Há cada vez mais malta a escarafunchar a história do work life balance.
Juro que até os percebo. Em teoria. E depois, na prática, não os percebo.
De cada vez que alguém que me vem com a história de que se devem criar fronteiras claras entre os vários departamentos da vida começo a ficar preocupado. E quanto me dizem que não a partir de certa hora começo a ficar ainda mais preocupado.
Uma coisa é priorizar e delegar tarefas. E delegar bem é fundamental para equilibrar a minha carga de trabalho.
O tempo, como frequentemente me dizem que devo gerir, não se gere. O tempo é inexorável. 24/7 e acontece sempre da mesma forma. É ao contrário. Tenho é de gerir o meu esforço e concentração e foco dentro deste tempo. Isto sim, este esforço traz-me produtividade.
Claro que as férias são essenciais. Claro que os short breaks são fundamentais desde que não se tornem em meias horas consecutivas de conversa de nada e para nada. Claro que os breaks são importantes para relaxar e que as férias devem ser para desconectar. A minha saúde mental deve estar fit.
Claro que devo preocupar-me comigo próprio, fazer exercício físico e tomar conta do meu bem-estar. Claro que devo relaxar para reduzir o stress, fazer se possível alguma meditação e despender algum tempo com amigos. Sobretudo rir muito. E rir muito de mim mesmo. Sinal de inteligência.
Andar sempre a comunicar as minhas necessidades de work life balance parece-me uma paranoia. Como há várias outras. Há pessoas que parece que têm um relógio interior. Pode ser por boas razões, ou porque têm transportes que não esperam ou alguém à espera. Mas pode ser pelas piores razões. Apenas porque têm que cumprir o seu work life balance. E tornam isso uma paranoia total.
Claro que é importante saber dizer não. Há formas e formas de dizer não. Mas é importante saber dizer não. Mas o saber dizer não, não passar por estar sempre a dizer não. E sobretudo empurrar a carga para cima de outros.
Claro que é importante desligar da tecnologia e não passar o dia ligado ao telemóvel ou a outra expressão tecnológica que nos consome. Adição, também. E muitas vezes só para ter caixa vazia ou para conseguir dizer que tal faz parte do meu work time balance.
Dizem-me que precisam de tempo para se focarem em atividades pessoais. Depois pergunto que atividades pessoais? Normalmente não me sabem responder a não ser que tenham filhos pequenos ou pais para tratar. Tudo o resto é quase sempre bullshit.
E porque me preocupa tudo isto?
Porque as pessoas são tão asséticas que não sabem o que é estar apaixonado. Nem por uma pessoa nem pelo trabalho ou por um projeto. E isso é absolutamente confrangedor.
A paixão não tem work life balance. Não se balanceia nada. Os melhores vendedores que conheci na vida desequilibravam tudo para uma vitória. E quando venciam, aí sim, respiravam e festejavam a sua alegria. Os melhores professores idem. Os melhores médicos idem. Os melhores advogados idem. E podia ir por aqui fora.
O que mais me custa nisto tudo é que ninguém se apaixona por nada. São vidas assépticas que não preenchem ninguém. É absolutamente necessário explicar a uma pessoa qualquer obcecada com o work life balance que não está a viver. Nem está apaixonado. Nem por alguém nem pelo trabalho.
Adorava ter apenas pessoas comigo que fossem apaixonadas. Que estivessem apaixonadas. Que o dia não fosse um horário. Que se fixassem em vitórias mesmo tendo de suplantar derrotas. Pelas alegrias de poder comemorar depois de um esforço grande. Pelas conquistas.
Porém, temo que o work life balance imponha limites a tudo. À paixão pelo que se faz. À paixão por alguém. À paixão. Ponto. Se te apaixonas e sais com alguém voltas a casa às 11 horas porque tens de dormir e cumprir o teu work life balance? Pois com o trabalho é a mesma coisa. Sem exagerar, com ponderação, nada há de melhor do que estar apaixonado. E fazer acontecer.
Tudo o resto é apenas um daqueles bolos com ótimo aspeto mas que sabem a nada por não terem açúcar. Ou como um bacalhau à Brás sem sal. Tristeza de vidas que se conseguem com esta maluquice extremada do work life balance.
Um dia hás-de acordar e olhar para trás e fazer um balanço. E chegarás à conclusão que tiveste empregos mas nunca paixões. Que fizeste trabalhos mas nunca conheceste o sabor suado da vitória. Aí estarás mesmo velho. Ou sempre foste velho a vida toda. Que vidas tristes. Ou que tristes vidas.