Os Estados Unidos da América continuam a sua campanha massiva de vacinação sob a liderança do novo presidente, Joe Biden. Aliás, as pessoas totalmente vacinadas podem agora não usar máscaras em grande parte dos locais. Mas, nas redes sociais, há quem defenda que não são necessárias mais restrições à Covid-19, já que o estado do Texas provou que, sem grandes proteções, é possível ter números favoráveis no controlo da pandemia. “Zero óbitos no Texas! Sem qualquer restrição imposta nem uso de máscaras — a viver desde março como antes da pandemia”, escreveu o autor da publicação. Chegou às 320 partilhas. Trata-se, no entanto, de uma publicação enganadora.

Publicação viral que desdramatiza a Covid-19 manipulando o exemplo do estado do Texas.

Nessa partilha, é citada uma notícia do jornal The Hill, onde se pode ler o seguinte título: “Texas regista zero mortes por Covid-19 pela primeira vez em mais de um ano.” Portanto, de facto, aquele estado norte-americano teve no dia 17 de maio um resultado positivo na luta contra o novo coronavírus. Mais abaixo no artigo — e esse é um dado omitido no post — pode ler-se que, “desde segunda-feira, no entanto, foram registadas 23 novas mortes 318 novos casos de Covid-19, segundo o Departamento dos Serviços de Saúde do Texas”. De resto, esse registo — as 23 mortes por Covid-19 — foram o pior registo a uma segunda-feira em quase dois meses.

Fica-se ainda a saber que a tendência positiva naquela região estava alinhada com o resto do país, onde o número de casos diminuiu em todos os 50 estados norte-americanos.

Portanto, a boa notícia acaba por ser manipulada para defender, por exemplo, o não uso de máscara. A verdade é que o governador do Texas, Greg Abbott enfrentou duras críticas depois de, no passado mês de março, ter acabado com o uso obrigatório daquele equipamento de proteção individual, permitindo que o comércio fosse totalmente reaberto. Essa medida chegou mesmo aos ouvidos de Joe Biden, que apelidou a medida de “pensamento Neandertal”.

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Por outro lado, e tal como referido pelo artigo do The Hill, os norte-americanos continuam a ser vacinados de forma expressiva. Segundo o presidente dos EUA, 60% da população daquele país já tinha a primeira dose da vacina tomada. Mas, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, essa percentagem baixava para 47%.

E, tal como escreve a revista Forbes, há outro dado que pode ajudar a entender esta tendência positiva no Texas: a partir de março, a vacinação foi gradualmente alargada para todos os residentes com 18 ou mais anos. Também é importante referir que o próprio governador texano, na altura em que anunciou o levantamento de algumas restrições, declarou o seguinte: “Desenganem-se, a Covid-19 não desapareceu ainda, mas é claro que a vacinação, quem recupera, o número reduzido de hospitalizações e as práticas seguras do Texas fazem com que já não sejam necessárias estas restrições.” Ou seja, mesmo com um relaxamento das medidas, o governante não declarou que a pandemia tinha acabado.

Segundo um artigo do gabinete de Greg Abbott, fica-se a saber igualmente que o Texas ficaria com a capacidade de fazer cerca de cem mil testes diários à Covid-19. E que a região investiu numa alargada variedade de terapêuticas contra o vírus que permitiu “tirar vários texanos dos hospitais”. No entanto, em relação à abertura total do comércio e restauração, bem como outros locais com público, ficou estabelecido que qualquer comerciante poderia impor determinadas limitações para o total clientes nos seus espaços, por exemplo.

Em dezembro de 2020, o Texas foi o primeiro estado a ultrapassar um milhão de infetados, tornando-se uma das piores regiões dos EUA naquela altura da pandemia. Segundo a Worldometers, o Texas registou, até ao momento, 2,946.387 casos e um total de mortes de 51.469. Quanto a casos ativos está nos 71.501. Olhando para os dados mais recentes disponibilizados pelo Departamento dos Serviços de Saúde do Texas, de 24 de maio, aquela região registou mais 574 novos casos de Covid-19 e quatro óbitos.

Portanto, o tal dia que foi celebrado pelo governador via Twitter — e manipulado pelo autor da publicação original — não teve seguimento, nem a partir de 17 de maio nem agora, no final do mês. O que não quer dizer que não se volte a registar. Mas isso, para já, não é motivo para defender o não uso de máscara, o relaxamento na lavagem de mãos e do distanciamento social.

Conclusão

Uma publicação viral pegou no exemplo do Texas, que registou zero mortes por Covid-19 no passado dia 17 de maio, para defender que já não faz sentido o uso de máscara durante o atual estado pandémico.

No entanto, basta olhar para a notícia referida do jornal The Hill para se perceber duas coisas: sim, naquele dia, o Texas registou zero óbitos, mas a partir daí registou mais 13 mortes por Covid-19. Ou seja, a realidade mudou muito rapidamente, como tem sido hábito desde o início da pandemia um pouco à volta do mundo inteiro. O governador texano, Greg Abbott, anunciou em março, sob um manto forte de críticas, que já não seria obrigatório o uso de máscara e que o comércio, restauração e outros locais poderiam abrir sem qualquer restrição. No entanto, relembrou que o vírus da Covid-19 ainda não tinha desaparecido. A 24 de maio, o Texas registou 4 óbitos e mais 574 casos de infectados por Covid-19.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota: o Observador recebeu um direito de resposta a este artigo.

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