Votar em eleições políticas é como participar num sacramento da Igreja. Muitos católicos só se lembram que o são quando calham de ir a um batizado ou casamento. E muitos cidadãos só se lembram que vivem num Estado democrático quando são chamados a exercer o dever cívico do voto.

Se muitos portugueses são católicos não praticantes, também bastantes são democratas não praticantes. Mantêm-se indiferentes e só de vez em quando, em ocasiões especiais, dão sinal de vida. As eleições e os sacramentos são, portanto, rituais da política e da religião (respetivamente) que, quando mais não seja, servem para mostrar às pessoas que elas estão no meio de um emaranhado social maior do que as vivências imediatas dos seus quotidianos.

É um direito individual a atitude que se tem perante a religião e a política. Quanto à primeira, muitos autores identificam a secularização como tendência de perda da importância social da Igreja. Por sua vez, relativamente à política, não se pode dizer o mesmo: independentemente do grau de atenção que se lhe dá, ela impacta a vida de todos os cidadãos e a estrutura do país. Por isso, agir como se a política só existisse em períodos eleitorais é abdicar de considerar toda a amplitude da sua atividade, é ignorar o seu desenrolar. Sejamos democratas atentos constantemente e não apenas quando surge o momento protocolar: só assim estaremos mais conscientes no ato solene do voto. Aproveitemos, ao longo dos mandatos, a informação livre e o escrutínio como belas vantagens do regime democrático. Porque não basta votar.

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