Votarei André Ventura por razões morais. A moral constitui o primado da ação e não vive em cima do muro. Ou decidimos estar de um lado ou do outro. Do lado certo ou do lado errado; do justo ou do injusto; do bem ou do mal; da autorresponsabilidade ou da vitimização. Sem tal preocupação, as escolhas políticas perdem a essência do seu sentido. Se a transição dos valores morais do abstrato para a vida prática implica interpretações subjetivas, até contraditórias sobre um mesmo objeto, muito evidente na política, ninguém de direita ou de esquerda dispensa o primado moral. Acontece que, no campo da direita no ativo em Portugal (para excluir Pedro Passos Coelho), André Ventura é o único que não se equilibra em cima do muro. A haver ambiguidades, as mesmas jamais se situam a nível moral, apenas num nível (muito) inferior, o das práticas políticas. Portanto, André Ventura parte em vantagem no seu campo político. Só quando não acreditamos nos valores morais que nos guiam é que temos dúvidas sobre a virtude das nossas escolhas e, nesse caso, policiamo-nos a nós mesmos para sermos moderados ou ponderados. Daí passarmos a exigir, à cabeça, nunca sermos da direita (o campo moral), mas no máximo da direita-moderada ou do centro-direita (o campo das práticas). Fazendo uma inferência, hoje os portugueses não podem admitir ser moralmente portugueses, no máximo admite-se que sejam politicamente portugueses-moderados ou centro-portugueses. Trata-se de uma subversão patológica de certas identidades coletivas. Para clarificar, a inteligência, a beleza, a santidade ou a saúde nunca devem ser ambições sociais moderadas pelo seu valor intrínseco. Imagine o contrário de tudo isso. É a definição substantiva com que uma pessoa moralmente de direita rotula todas as pessoas de esquerda, e vice-versa. Então, por que razões não serei radicalmente de direita?! Por que razões a direita se recusa a fazer à esquerda aquilo que a esquerda, há muito, já fez à direita? Aprenda-se com Olavo de Carvalho. De resto, para elucidar, escudar-se no racismo para qualquer demarcação em relação a André Ventura é uma atitude alimentada pelo ativismo idiota, o dos que transportam um cadáver do passado para o presente, e pelos idiotas passivos, os que toleram a trapaça. O primeiro-ministro e a ministra da Justiça portugueses, aos quais sobrava e bastava o que fazem há décadas e meia década, respetivamente, já foram corridos? O Marega já regressou milionário ao seu paraíso africano? E, claro, os ciganos constituem, sem dúvida, uma comunidade exemplar!

Votarei André Ventura contra a espiral do silêncio. A tradição leninista inaugurou e legou a estratégia de atacar o adversário direitista por todos os meios e mais alguns, recorrendo sem hesitações à manipulação e à mentira para reverter para o próprio adversário as culpas da violência que o atinge. É desse modo que a esquerda explora a dignidade dos demais concidadãos ultrapassando todos os limites, uma vez que o fundo moral judaico-cristão dos últimos se encarrega de retirar aos próprios a vontade de lutar pelo que acreditam e, inclusive, a vontade de argumentar em sua própria defesa, mesmo quando absolutamente conscientes da maldade perversa definidora de qualquer sujeito de esquerda. Resta ao sujeito moral da tradição judaico-cristã submeter-se à espiral do silêncio, uma vez que mantém a esperança da redenção no dia em que se juntar ao Criador. Acontece que a democracia existe para a vida terrena. Olavo de Carvalho, sempre ele, explica essa tortura autoinfligida que escandalosamente entregou o domínio das sociedades à esquerda. Em Portugal, o CDS-PP e, muito em especial, o PSD de Rui Rio cumprem o guião à risca. O poder nas suas mãos serve de exímio silenciador de sensibilidades morais de metade dos portugueses, atitude que faz dessa direita não-combativa a coveira da democracia, a alma gémea da esquerda hegemónica. No topo da pirâmide da tortura leninista da espiral do silêncio está o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A vida vivida não é determinada pelas intenções dos grandes protagonistas políticos, antes pelas consequências efetivas das suas ações que, muitas vezes, são paradoxais em relação às mais nobres intenções. André Ventura é novidade por ter iniciado o combate à espiral do silêncio. Muito mais do que política, essa é uma questão social da maior relevância. Quem representa tal papel merece votos de confiança depositados nas urnas, selos do contrato social.

