É uma das mais vastas remodelações de um Governo desde que vivemos em democracia.

Desgastado com os inúmeros casos a envolverem os seus ministros, António Costa faz uma limpeza ao Governo para tentar recuperar da queda nas sondagens e ganhar um novo fôlego para o que resta da legislatura.

O timing escolhido tem a ver com o fim da presidência portuguesa da União Europeia e com a aproximação da difícil negociação do próximo Orçamento.

Numa altura em que a pressão dos partidos da oposição, do Presidente da República e da comunicação social começavam a ser difíceis de aguentar, o Primeiro-Ministro jogou a cartada da remodelação para tentar acalmar os ânimos. António Costa viu-se obrigado a fazer uma remodelação radical para responder ao mal-estar que vinha em crescendo no país.

Com as saídas de Francisca Van Dunem, Tiago Brandão Rodrigues, Pedro Nuno Santos, Eduardo Cabrita e Alexandra Leitão, o Primeiro-Ministro procura dar sinais de que o Governo vai procurar corrigir erros considerados intoleráveis.

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Em tempo de mudanças, vale a pena lembrar os principais casos que levaram às substituições no Governo: o estranho caso da falsificação de um currículo para conseguir a nomeação de um juiz para o Tribunal Europeu; o fracasso do ministro da Educação na preparação de mais um ano letivo em tempo Covid e a forma como inadvertidamente decidiu mudar currículos de forma ideológica nas costas da comunidade escolar e sem consulta a especialistas; a desastrosa gestão do dossier da TAP que mais uma vez vai custar muitos milhões aos contribuintes; os mil e um casos em que o ministro da Administração Interna esteve envolvido, culminando numa história nebulosa de um atropelamento com consequências fatais para um cidadão; a ocupação da administração pública pelo aparelho socialista, ignorando regras de acesso aos cargos e de manifesta incompatibilidade para a função.

Ups! Afinal é sonho. Afinal este não é um país normal nem vivemos numa democracia saudável. O regime foi atingido por um vírus que o deixou incapaz de produzir anticorpos e defesas contra a doença. Este é um vírus que afeta particularmente a vista e a memória. Cada novo caso faz esquecer o caso anterior. A oposição está fraquinha, fraquinha. Já nem consegue encontrar forças para reagir a atropelos e facadas à democracia que noutros tempos eram ocasião para ganhar força e poder. De um lado há problemas graves de identidade, do outro há medo de perder influência e acesso ao poder.

Marta Temido desta vez escapou à remodelação, mas depois do confuso e tortuoso processo de combate à pandemia, não se espera que lhe reste energia para combater mais este vírus que afeta o país político.

O Presidente da República tem tentado escapar ao vírus, mas, na ausência de uma reação vigorosa da oposição, são cada vez mais os que esperam de Belém um sinal de que a doença não afetou ainda todo o regime. A distância de segurança que tem conseguido manter da restante classe política faz-nos suspeitar que Marcelo Rebelo de Sousa ainda não está infetado com este novo vírus. Mas já se sabe, temos que esperar 14 dias para ver se se confirma que o Presidente está saudável.