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Sexta-feira, 18 de novembro de 2022. A 27.ª edição da cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas deveria acabar ao final da tarde, com um aplauso e um acordo assinado para atar as pontas que tinham ficado soltas no acordo climático de Glasgow, no ano anterior. |
Um dos grandes objetivos era fazer, finalmente, cumprir o antigo objetivo de mobilizar 100 mil milhões de dólares anuais dos países mais desenvolvidos para ajudar os países mais pobres na transição energética e na mitigação dos efeitos das alterações climáticas. Outro, tornado ainda mais premente pelas mortíferas inundações que devastaram o Paquistão no ano passado, era o das perdas e danos — a ideia de que os países mais desenvolvidos têm a responsabilidade de ajudar os países mais pobres a pagar a fatura dos danos atualmente provocados pelo clima extremo. Além disso, também os temas clássicos — incluindo o esforço para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5ºC — estavam em discussão em Sharm El Sheikh, no Egipto. |
Mas, como já é tradição nas cimeiras da ONU sobre o clima, o prazo não foi respeitado: as delegações não se entendiam sobre a criação ou não de um fundo para as perdas e danos, as propostas de redação sobre o objetivo dos 1,5ºC eram inócuas e o fundo para a mitigação e transição continuava por cumprir. A COP27, que tinha sido apelidada de cimeira da implementação — por ser, finalmente, o local em que deixaria de se discutir intenções e passaria a planear-se a ação —, teve de se arrastar durante mais dois dias de negociações intensas para que fosse alcançado um acordo. |
O mesmo tinha acontecido um ano antes, na COP26, em Glasgow, no Reino Unido, quando a versão inicial do Pacto do Clima de Glasgow — bastante ambiciosa em temas como a descontinuação do recurso a combustíveis fósseis — não resistiu às rondas negociais finais. Mais de 24 horas depois do prazo marcado para o final da cimeira, lá se chegou a um acordo simpático, mas inócuo, sem compromissos reais sobre o fim dos combustíveis fósseis. |
Afinal, o que acontece nestas negociações de alto nível nas Nações Unidas sobre o clima? O que conseguem efetivamente acordar por unanimidade quase 200 delegações de países tão diferentes? Quais as preocupações em jogo? Quais os interesses inconciliáveis e quais as estratégias para alcançar acordos significativos? |
Este foi um dos temas centrais da entrevista que fiz na semana passada a Francisco Ferreira, provavelmente o nome mais conhecido do atual movimento de defesa do clima em Portugal. Presidente da associação ambientalista Zero, que fundou em 2016 com um conjunto de outros dirigentes históricos da Quercus (de que, aliás, também chegou a ser presidente, no final da década de 1990), Francisco Ferreira é professor universitário na área da Engenharia do Ambiente, investigador climático e participou em várias edições da COP ao longo dos últimos anos — incluindo na de Paris (2015) e nas últimas duas, em Glasgow e Sharm El Sheikh. |
Na entrevista, Francisco Ferreira fala sobre os dilemas negociais, na dificuldade em garantir um acordo por unanimidade e nos problemas políticos associados a negociações com base na classificação dos países entre desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Ainda assim, apesar dos acordos pouco ambiciosos que têm sido alcançados nas últimas edições, o ambientalista português prefere ver o copo meio cheio e garante que o facto de as previsões atuais apontarem para um aquecimento global até 2,8ºC (em vez dos 4ºC a 6ºC antes do Acordo de Paris) já significa que alguma coisa está a ser feita. |
Sobre o ambientalismo de hoje, com um discurso marcado pelo ativismo radical de Greta Thunberg, pelas greves escolares e por fenómenos mais recentes como a ocupação de escolas em Portugal ou até o vandalismo de obras de arte com sopa, Francisco Ferreira pede que haja um “repensar” das lógicas da luta climática, para que não haja “distrações e divisões” no debate científico sobre o clima. E mais: os jovens que ocuparam escolas exigindo a demissão do ministro da Economia e a retirada dos combustíveis fósseis do PRR falharam o alvo, defende, e têm de aprender que a luta climática exige estudo e informação para que as suas posições sejam credíveis. |
Um parque solar inspirado em Fernando Pessoa |
Em dezembro de 2017, o Observador publicou um extenso artigo da jornalista Rita Cipriano com um título sugestivo: “A última paixão de Fernando Pessoa não foi Ofélia, foi uma inglesa loira“. Nesse artigo, a Rita escreve sobre uma importante descoberta feita na altura sobre os últimos anos de poeta português: não só teria tido uma paixão por uma “inglesa de cabelo ‘alourado’ chamada Margaret” como poderá ter sido a pensar nessa mulher que Pessoa escreveu o seu último poema, um texto de amor em inglês, com o título “The happy sun is shinning”, com data de 22 de novembro de 1935. Nessa semana, tinha chegado à caixa de correio de Pessoa a última carta de Margaret. Uma semana depois, a 30 de novembro, o poeta morreu. |
Os responsáveis da empresa luso-espanhola Prosolia Energy leram o artigo da Rita Cipriano e foram lá buscar a inspiração para um projeto de grandes dimensões que está para nascer em Portugal nos próximos anos: o maior parque solar da Europa, que será instalado numa área de 1.260 hectares no concelho de Santiago do Cacém. |
A central será batizada com o nome THSiS — sigla criada a partir do título do poema de Fernando Pessoa —, mas tem sido informalmente apelidada de central Fernando Pessoa. Na terça-feira passada, a Prosolia Energy anunciou que a central tinha obtido a autorização ambiental para avançar para a execução: um dos principais desafios foi a necessidade de abater 1,5 milhões de eucaliptos para instalar a central, uma vez que a área é até agora um eucaliptal intensivo. |
Cinco anos depois do artigo que inspirou o nome da central, a jornalista Ana Suspiro conta no Observador todos os detalhes do projeto, que deverá criar 2.500 postos de trabalho durante a fase de construção — que deverá estar terminada em 2025. |