Há uma expressão que temos ouvido regularmente: “Vivemos no novo normal”.

Este novo normal que nos empurrou para o teletrabalho, que nos mantém ligados uns aos outros através de ecrãs, mas que também nos obriga a ser criativos na tentativa de quebrar a distância física e a descobrir, todos os dias, novas formas de comunicar.

Sim, neste novo normal é preciso que cada um de nós aperfeiçoe a competência da comunicação, porque só sendo bons comunicadores conseguimos alinhar, motivar e inspirar as pessoas à nossa volta.

Precisamos de mais foco e objetividade nas nossas interações (e que se sucedem ao longo do dia num ritmo frenético, em reuniões, calls, webinars), mas também precisamos de mais empatia e sensibilidade para ler os sinais que, no remoto, podem ficar escondidos.

Precisamos de nos preocupar mais com as pessoas, de perguntar mais vezes “como estás?” e de inspirar e motivar como um grande líder faz, mesmo que não sejamos líderes formais.

Como profissional de rádio e como formadora e consultora na àrea da comunicação, posso dizer-lhe que encontro na rádio, pelas características que lhe são intrínsecas, um exemplo a seguir. Há princípios que um locutor de rádio usa diariamente que podem ser aplicados à comunicação remota, tornando-a mais objetiva, mais clara e mais humana.

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Na rádio, o tempo é escasso e isso obriga-nos a usá-lo com muito mais disciplina e rigor.

Lembro-me que um dos primeiros conselhos que me deram, nos idos anos 90 do século passado, quando integrei uma rádio local no Algarve: “Nunca abras o microfone sem pensares antes no que vais dizer.” E nunca mais abri. Nem microfones, nem reuniões, nem palestras ou apresentações. No entanto, ainda assisto a muitas interações remotas sem estrutura ou com uma agenda pouco clara, que anda para a frente e para trás, desfocando do que é essencial. No novo normal não há atenção nem foco que resista a isto.

Na rádio não temos imagem, apenas voz. Isso leva-nos a contar mais histórias, a partilhar experiências, a levar para a comunicação não apenas informação factual, mas toda uma dimensão humana que permite revelar a pessoa que temos diante de nós ou, neste caso, atrás do microfone.

Muitas vezes, quando oriento uma formação, dizem-me que é difícil, no remoto, comunicar sem ver a audiência, como acontece por vezes quando todos teimam em desligar as câmaras.

“Que estranho que é e que desconfortável que fico”, desabafam.

E eu respondo sempre: “Bem-vindos ao mundo da rádio.” Esse é o habitat de um locutor de rádio: comunicar às cegas. A solução para este desconforto passa por – numa primeira fase – aperfeiçoar a comunicação: adquirir técnicas que aumentem a capacidade de síntese, que ajudem a promover a interação dos participantes e depois – numa segunda fase – confiar (mesmo sem ver) que a audiência está lá e que está a compreender, que estamos a conseguir alcançar o objetivo a que nos propusemos com aquela interação. Sim, cada pessoa, independentemente das funções que ocupa numa organização, é chamada, neste contexto de comunicação remota, a resgatar o apresentador de rádio ou TV que há dentro de si.

E não há mal nisso, antes pelo contrário. Aprendemos mais quando nos divertimos do que quando estamos aborrecidos e entediados.

Por isso coloque nas palavras e na voz toda a emoção e dinamismo para que a mensagem chegue a todos. Dê primazia à simplicidade e valorize o tempo precioso de quem está atrás do ecrã. Faça com que todos os participantes se sintam mesmo participantes ativos na experiência.

Acredito que interações remotas podem ser tão ou mais produtivas e gratificantes quanto as presenciais, mas devemos ter em conta que o tempo é um bem escasso; a interação é o caminho para manter as pessoas atentas e interessadas e que comunicar é muito mais do que transmitir informação.