Está estudado que as novas gerações vão ter em média 25 actividades ao longo da vida. Pelo menos, porque podem ser muito mais. Alguns farão 50 coisas diferentes ao longo da sua carreira profissional. Parece impossível, mas é a realidade-real. Podem ser actividades numa lógica sequencial ou disruptiva, o que quer dizer que muitos jovens licenciados em Economia ou Direito, por exemplo, podem demorar anos até exercerem em pleno a profissão em que apostaram e para a qual se prepararam academicamente. Aqui entre nós, até podem nunca chegar a ser advogados ou economistas no sentido estrito do termo. A grande certeza é que todos vamos evoluir através de períodos de actividade e inactividade. De emprego e desemprego.

As estatísticas dos comportamentalistas ajudam a visualizar esta nova geografia social. E a interiorizar um novo mapa-mundo do trabalho e da progressão nas carreiras. Sabemos que já não há empregos para a vida, mas ainda não acabámos de perceber que o desemprego também pode ser um passo na carreira. Ficar desempregado continua a ser muito dramático para muitos, bem sei, até porque passei por isso durante três longos e dolorosos anos seguidos, mas percebi por experiência própria que hoje em dia somos obrigados a reinventar-nos, a procurar em nós outros recursos e a apostar noutras competências. Só assim ficamos aptos a identificar novos desafios e a agarrar novas oportunidades, mesmo quando implicam ganhar muitíssimo menos e trabalhar infinitamente mais. Também conheço essa realidade, mas o facto de entrevistar dezenas, centenas de pessoas que passam pelo mesmo e estão a conseguir dar a volta, reforça a minha convicção de que todos estamos expostos a esta mesma vulnerabilidade e que ela nos faz perceber que estar empregado ou desempregado passou a ser para sempre um estado transitório.

Assim sendo, a terminologia porventura mais ajustada aos tempos que correm deixou de ser ‘emprego-desemprego’, para passar a ser ‘entre-projectos’. Tento passar esta nova terminologia aos meus alunos de Comunicação, Liderança e Ética nas Universidades onde dou aulas, e onde tenho mais de 500 alunos por ano, por me parecer mais construtiva. Sei que a atitude dos outros muda quando lhes dizemos que estamos desempregados. Ficam contristados, meio aflitos, e de repente sem nada para dizer a não ser banalidades. Isto, claro, quando do lado de lá prevalece a compaixão. Mas pode ser ainda pior e a nossa confissão de desemprego gerar dúvida, desprezo e aquela distância dos arrogantes que acham que a eles nunca acontecerá tal coisa. Para lidar com esta atitude assassina não existem fórmulas nem solução, pois haverá sempre quem esteja pronto a condenar ainda mais aqueles que já se sentem condenados. Para os outros, os que estão mais inclinados a manter o diálogo e a abertura, posso garantir que se em vez de dizermos que estamos desempregados, lhes dissermos que estamos ‘entre projectos’ a conversa flui com outra naturalidade e interesse. Perguntam sempre de que projectos falamos, e se por acaso não sabemos qual o projecto que se segue (coisa que realmente acontece quando estamos desempregados), podemos sempre falar do projecto em que trabalhamos no passado, do emprego que já tivemos, da nossa área de especialidade ou do curso que tiramos e, tão importante como isto, daquilo que gostaríamos de vir a fazer. Parece simples demais? Experimentem e vejam as reacções.

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