Tirando os líderes partidários e os candidatos às próximas eleições autárquicas, poucas pessoas se preocuparão neste momento com o assunto. Daqui até ao fim de Setembro ainda falta muito e há uma infinidade de problemas em que pensar. O primeiro-ministro garante que no fim do Verão estará tudo «normal»: resta saber se isso é bom ou mau… Com efeito, o que mais nos tem preocupado é, obviamente, a evolução da pandemia e, a seguir, as actividades dos dirigentes políticos – o governo PS e os seus aliados; a volubilidade do presidente da República; e finalmente, a série de movimentos partidários que não sabem para onde se virar (o PSD) ou estão já em vias de desaparecimento (o CDS), sem falar dos que ora sobem ora baixam nas sondagens!

Dito isso, sucessivos incidentes caseiros continuam a agitar o restrito mundo da política onde é o dinheiro que comanda, desde a banca ao futebol e à «cultura», sem esquecer as grandes empresas estatais e paraestatais ameaçadas de falência, como a TAP e não só. Simultaneamente, inúmeros agentes conhecidos da política doméstica revelam comportar-se de forma tão imprópria que o 1.º ministro e o próprio PR não ousam afastá-los da cena pública como a pressão popular desejaria, conforme ditam as sondagens.

Tais incidentes, como os provocados por esse personagem que é o ministro Cabrita, são outras tantas demonstrações do esgotamento da fórmula da «geringonça» inventada pelo líder do PS vai para seis anos. Hoje, quando o PCP e/ou o BE apoiam o governo no parlamento, já todos sabemos que isso terá bem cedo um alto preço a pagar! Na sequência de Guterres (1995-2002) e Sócrates (2005-2011), isto é, doze anos de governos dos quais o actual primeiro-ministro foi membro activo. o PS continua desde 2015 até hoje a dominar o país, num total de quase vinte anos de estatismo, clientelismo, estagnação económica e crise financeira, apesar de o país andar desde então ao colo da UE!

Finalmente, quanto ao pouco que sabemos do plano aprovado pela dita UE, este só traz dinheiro que não custou a ganhar e, como tal, não é o governo actual que saberá investi-lo produtivamente a longo-prazo mas não deixando de se substituir assim à iniciativa privada. Entretanto, o que aumentará de certeza ao cabo dos sucessivos reinados socialistas é o custo dos corpos administrativos das empresas do Estado. Por natureza, o PS só sabe gastar naquilo que traz votos… e empregos na função pública! Quanto à actual equipa governamental, esta é tanto mais inútil quanto gigantesca, mas o 1.º ministro não se atreve a mudá-la pois teme com razão que a próxima vaga de governantes seja ainda pior que a primeira como costuma acontecer!

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É neste quadro nada auspicioso que o PS pretende aumentar mais ainda o seu controle sobre as autarquias, ao mesmo tempo que volta à onerosa mistificação regionalista. A ameaça de extinção do CDS, liquidado por «leaders» tão vacilantes e inócuos como o falecido Freitas do Amaral ou Paulo Portas, corresponderia a entregar todas as antigas províncias do país ao PS e uma ou outra migalha ao PSD, em troca da ausência de oposição que Rui Rio tem garantido a António Costa desde o recuado tempo da primitiva «Quadratura do Círculo»!

Perante este negro quadro da política à portuguesa, restam duas coisas. A primeira é continuar a pressionar o governo quanto à pandemia, começando por desmistificar a situação dos idosos recolhidos nas «Instituições de Caridade» presididas pelo Padre Lino Maia. A segunda é desmistificar, por sua vez, o caracter populista e clientelar das eleições autárquicas nas quais os candidatos prometem mundos e fundos, incluindo eventuais sobras da futura «bazuca», que têm tantas probabilidades de se tornar realidade quanto as gestões anteriores!

O caso de Lisboa é paradigmático. Estou bem colocado para saber que tanto o anterior presidente como o actual ignoraram o estudo que eles próprios apoiaram sobre o gravíssimo problema do envelhecimento da população da capital. Lisboa é, com efeito, a cidade simultaneamente mais rica mas também a mais envelhecida do país, o que não é de resto uma contradição, antes pelo contrário. Contudo, a câmara PS mais não fez, em quase década e meia (2007-2021), do que promover a especulação imobiliária e a construção civil, assim como o turismo de pé-descalço.

Quanto ao processo de envelhecimento, as políticas possíveis para o contrariar foram entregues à Misericórdia de Lisboa, um caso muito especial de patrocínio estatal, mas são subcontratadas às pretensas instituições sem fins lucrativos. O mais decisivo, contudo, seria a criação maciça de creches públicas devidamente monitorizadas, as quais contribuiriam sem dúvida para repovoar a cidade de crianças… mas isso não agrada aos particulares a que o Estado entregou o problema, porventura, o mais grave do país… Seria tempo, pois, de confrontar o monopólio exercido pelo PS na capital. Falaremos disso em breve.