Votarei André Ventura pelo civismo inteligente e responsável. Numa sociedade sã, ter-se-iam discutido com frontalidade as razões morais e intelectuais de Portugal não se conseguir libertar da condição de um dos países mais pobres da Europa, situação evidente há pelo menos duas décadas. Para que tal tivesse sido ou venha a ser possível, as discussões institucionais e públicas não deveriam partir de meros artigos de imprensa, debates nas rádios e televisões, postagens na internet, do disse-que-disse efémero. Para ser sólido e sustentável no tempo, o civismo deve partir e centrar-se em livros cujos autores assumam posições cívicas e políticas sustentadas, a forma de clarificar e tornar férteis os debates institucionais e públicos. Sem a abertura do espaço mediático à centralidade do livro, as sociedades limitam-se a abortos intelectuais terceiro-mundistas. Por sucessivas experiências próprias entre 2003 e 2019, esse é o retrato do que se chama civismo em Portugal. O ódio preconceituoso ao livro cujo autor e conteúdo caiam fora da cartilha mental autorizada, justamente o livro que instiga o debate público qualificado, transformou toda a formidável porcaria intelectual produzida pela esquerda numa espécie de catecismo bíblico do regime. Da esquerda à direita todos lhe são subservientes. Praticamente ninguém se atreve a criticar obras medíocres de José Saramago, Eduardo Lourenço ou José Gil, entre tantos outros, incluindo músicos ou artistas que monopolizam a sensibilidade social do calibre de Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, Virgílio Castelo, Pedro Abrunhosa e até um que quase desconheço, um tal Dino D’Santiago, que virou luminosidade intelectual ritmada. Exemplos de cabeças que dominam o panorama nacional através da exímia arte do discurso cuja qualidade é diretamente proporcional à ausência de contactos minimamente razoáveis com a complexidade da vida vivida. São, por isso, cabeças instigadoras da pior patologia mental socialmente transmissível, a que cruza, por um lado, a incapacidade de lidar com ideias contraditórias ambas válidas mesmo que de sentidos diferentes (por exemplo, os direitos serem consequências diretas do cumprimento de deveres) com, por outro lado, um défice crónico agravado da parte da memória social que não lhes agrada ou, em sentido contrário, da hiperbolização da parte que lhes agrada. De forma subtil ou ostensiva, bela ou chã de Saramago a D’Santiago tudo se resume a isto: Reis-maus-I-República-boa-Salazar-mau-25-de-Abril-bom-Ventura-mau-Vem-aí-o-fim-do-mundo. Em rigor, são cabeças histéricas porque pensam e ensinam a pensar apenas no plano dos desejos e nunca a partir do que, de facto, existiu ou existe, do domínio do possível. A tais cabeças se devem sociedades imbecilizadas e, por isso, pobres. André Ventura, como qualquer agente renovador, deveria ter sido o ponto de chegada de um amplo, intenso, frontal e prolongado debate intelectual e cívico livre. Mas nem na iminência da mudança política as elites portuguesas se predispõem a admitir que a sociedade possa pensar em liberdade, um bocadito que seja. São elites bem-pensantes que espelham o falhanço de toda uma geração incapaz de gerar, em quatro décadas, um único intelectual, muito menos um único sábio com capacidade para instigar, na opinião pública portuguesa, uma tradição mínima de civismo intelectual. Para agravar a desgraça, nos meios universitários a situação é bem pior.

