O PS deixou de ser o partido de Mário Soares. O PS Soarista lutou pela democracia em Portugal, contra as ameaças totalitárias da extrema esquerda. O actual PS de Costa e (ainda) de Sócrates é a principal ameaça aos valores democráticos em Portugal, tendo-se até aliado aqueles que Soares combateu em nome da democracia.

As mudanças começaram ainda com Guterres, que possivelmente abandonou São Bento horrorizado com o que começava a ver no seu partido. Sócrates transformou de vez o PS. Fez do partido uma máquina de poder, que não respeita a divisão de poderes, não distingue o Estado do partido, e que procura controlar os centros do poder em Portugal. Sócrates abandonou o PS, mas o partido socrático continua bem vivo: todos os que estão hoje no poder estiveram com Sócrates, a começar pelo PM. Quando todos assistimos aos tiques, aos gestos e às expressões socráticas de Galamba na comissão parlamentar, percebemos até onde vai a influência de Sócrates no PS.

Mas o partido que não consegue viver sem poder também se radicalizou ideologicamente. O velho socialismo democrático de Soares está a ser substituído por um socialismo radical das novas gerações, pouco diferente do radicalismo do Bloco. Pedro Nuno Santos está mais próximo do Bloco do que do velho PS Soarista. Cada vez mais, existem dois partidos no interior do PS, a linha radical de PNS, e os que se mantém fieis à social democracia de Soares, como Sérgio Sousa Pinto ou Francisco Assis. O poder e o pragmatismo cínico de Costa construíram uma geringonça no interior do PS. Mas conseguirá o PS resistir a cisões e a fracturas se passar anos na oposição?

À radicalização ideológica também se juntou a incompetência, como mostra a novela trágica da TAP. PNS foi um ministro incompetente e demitiu-se. Galamba ainda consegue ser mais incompetente, e só continua no governo para proteger Costa – será a proteção mais perigosa da vida política do PM.

O PS pós-Costa terá uma tarefa tão importante como difícil: libertar-se do radicalismo incompetente, de uma cultura política que usa o poder sem qualquer tipo de escrúpulos. Conseguirá o PS voltar a ser um partido com um mínimo de decência democrática? Esta é uma das questões fundamentais para o futuro da democracia portuguesa.

Post Scriptium: As minhas felicitações ao Professor Cavaco Silva. Disse o que tinha de ser dito, e disse-o bem. Os socialistas e as esquerdas odeiam Cavaco por uma simples razão. Foi o único político português capaz de quebrar a hegemonia do PS na política portuguesa desde o 25 de Abril. O PS não perdoa aos que o afastam do poder.

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