Não há qualquer motivo racional que leve um partido a não ver na realização de um congresso em vésperas de eleições legislativas uma oportunidade de reforçar a sua liderança (reafirmando-a ou renovando-a), de fortalecer a sua mensagem, de projectar novos rostos e ideias, e de aumentar os níveis de paz interna diminuindo o ruído das alternativas perdedoras e, com isso, apresentar-se na melhor forma possível ao escrutínio e ao sufrágio dos portugueses.

O CDS, através do seu Conselho Nacional, decidiu levar às próximas legislativas uma liderança fragilizada, uma mensagem difusa e escondida atrás de caras incógnitas e de um clima de guerra civil que continuará a crescer, adiando sem data certa um congresso que fora antecipado por iniciativa de um presidente que se queixa há quase dois anos da actuação pouco colaborativa e leal da oposição interna e da escassez de oportunidade de se dar a conhecer e de passar a sua mensagem nos meios de comunicação tradicionais, e que agora não vê na reunião do órgão máximo do partido qualquer utilidade. Logo agora que há oportunidade para esse congresso ser mais útil do que nunca.

Consta que foi pelo interesse nacional e a bem do partido, como se o país ganhasse alguma coisa com um partido assim. O país ganha quando os portugueses têm a oportunidade de escolher entre várias alternativas com perspectivas de vitalidade, qualidade e futuro, e não alternativas onde reina o caos, a divisão e a indefinição quando ao que aí virá. E o partido ganha quando consegue passar a imagem de que é solução e não quando se percebe que está em dissolução.

Nas contas da mercearia interna ganham aqueles que, tentando adiar – em vez de evitar – a derrocada de um partido com cada vez menos alicerce, esperam um golpe de sorte para se remeterem novamente ao papel de PEV do PSD e, com isso, tentar uma nova oportunidade para cumprir o exercício sofrível de cantar vitória após mais um prego cravado no caixão em noite eleitoral.

Mas não ganham muito mais do que tempo para perceber que também essa estratégia só terá sucesso se todas as estrelas no céu decidirem alinhar-se: afinal, o único candidato à liderança do PSD que estará disposto a considerar a hipótese de dar guarida a um partido sem rei nem roque é aquele que menos probabilidades terá de conseguir um bom resultado; o outro candidato, se não mudar de opinião, parece disposto a deixar o CDS à sua sorte e a definhar sozinho até às eleições.

No fim, sobrará pouco. A liderança frágil estará derrotada; a representação parlamentar será ainda mais exígua; a mensagem e o programa passarão incógnitos; a oposição insípida será inconsequente; e o tumulto interno será cada vez mais significativo num partido com cada vez menos gente; a utilidade e a relevância de um partido fundador do regime terão sido postos em causa. Nesse dia, lembremos a decisão tomada num Conselho Nacional de legalidade duvidosa. E lembremos que nesse dia, em vésperas de um fim-de-semana de finados, o CDS correu o risco de fazer-se, definitivamente, defunto.

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