Votarei André Ventura contra a sociedade da mentira institucionalizada. Cinismo é palavra mansa. É mesmo mentira. É contra esta que André Ventura veio municiar sensibilidades sociais até agora manietadas. Quem pegar nos manuais de história do ensino básico e secundário – poderia ser de outra disciplina – não necessita de grande esforço para detetar o que, na verdade, têm significado a massificação da formação moral, cívica ou intelectual imposta pelo Estado. No ensino do colonialismo (termo a banir de qualquer conversa decente), matéria transversal à história e identidade portuguesas, a seletividade na relação com a verdade – quero dizer, a mentira – tem passado por forçar sucessivas gerações de alunos a ignorarem o legado construtivo da colonização europeia, utilizando-os como cobaias na fixação obsessiva apenas no que foi violento ou injusto. A sala de aula é a fábrica mental do desvio funcional depressivo da memória coletiva. Como não existe descontinuidade entre indivíduo e coletivo, experimente o leitor viver obcecado apenas com as desgraças e misérias da sua vida pretérita e, depois, é contar os dias até começar a consumir antidepressivos, virar alcoólico, toxicodependente, violento, miserável, prostituto mental (ou mais do que isso), o pior que imagina. Claro, se não for rapidamente tratado. Os donos atuais da memória institucional impõem o mesmo na versão coletiva massificada, e sem qualquer travão terapêutico há décadas. Veja-se ainda como os manuais escolares omitem o genocídio comunista de Holodomor, na Ucrânia, ou o genocídio maoista chinês, um antes e outro após o justo ensino aprofundado do nazismo, porém aqueles foram bem mais mortíferos comparativamente ao último e em tempos de paz. Genocídio do próprio povo indefeso em tempos de paz foi a moda inaugurada pelos regimes do século XX com direito a proteção intelectual nas salas de aula, ao contrário do horroroso Ocidente. Experimente o leitor um outro exercício: um governo que mais reduziu, ao longo da história, o analfabetismo do seu povo, é bom ou mau? Um governo que pegou num país em bancarrota e pô-lo a crescer economicamente como nunca desde que existem estatísticas económicas, é bom ou mau? Um governo que pegou em territórios que eram pouco menos que matos e transformou-os nos territórios mais prósperos das respetivas regiões, é bom ou mau? Tudo isso também foi a salazarismo (1928-1968). Omiti-lo é mentir sobre o óbvio, e nada justifica distinguir o ensino desse período da história do ensino do tempo do Marquês de Pombal (1750-1777). Se é vergonha ter sido salazarista jamais será pelas razões referidas, antes pela repressão e violência políticas. Porém, vergonha bem maior é ter sido comunista quando a história fornece argumentos morais inequívocos para interditar o comunismo. Sabe-se tudo isso há décadas e nada de sério se discutiu publicamente, nada de substantivo se corrigiu enquanto se (de)formava a geração mais qualificada de sempre. Uma classe política responsável por isso não tem de ser renovada?

Votarei André Ventura porque civismo e coragem podem ser sinónimos. A frontalidade de quem se assume de direita, indispensável à saúde das democracias e corajosa quando solitária, deixa sempre a esquerda aflita. A cada dia, nem a fidelíssima comunicação social consegue continuar a disfarçar o impacto de André Ventura. Será possível romper com a tirania mental mantendo as formalidades, hábitos, vocabulário, leis e normas dos tiranos? Arriscar ao nível da linguagem, dos comportamentos ou das práticas no quadro moral em que se acredita constitui a única possibilidade de regate da dignidade. André Ventura representa justamente isso. Na avaliação da sua atuação, e por norma na avaliação da vida, trocar o acessório pelo essencial é a arte dos idiotas.

Caro leitor, se comprovar com contra-argumentos que estou errado, estarei disposto a rever a minha posição sobre as eleições presidenciais de 2021.

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