Ao contrário do que diz o próprio e outros, as criticas à nomeação de Pedro Adão e Silva para presidir à Comissão Executiva das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril não constituem ataques à Revolução. Era o que faltava que não se pudesse criticar decisões de um governo quase meio século depois de Abril de 1974. Não foi o 25 de Abril feito em nome da liberdade de opinião? O ataque a quem discorda da escolha é que constitui uma violação do espírito do 25 de Abril. A reação de PAS e de outros contra quem discordou da sua escolha faz lembrar mais um comportamento à Estado Novo do que próprio de uma democracia. Fiquem igualmente seguros que essas reações não intimidam quem faz críticas. Já vivemos há muito tempo em liberdade para nos assustarmos com ameaças.

Como disse, o 25 de Abril foi feito para que os portugueses possam ser cidadãos livres. Ora essa liberdade permite-nos discordar de decisões tomadas pelo governo. Eu discordo em absoluto da escolha de PAS para o cargo. A principal razão porque discordo é por ele ser um militante do PS, antigo membro da direção do partido, e um defensor deste governo. Acho que PAS tem toda a liberdade e o direito de ser militante do PS e de fazer intervenção política. Nada tenho contra ele defender o governo nas suas intervenções na comunicação social. Acho que uma pessoa deve defender aquilo em que acredita.

Mas esta escolha é má por uma razão muito simples: o PS resolveu partidarizar o 25 de Abril. O que aliás é uma consequência directa da partidarização que faz do Estado. O que esta nomeação revela é que na cabeça dos líderes socialistas, o 25 de Abril não foi feito apenas em nome da liberdade dos portugueses, mas sobretudo para o PS estar no poder. Sou um grande defensor do 25 de Abril que acabou com uma ditadura e começou a devolver a liberdade aos portugueses. Por isso, não posso aceitar que um partido, numa democracia multipartidária, se queira apropriar das celebrações do meio centenário do dia da liberdade.

Imaginem que teríamos um governo do PSD e do CDS, e que o PM desse governo escolheria um militante do PSD ou do CDS para o lugar que vai ser exercido por PAS, como reagiriam os partidos de esquerda? Todos sabem a resposta. Os que agora defendem a escolha de PAS estariam aos gritos contra o regresso do fascismo. Eu também criticaria um governo de direita que escolhesse um militante partidário. Numa altura em que o debate político em Portugal está polarizado, o governo perdeu uma grande oportunidade de enviar um sinal de unidade, escolhendo uma figura fora dos partidos políticos, e respeitada por todos.

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Mas o 25 de Abril também foi feito em nome de uma sociedade mais igual e mais justa. Isto leva-me à segunda razão da minha discordância com a escolha do governo. Como é possível que no meio de uma crise que está a aumentar o desemprego, com milhares de portugueses com dúvidas e receios sobre o seu futuro, o governo dê um contrato de cinco anos e meio a uma pessoa para preparar as celebrações do meio centenário do 25 de Abril em 2024. Repito: cinco anos e meio para uma celebração em 2024. São necessários três anos para preparar as celebrações? Ainda mais absurdo, o que vai PAS fazer nos dois anos e meio depois das celebrações? Alguém no governo e no PS tem alguma ideia sobre a quantidade de riqueza que uma pessoa pode produzir em cinco anos? Além disso, o governo socialista deu a PAS uma equipa de quase vinte pessoas. Ou seja, na verdade PAS será um ministro sem pasta, com a estranha particularidade do seu mandato terminar depois do mandato de quem o nomeou, o governo. Tudo isto é completamente bizarro e mostra uma oligarquia alienada da população portuguesa.

Pior, o governo resolveu assumir despesas desnecessárias quando o país enfrenta uma grave crise social. Obviamente, não são quantias que resolvessem problemas sociais, mas a política também é feita de exemplos. Nada, nem uma crise, trava os socialistas de concederem privilégios aos seus. Está tudo dito em relação à suposta “consciência social” dos socialistas.

Obviamente, o governo deveria celebrar o meio século do 25 de Abril. Mas deveria ter escolhido um independente. Uma pessoa com prestígio indiscutível, que não estivesse ligado a qualquer partido. Por exemplo, uma figura com o perfil de António Barreto. Preferiu escolher um dos seus, um militante do PS desconhecido em Portugal e sem um perfil de excelência. Com esta escolha, o governo diminuiu a importância do 25 de Abril, reduzindo a sua celebração a uma manifestação de poder partidário, em vez de uma verdadeira comemoração nacional. Se os partidos da oposição, especialmente à direita, respeitarem o 25 de Abril como um grande dia da liberdade nacional, deveriam boicotar todas as iniciativas desta comissão. Se não o fizeram, serão cúmplices da partidarização de uma revolução nacional pelo PS.