiano, onde se pode ler: “Defender a Ucrânia significa defender o sistema de regras que mantém a comunidade internacional unida e protege cada nação. Se a Ucrânia não tivesse podido contar com o nosso apoio e portanto tivesse sido forçada a render-se, hoje não estaríamos aqui para discutir as condições mínimas para uma negociação. Estaríamos apenas a discutir a invasão de um Estado soberano, e todos podemos imaginar com que consequências.”

Ou seja, no discurso em que defende que “a paz não significa a rendição” da Ucrânia — “confundir paz com subjugação cria um precedente perigoso para toda a gente” –, Meloni dirige-se diretamente a Zelensky e fala hipoteticamente de um cenário em que a Ucrânia, e não a Rússia, teria sido forçada a render-se, caso não tivesse contado com o apoio da comunidade internacional.

A autora de uma das publicações em causa parece, de resto, ter-se dado conta do engano, uma vez que acrescentou um post-scriptum ao texto criticando o “tradutor desonesto” que “declarou guerra à Rússia em nome dos italianos”.

Conclusão

O erro sobre a interpretação das palavras de Giorgia Meloni parece ter origem num vídeo, dobrado em ucraniano, onde se traduz as palavras da primeira-ministra italiana como uma ameaça à Rússia. Mas a tradução oficial do discurso de Meloni mostra que estava a falar num cenário hipotético em que a Ucrânia, e não a Rússia, teria sido obrigada a render-se, caso não tivesse contado com o apoio da comunidade internacional.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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